Quatro meses de surto, uma morte e um inquérito por terminar
Em Abril, uma rapariga de 17 anos morreu na sequência de uma infecção por sarampo. Foi infectada em contexto hospitalar e não estava vacinada. A Inspecção-geral das Actividades em Saúde abriu um inquérito ao Hospital de Cascais, onde a jovem estava internada, que, seis meses depois, ainda decorre.
De Fevereiro a Maio, 31 pessoas estiveram doentes com sarampo, em Portugal. O surto de quatro meses no país — que acompanhou uma epidemia europeia — resultou na morte de uma jovem de 17 anos, um inquérito ao Hospital de Cascais, ainda a decorrer, e uma nova discussão sobre a obrigatoriedade das vacinas, que não avançou. As medidas de sensibilização viraram-se para as escolas.
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De Fevereiro a Maio, 31 pessoas estiveram doentes com sarampo, em Portugal. O surto de quatro meses no país — que acompanhou uma epidemia europeia — resultou na morte de uma jovem de 17 anos, um inquérito ao Hospital de Cascais, ainda a decorrer, e uma nova discussão sobre a obrigatoriedade das vacinas, que não avançou. As medidas de sensibilização viraram-se para as escolas.
Foi a 19 de Abril: uma jovem de 17 anos morreu no Hospital Dona Estefânia, em Lisboa, onde estava internada, na sequência de uma pneumonia bilateral provocada pelo sarampo, doença contra a qual não estava vacinada. Foi a primeira morte por sarampo em anos e a única morte entre as 31 pessoas infectadas neste surto.
A jovem contraiu sarampo no Hospital de Cascais, onde estava internada por outras razões, e foi transferida para Lisboa quando o seu estado de saúde se agravou. A origem do contágio terá sido um bebé que não estava vacinado devido a um atraso por razões clínicas e que terá infectado mais cinco pessoas, entre as quais dois pediatras desta unidade de saúde. Mais ninguém correu risco de vida.
A questão do contágio hospitalar levou a Inspecção-Geral das Actividades em Saúde (IGAS) a abrir um inquérito ao Hospital de Cascais. Meio ano depois, segundo fez ontem saber a IGAS, questionada pelo PÚBLICO, o processo ainda se encontra na fase de instrução, pelo que não são conhecidos os resultados.
O facto de a jovem não estar vacinada contra o sarampo, porque, segundo a família, desenvolvera uma complicação grave a outra vacina em criança, adensou a discussão sobre a obrigatoriedade das vacinas do Programa Nacional de Vacinação. O ministro da Saúde mostrou-se desde logo aberto ao debate, empurrando-o para o Parlamento onde estava uma proposta para alterar a Lei da Saúde Pública. Surgiu uma petição a favor da obrigatoriedade das vacinas. Mas o director-geral da Saúde, à data Francisco George, não apoiou. A Direcção-Geral de Saúde (DGS) notou, na altura, que a taxa de cobertura da vacina era de 95% para a primeira dose (aos 12 meses) e de 98% para a segunda (aos cinco anos), dentro dos valores recomendados pela Organização Mundial de Saúde. A obrigatoriedade não avançou.
Em meados de Abril, havia 21 casos confirmados de sarampo, a maioria das pessoas infectadas não estava vacinada, incluindo dois profissionais de saúde. Em reacção a estes números, o ministro da Saúde apontou o dedo aos cidadãos que, com base em “movimentos injustificados e irracionais, do ponto de vista técnico”, rejeitam a vacinação. Por diversas vezes, Adalberto Campos Fernandes enfatizou a “recomendação forte” da tutela: façam a vacina. E, nesta matéria, quis “responsabilizar” os pais que não vacinam os filhos e estreitar relações entre a saúde e os parceiros sociais.
Saiu um despacho que obriga as escolas a comunicar ao centro de saúde da sua zona as falhas nos boletins de vacinas dos alunos. A medida funciona como sensibilização, a par de outras campanhas de informação sobre “as vantagens das vacinas”, apesar de na prática nenhum aluno ser impedido de se inscrever, se não tiver o boletim em dia. O Ministério da Educação faz saber que não consegue dizer, para já, quantos alunos foram identificados nessa situação.
A 5 de Julho foi declarado o fim do surto. Em consequência, a DGS fez uma campanha de vacinação de repescagem contra o sarampo em crianças e adultos, com 200 mil doses extra de vacinas.
O sarampo é uma doença muito contagiosa, que habitualmente é benigna, mas pode ter consequências mais graves. A vacinação, gratuita, é a única forma de prevenção, mas também está imunizado quem já teve a doença.