Tancos: ter o material de volta não chega para saber o que aconteceu
Chefe de Estado Maior do Exército diz ter a “certeza” que houve um furto e que os autores serão descobertos. Em Belém, há pressa nas explicações e ter o material de volta não chega.
O Exército terminou ontem a operação de mudança de todas as munições, explosivos e artifícios de fogo que tinha nos Paióis Nacionais de Tancos (PNT) para outras instalações das Forças Armadas, onde está agora inventariado e vigiado, mas continua sem saber formalmente o que aconteceu durante o roubo do material, conhecido no final de Junho. O chefe do Estado-Maior do Exército (CEME) tem pelo menos duas “certezas”: a de que “houve um furto" ("não lhe chamemos assalto, chamemos furto. Tenho a certeza com base nos dados das averiguações”); e a de que será possível descobrir os autores do furto (“se haverá provas… isso é mais complicado e já não posso garantir. Mas isso não é comigo”).
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
O Exército terminou ontem a operação de mudança de todas as munições, explosivos e artifícios de fogo que tinha nos Paióis Nacionais de Tancos (PNT) para outras instalações das Forças Armadas, onde está agora inventariado e vigiado, mas continua sem saber formalmente o que aconteceu durante o roubo do material, conhecido no final de Junho. O chefe do Estado-Maior do Exército (CEME) tem pelo menos duas “certezas”: a de que “houve um furto" ("não lhe chamemos assalto, chamemos furto. Tenho a certeza com base nos dados das averiguações”); e a de que será possível descobrir os autores do furto (“se haverá provas… isso é mais complicado e já não posso garantir. Mas isso não é comigo”).
“Isso” é com os investigadores da Polícia Judiciária Militar, que recuperaram todo o material há duas semanas – e mais uma caixa de petardos que não estava na lista inicial, aparentemente por falta de inventariação do equipamento guardado nos PNT. Mas o general Rovisco Duarte sabe o que falta apurar: “Por que é [aquele material] foi roubado, se falharam rondas, se falhou a segurança.” Naquela altura, a segurança estava a cargo do Regimento de Engenharia 1 e foi nele que foram instaurados processos disciplinares a três militares que ainda estão a decorrer. Sobre isso, o CEME não fala e aguarda novidades.
O general Rovisco Duarte chamou ontem a comunicação social para acompanhar o último transporte de material vindo de Tancos e que foi transferido da Unidade de Apoio Geral de Material do Exército (UAGME), na Estrada do Infantado, para o outro lado da estrada, para o Campo de Tiro de Alcochete, da Força Aérea Portuguesa. Durante o último mês os paióis foram sendo esvaziados e o material foi encaminhado para o Campo Militar de Santa Margarida, para o Marco do Grilo (Marinha) e para Alcochete. O Exército chamou-lhe Plano Tróia 17 – sem cavalo, mas com seis camiões, foram movimentadas 1100 toneladas de material sobretudo durante a noite.
O CEME fez questão de descrever todo o historial sobre a segurança dos paióis desde 2006 até agora, incluindo os problemas e soluções para a vigilância, argumentou que a solução de distribuir o material por outras instalações decorre de uma visão de maior sinergia entre os vários ramos e racionalização de instalações. Considerou que ao longo dos tempos houve “erros estruturais e erros sistémicos” na abordagem que o Exército e até as Forças Armadas têm feito sobre a utilização das instalações e que é tempo de mudar. Um exemplo poderá ser o aproveitamento futuro de Tancos e o general defendeu que o polígono deve tornar-se num Campo Militar como aconteceu com Santa Margarida, com um comando único.
Em Belém, o aparecimento do arsenal furtado não é visto como a resolução do problema, mas apenas mais uma forma de pôr uma pedra sobre um assunto que está longe de estar esclarecido. Este é um dos principais dossiers que sectores próximos do Presidente da República entendem que têm de ser explicados e fechados rapidamente pelo Governo, neste arranque do novo ciclo político e antes da eleição de um novo líder do PSD, para que não sirva de arma de arremesso político.
Ainda na semana passada, após o aparecimento das armas, Marcelo salientou que a primeira conclusão a que era preciso chegar era se houve ou não crime. “Se houve crime, houve criminosos. Se houve criminosos, como é que decorreu e quem são os responsáveis. Isso naturalmente que segue a sua investigação própria mas há-de chegar o dia em que teremos de apurar efectivamente o que existiu, naquilo que aparentemente se configurou como uma actuação potencialmente violadora das regras fundamentais do direito português”, disse no Porto.
Por seu lado, o Governo tem preferido acentuar o facto de o material ter sido “recuperado”. “É algo acontece pela primeira vez em democracia, que me recorde”, disse o ministro da Defesa na semana passada, nos Açores, afirmando que isso sim, “é algo com que o Governo se congratula”. Mas sobre a investigação, nem uma palavra.
O PÚBLICO sabe, no entanto, que há no Governo a tese de que o furto de Tancos terá sido uma manobra de sectores militares da extrema-direita para desestabilizar o executivo e servir como forma de pressão para chamar a atenção para fragilidades e reivindicações das Forças Armadas.