Ser “vegan” já “não é um bicho-de-sete-cabeças”

Existem cerca de 120 mil portugueses vegetarianos, metade dos quais são veganos. Ser vegetariano "não é um bicho-de-sete-cabeças", mas é preciso acautelar carências nutricionais. Esta quarta-feira, 1 de Novembro, assinala-se o Dia Mundial do Veganismo

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Jakub Kapusnak/Unsplash

Nem queijo, nem leite, mel, carne ou peixe. Os cerca de 60 mil veganos em Portugal praticam uma filosofia de vida que exclui tudo o que é de origem animal e são cada vez mais os que nem sequer usam lã, couro ou seda.

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Nem queijo, nem leite, mel, carne ou peixe. Os cerca de 60 mil veganos em Portugal praticam uma filosofia de vida que exclui tudo o que é de origem animal e são cada vez mais os que nem sequer usam lã, couro ou seda.

Segundo um estudo promovido pelo Centro Vegetariano e divulgado este ano, o número de vegetarianos em Portugal quadruplicou na última década. São agora 120 mil os portugueses que seguem um regime alimentar vegetariano, metade dos quais seguem alimentação vegana (não consome carne, peixe, ovos ou laticínios). Mas ser vegano é mais do que isso. É uma filosofia de vida diferente, que vai muito além da alimentação. E é mais do que uma moda. "Uma moda é algo que entra em crescimento e depois entra em declínio, por exemplo, como nova marca de roupa ou sapatos. No vegetarianismo e veganismo há um crescimento contínuo e estável. Os dados que apontam para um crescimento de 400% nos últimos dez anos vêm mostrar isto mesmo", afirma Nuno Alvim, presidente da Associação Vegetariana Portuguesa (AVP).

Vegano há dez anos, Nuno diz que é "cada vez mais prático, mais fácil e mais conveniente" adoptar este regime. Basta olhar para as prateleiras dos grandes supermercados e do número de restaurantes que, ou são estritamente vegetarianos, ou pelo menos oferecem essa opção. Para o responsável, os portugueses preocupam-se hoje mais com a saúde, o que levou muitos a reduzir o consumo de produtos de origem animal nos últimos anos, procurando mais produtos naturais, vegetarianos e biológicos.

Há que ter "cautela", diz Ordem dos Nutricionistas

Apesar da obrigatoriedade da opção vegetariana nas cantinas públicas desde o início do ano lectivo, Nuno Alvim diz que ainda há pais que se deparam com esta dificuldade: "Já tivemos contactos de pais que não conseguem que os filhos acedam [a comida vegetariana] porque ainda enfrentam o preconceito e o mito relativamente a esta alimentação". "A própria Direcção-geral da Saúde publicou manuais que falam precisamente na alimentação vegetariana nas crianças e mostram que esta alimentação é adequada a todas as fases e ciclo de vida. É preciso é adaptar e perceber quais são as deficiências nutricionais e fazer refeições completas", acrescenta o presidente da AVP.

Também preocupada com as carências nutricionais que uma alimentação vegetariana ou vegana pode trazer, a bastonária da Ordem dos Nutricionistas recorda: "Não nos podemos esquecer que há riscos associados, que podem ser tanto maiores quanto mais restrito é este padrão alimentar". Alexandra Bento sublinha que os riscos se relacionam sobretudo "com carências de nutrientes como as vitaminas do complexo B, proteína e cálcio, vitamina D e ferro".

A opção por este regime alimentar "exige grande cautela e grande preocupação" por parte dos pais, defende a bastonária, que reconhece, contudo, que o padrão alimentar vegetariano pode ser considerado adequado porque tem uma grande diversidade em termos alimentares, com alimentos pouco processados e o consumo de fruta, hortícolas e leguminosas. "Não descurando benefícios, os riscos existem e, se os pais tendem a querer este padrão alimentar por parte dos filhos, porque não [optar pelo] padrão ovo-lacto-vegetariano, em que ficam acauteladas estas carências nutricionais", sugere Alexandra Bento, que aconselha os pais a consultarem igualmente um nutricionista antes de fazerem a opção.

Para o presidente da AVP, não é essencial consultar um nutricionista em todas as circunstâncias. É uma opção a recorrer em situações mais delicadas, como em crianças ou pessoas com necessidades específicas. "Com a disponibilidade de informação, [as pessoas] não precisam necessariamente de consultar um perito nutricionista. Recomendo que tomem passos graduais, em vez de ser abruptamente, para evitar défices nutricionais", defende.

Nuno Alvim diz que hoje em dia é fácil ser-se vegetariano ou vegano. Não sente dificuldades na área alimentar. Já quanto aos restantes parâmetros da filosofia vegan, a história é diferente. "Em áreas como o calçado e a roupa, por exemplo, o mercado esta a evoluir muito lentamente. Já existem opções, com marcas portuguesas de sapatos sem matéria de origem animal, ou roupas. A questão é que nem sempre são acessíveis para toda a gente. São comercializados a um preço relativamente elevado", explica. Contudo, diz que, apesar de haver ainda muito para crescer, há uma procura cada vez maior e a disponibilidade do mercado está a evoluir. Que afinal, ser vegetariano ou vegan, "não é um bicho-de-sete-cabeças".