Do novo líder da Fed espera-se a mesma estratégia nos juros

Janet Yellen não é reconduzida, mas nos mercados não se esperam mudanças significativas na política monetária seguida nos EUA

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Reuters/CARLOS BARRIA

Continuação da política de subida prudente das taxas de juro e abertura moderada a uma redução dos constrangimentos regulatórios impostos à banca durante a crise. É isto que se espera do nome escolhido por Donald Trump para substituir Janet Yellen à frente da Reserva Federal norte-americana (Fed).

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Continuação da política de subida prudente das taxas de juro e abertura moderada a uma redução dos constrangimentos regulatórios impostos à banca durante a crise. É isto que se espera do nome escolhido por Donald Trump para substituir Janet Yellen à frente da Reserva Federal norte-americana (Fed).

A escolha foi anunciada esta quinta-feira na Casa Branca pelo presidente dos Estados Unidos e coloca à frente da autoridade monetária dos Estados Unidos alguém que, como membro do conselho de governadores da Fed nos últimos cinco anos, acumulou experiência para ocupar o cargo e demonstrou, ao nível da política monetária, estar em sintonia com a actual presidente. Adivinha-se que as maiores diferenças possam surgir em relação à política de regulação da banca, onde se aposta que Powell possa ser menos exigente que Yellen, embora de forma moderada.

Ao não nomear Janet Yellen para um segundo mandato, Donald Trump quebrou a tradição seguida em relação aos três últimos presidentes da Fed. Todos eles cumpriram pelo menos um segundo mandato, tendo sido nomeados por presidentes, tanto democratas como republicanos. Janet Yellen tinha sido nomeada por Barack Obama, sendo a primeira mulher a ocupar o cargo.

Trump, que, na passada quarta-feira, classificou Janet Yellen de “excelente”, optou por colocar no seu lugar Jerome Powell, alguém que, para além de fazer parte do conselho de governadores da Fed desde 2012, tem uma carreira marcada pela sua forte ligação ao Partido Republicano e ao sector financeiro.

A expectativa nos mercados em relação a Jerome Powell é a de que venha a manter, ao nível da política monetária, um rumo bastante semelhante ao seguido por Yellen. Nos últimos anos, Powell tem estado entre os apoiantes internos, nos votos e nas suas declarações públicas, da linha que tem sido seguida pela Fed. A autoridade monetária norte-americana tem optado por uma subida progressiva e moderada das taxas de juro.

Durante a crise financeira internacional, a Fed tinha colocado as suas taxas de juro a zero e lançado um programa nunca visto de compra de activos nos mercados financeiros, para estimular a economia e impedir a entrada em deflação. Em 2015, com a economia a recuperar, iniciou (já depois de dar por concluído o programa de compras de activos) um processo de regresso das taxas de juro a valores mais elevados, à medida que a taxa de desemprego ia caindo. No entanto, o facto de, no pós crise, o crescimento da economia ser bem mais lento do que em ocasiões semelhantes anteriores e de a taxa de inflação se manter a níveis baixos, tem levado a que Janet Yellen e os seus pares sejam muito prudentes na forma como invertem o rumo da política monetária. E a este nível, espera-se, pouco deve mudar com a chegada de Powell à liderança.

Nas suas intervenções públicas, Powell tem defendido, à semelhança de Janet Yellen que, se a taxa de desemprego baixa leva a que se subam as taxas de juro, a taxa de inflação também baixa recomenda que se seja prudente ao fazê-lo.

Onde são esperadas algumas diferenças é ao nível do posicionamento da Fed em relação a mudanças que possam ser operadas na regulação do sistema financeiro. Jerome Powell é visto como um opositor de regulação excessiva e assume-se que Donald Trump, que tem como desejo de libertar o sistema financeiro dos constrangimentos regulatórios impostos após a crise, tenha querido, com esta nomeação, garantir mais um aliado para este objectivo.

O futuro presidente da Fed, que terá ainda de ser confirmado pelo Senado, tem de facto uma longa carreira no sector financeiro, tendo feito fortuna (em 2016 declarou património no valor de 55 milhões de dólares) como sócio no grupo Carlyle, uma gestora de activos norte-americana, demonstrando em algumas ocasiões preocupação com os constrangimentos que um excesso de regulação podem representar para o funcionamento do sector financeiro.

Ainda assim, tendo em conta as suas declarações públicas como governador da Fed, não é de esperar um apoio incondicional das medidas preconizadas por Trump. Numa audiência realizada no Senado em Junho sobre este assunto, afirmou que o plano de desregulamentação de Trump tinha boas e más ideias. “Há algumas ideias que fazem sentido, talvez não como estão expressas no relatório, mas que nos poderiam permitir reduzir os custos da regulação sem afectar a segurança [do sistema financeiro]”.

O que é certo é que, à sua frente, Jerome Powell irá ter uma tarefa complexa, cheia de dilemas difíceis de resolver. A Reserva Federal terá de gerir, num cenário de luta política acesa e com um presidente bastante interventivo, um cenário em que a retoma é mais lenta do que o esperado, pedindo a continuação dos estímulos monetários, mas em que ao mesmo tempo se pode assistir a uma redução de impostos (proposta também esta quinta-feira pelo Partido Republicano), acompanhada por uma continuação da escalada dos preços nos mercados financeiros, o que aconselha uma política monetária menos expansionista.