Países europeus são os mais ameaçados pelo Daesh

O grupo jihadista tentou, ou consumou, mais de meia centena de atentados na Europa este ano, e está a diversificar os seus alvos, diz relatório de think tank americano.

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França foi o país onde pela primeira vez um camião foi usado como arma para um atentado de grande escala – em Nice LUSA/CHRISTIAN HARTMANN / POOL

Um relatório do Instituto para o Estudo da Guerra, um think tank com sede em Washington, fez um levantamento dos ataques do Daesh na Europa desde 2014, e conclui que só em 2017, até 14 de Setembro, houve 54 na Europa, entre tentativas e concretizações, vários deles com camiões ou outros veículos, como em Nova Iorque. A ameaça terrorista não recuou por ter sido recuperado o território que o Daesh controlava na Síria e no Iraque, nem por alguns países imporem leis mais repressivas.

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Um relatório do Instituto para o Estudo da Guerra, um think tank com sede em Washington, fez um levantamento dos ataques do Daesh na Europa desde 2014, e conclui que só em 2017, até 14 de Setembro, houve 54 na Europa, entre tentativas e concretizações, vários deles com camiões ou outros veículos, como em Nova Iorque. A ameaça terrorista não recuou por ter sido recuperado o território que o Daesh controlava na Síria e no Iraque, nem por alguns países imporem leis mais repressivas.

O continente europeu tem sido a principal vítima do Daesh fora do Médio Oriente: por comparação, outro investigador, Alexander Meleagrou-Hitchens, director do Programa de Extremismo da Universidade George Washington, diz que houve 18 ataques inspirados pelo Daesh nos EUA desde Setembro de 2014, noticia a Reuters.

“O Daesh continua a planear, fornecer recursos e executar ataques a partir dos seus centros seguros na Síria, Iraque e Líbia. Expandiu a sua campanha de ataques coordenados na Europa para atingir o Reino Unido e Espanha. O aumento de ataques inspirados pelo Daesh na Suécia e na Finlândia pode ser um sinal da receptividade da actividade online dirigida a populações vulneráveis nestes países”, escrevem Jennifer Cafarella e Jason Zhou, os autores do artigo.

Esta quarta-feira, França levantou o estado de emergência, dois anos depois da série de atentados terroristas que semeou o terror na noite de Paris a 13 de Novembro em 2015, matando 130 pessoas. França foi o país onde pela primeira vez um camião foi usado como arma para um atentado de grande escala – em Nice, no feriado nacional de 14 de Julho de 2016 –, e continua a haver regularmente alertas.

Aumentar

Por isso, se manteve o estado de emergência, que agora é substituído por uma lei antiterrorismo com poderes reforçados para a segurança interna e redução das garantias dos cidadãos face à justiça. Torna normais as buscas sem mandado ou as prisões domiciliárias para investigação de um suspeito, por exemplo. Mas 80% dos franceses apoiam esta nova lei.

Outros países europeus passaram a viver sob o fantasma do terrorismo, como a Bélgica, após o ataque ao aeroporto e ao Metro de 22 de Maio de 2016. A actividade do Daesh na Bélgica, um dos países que, em termos proporcionais, mais combatentes enviou para a guerra na Síria, parece ter diminuído. “Mas o Daesh pode estar a usar as suas redes na Bélgica para prestar apoio a células terroristas que se prepararam para atacar noutros locais na Europa”, avisam Cafarella e Zhou.

Gilles de Kerchove, o coordenador da luta antiterrorismo da União Europeia, disse em Setembro ao jornal alemão Die Welt que o Daesh terá ainda cerca de 2500 combatentes europeus nas suas fileiras – cerca de metade do que chegou a ter. Outros 1500 terão regressado aos seus países, na Europa, e mil terão morrido. Alguns terão fugido para outros países, como a Somália ou o Iémen. Estimativas oficiais dos EUA apontam para que restem cerca de 13 mil combatentes na Síria e no Iraque.

Cafarella e Zhou sublinham que o sucesso das operações contra o Daesh não tem sido extraordinário. “É pouco provável que a coligação anti-Daesh desmantele a sua rede global de ataque sem alargar as suas operações”, escrevem. Para além de libertar cidades, tem de ir atrás dos jihadistas nos seus refúgios no deserto, em meios rurais.

Além disso, os países da aliança anti-Daesh devem preocupar-se com os receios sunitas, que vêem os EUA e os países europeus como estando “alinhados com o Irão e com o regime de Assad, contra as populações sunitas no Iraque e na Síria”, escrevem Cafarella e Zhou. O sentimento crescente contra os imigrantes muçulmanos na Europa e nos EUA – do qual o Presidente Donald Trump tem sido um expoente – “continuará a alimentar a tolerância e um certo crescimento do apoio ao Daesh (e à Al-Qaeda)”.