Campanha dos independentistas foi lançada em Bruxelas
Plano de manter uma parte do governo “no exílio” falhou, no mesmo dia em que uma sondagem mostrava que os soberanistas podem vencer em Dezembro. Faltam só 50 dias mas ainda tudo pode acontecer.
A independência queria-se rápida, “agora é a hora” foi o slogan da de 2014 para o referendo que acabou por ser uma consulta não vinculativa. “Hola Republica”, lia-se nos cartazes da campanha para o referendo de 1 de Outubro, que Mariano Rajoy prometeu impedir sem sucesso. Passado um mês, declarada a república e deposto o executivo catalão, os ritmos do projecto soberanista mudaram.
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A independência queria-se rápida, “agora é a hora” foi o slogan da de 2014 para o referendo que acabou por ser uma consulta não vinculativa. “Hola Republica”, lia-se nos cartazes da campanha para o referendo de 1 de Outubro, que Mariano Rajoy prometeu impedir sem sucesso. Passado um mês, declarada a república e deposto o executivo catalão, os ritmos do projecto soberanista mudaram.
“O caminho será longo”, disse Carles Puigdemont a partir de Bruxelas, na sua primeira intervenção pública desde que esteve nas escadarias do Parlament a festejar a independência que acabara de ser votada, na sexta-feira. Sábado, divulgou uma curta comunicação gravada na sede da Generalitat em Girona para pedir aos catalães uma “oposição democrática” ao 155, o artigo da Constituição que permitiu a Madrid ocupar-se da gestão da Catalunha, suspendendo, na prática, uma autonomia com 40 anos.
Seguiram-se dois dias de um estranho silêncio, interrompidos pela pouco ortodoxa conferência de imprensa na capital da União Europeia, onde Puigdemont se apresentou como “presidente da Generalitat” (assim se lia no convite aos jornalistas) e onde se propunha ficar com os sete conselheiros que o acompanhavam provavelmente até às eleições de 21 de Dezembro (entretanto, a Justiça forçou nova mudança de planos e o líder catalão decidiu regressar).
Nesse sentido, tentou explicar “o plano de trabalho adoptado pelo Governo legítimo da Catalunha”, um plano que implicava manter uma parte desse executivo em Bruxelas “para evidenciar o problema catalão no coração da Europa” e chamar a atenção “para o grave défice democrático no Estado espanhol”.
Em Barcelona, numa pequena sala do parlamento, o vice-presidente destituído, Oriol Junqueras, e os conselheiros que não acompanharam Puigdemont, assistiam à conferência de imprensa. Era o primeiro ensaio de “um Governo em funções”, sem funcionários, sem sede e sem poder, mas disposto a resistir. Fora dos gabinetes, como explicou o líder deposto, para “proteger a neutralidade dos funcionários” e evitar “violência”. “A república não se pode construir a partir da violência. Não a nossa”, justificava.
Convocadas por Rajoy, que quis assim fazer “um plebiscito ao 155”, nas palavras do político catalão, as eleições autonómicas que se realizam daqui a pouco mais de dois meses são descritas por Puigdemont e pelos partidos que até agora o apoiavam no poder como “um desafio”. “Sempre que houve urnas ganhámos”, disse o presidente deposto.
“Sr. Rajoy, vemo-nos nas urnas”, dissera na véspera a coordenadora do seu PDeCAT (Partido Democrata Europeu Catalão), Marta Pascal. “Ofereceram-nos uma armadinha na forma de eleições, mas nunca tivemos medo de ir a votos”, afirmava, quase em simultâneo, o porta-voz da ERC (Esquerda Republicana da Catalunha), Sergi Sabrià.
Resta saber se os dois partidos vão reeditar a coligação Juntos pelo Sim com que venceram em 2015 – o barómetro do Centro de Estudos de Opinião da Generalitat, divulgado esta terça-feira, antecipa-lhes 60 a 63 lugares (tinham 62), mais 8 a 9 para a CUP (Candidatura de Unidade Popular), o partido independentista mais à esquerda que, com os seus dez deputados, completava a maioria de 72 (numa assembleia de 135). Dos três, só a CUP não confirmou se vai a votos.
O politólogo Joan Subirats destaca a ideia de “caminho longo” da intervenção de Puigdemont. “Nos últimos anos, a estratégia soberanista foi sempre a da independência-expresso e low cost, a revolução dos sorrisos, sem nunca existirem as condições necessárias: um referendo com garantias e supervisão internacional (neste caso, por culpa de Madrid); uma maioria suficiente, já que nunca votaram nas consultas mais de 2 milhões de um universo de 5,7; o reconhecimento internacional e as estruturas de Estado suficientes para, uma vez declarada a independência, pôr de pé um país”, enumera.
“Golpe de Estado invisível”
“A organização para o referendo existiu, a partir daí foi tudo improvisado”, sustenta Subirats. “O erro de Madrid, reprimir violentamente os eleitores, serviu, num primeiro momento, para deslegitimar o Estado central”, diz, permitindo aos independentistas espaço para respirar.
Só que “a partir do momento em que o Governo começou a agir com contenção”, viu-se que não havia Plano B. Isto, “apesar de aplicar o 155 de um modo que nenhum constitucionalista considera adequado”, nota. “Marcou eleições muito depressa, o que agradou aos aliados europeus, e assumiu o controlo financeiro e electrónico da governação, numa espécie de golpe de Estado digital invisível”, descreve.
Claro que nenhumas eleições vão resolver o problema de fundo. Aconteça o que acontecer em Dezembro, “nada vai fazer desaparecer os soberanistas catalães”, cujos partidos “dificilmente descerão de 40, 45%”. A Justiça vai entrar em acção e isso tem consequências imprevisíveis, mas pode jogar a favor dos acusados.
Puigdemont, que sempre disse que não se apresentaria a votos, pediu garantias a Rajoy e ao “bloco do 155” (PP, Cidadãos e Partido Socialista da Catalunha). “Nós vamos respeitar o resultado das eleições de 21 de Dezembro. Vocês vão fazer o mesmo? Quero um compromisso do Estado espanhol”, disse.
Subirats tem a mesma dúvida. “Se não gostarem do resultado, o que vão fazer? Renovar o 155?”. Ou decidir finalmente sentar-se à mesa a negociar um referendo sobre o futuro político da Catalunha, como desejam (segundo uma sondagem do jornal El Mundo) 57% dos espanhóis?