Ah, quanta melancolia

Um excelente Ben Stiller num pequeno filme à antiga sobre um homem a tentar perceber onde é que a vida lhe passou ao lado.

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Invocamos constantemente a “nova Hollywood” dos anos 1970 como exemplo de uma direcção criativa e artística do cinema americano que se teria perdido no tempo por entre a ascensão do blockbuster espectacular. Mas essa vertente nunca se perdeu verdadeiramente; foi apenas atirada para a prateleira e de vez em quando dá um ar da sua graça, provando que nomes como Hal Ashby (Ensina-me a Viver, O Último Dever) ou Bob Rafelson (Destinos Opostos, O Rei de Marvin Gardens), não foram realmente esquecidos por gente como Noah Baumbach, Alexander Payne, Richard Linklater ou, no caso de A Vida de Brad, Mike White.

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Invocamos constantemente a “nova Hollywood” dos anos 1970 como exemplo de uma direcção criativa e artística do cinema americano que se teria perdido no tempo por entre a ascensão do blockbuster espectacular. Mas essa vertente nunca se perdeu verdadeiramente; foi apenas atirada para a prateleira e de vez em quando dá um ar da sua graça, provando que nomes como Hal Ashby (Ensina-me a Viver, O Último Dever) ou Bob Rafelson (Destinos Opostos, O Rei de Marvin Gardens), não foram realmente esquecidos por gente como Noah Baumbach, Alexander Payne, Richard Linklater ou, no caso de A Vida de Brad, Mike White.

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Segunda realização de White, actor e argumentista com créditos firmados, é um pequeno retrato melancólico de um homem em crise da meia-idade, que, acompanhando o filho à beira de entrar na faculdade a entrevistas de admissão, olha para trás e pergunta se a vida que tem é a vida que quis. Ao contrário do que possa parecer, dada a presença de Ben Stiller no elenco, não estamos numa comédia – e ainda bem, porque Stiller é geralmente muito mais interessante como actor dramático. Basta recordar a sua óptima remake da Vida Secreta de Walter Mitty (2013), filme que já era sobre um zé-ninguém recuperando o tempo perdido, com o qual A Vida de Brad tem muito em comum. Aqui, o tom é mais comedido, mais “caseiro”, mas igualmente com o seu quê de fantasista: Brad Sloan, a personagem de Stiller, tem uma vida modesta em Sacramento, gerindo uma pequena ONG que nunca descolou do chão, e sente que perdeu a sua vida enquanto os colegas de faculdade se tornaram figuras públicas e têm vidas de sonho.

O engenho de White está em colocar todo o filme “dentro” da cabeça de Brad: pôr-nos a acompanhar os seus pensamentos e as suas projecções, a maneira como ele se deixa levar pela sua convicção de que é um falhado e de que todos pensam nele como um falhado, a sua ideia de como os privilegiados vivem. E Stiller, mestre do desconforto, do nervosismo, da inadequação social, sustenta o filme com uma espécie de discreto virtuosismo do mal-estar, enquanto White se limita a colocar em imagens (mas com muita inteligência) um argumento urdido com enorme delicadeza. Que não deixa de admitir que tudo isto pode não passar de (como às tantas se diz) “problemas do primeiro mundo”, ao mesmo tempo que nos diz que estas são questões importantes, porque a vida que levamos é parte do mundo em que vivemos. A Vida de Brad não inventa nada – e não precisa. Basta olhar para, e filmar, as pessoas como gente e não como estereótipos.

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