Quem é Paul Manafort, ex-director de campanha de Trump?
O consultor político declarou-se inocente.
Nesta segunda-feira, Paul Manafort e o seu antigo parceiro empresarial Rick Gates entregaram-se às autoridades federais para enfrentar acusações relacionadas com a investigação sobre a interferência da Rússia nas eleições norte-americanas no ano passado do procurador especial Robert Mueller. Abaixo, uma visão geral sobre o porquê de Manafort, em particular, ter sido atraído pela investigação de Mueller.
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Nesta segunda-feira, Paul Manafort e o seu antigo parceiro empresarial Rick Gates entregaram-se às autoridades federais para enfrentar acusações relacionadas com a investigação sobre a interferência da Rússia nas eleições norte-americanas no ano passado do procurador especial Robert Mueller. Abaixo, uma visão geral sobre o porquê de Manafort, em particular, ter sido atraído pela investigação de Mueller.
Quem é Paul Manafort?
Paul Manafort é um consultor político e lobista de longa data em Washington. A sua carreira tomou dois caminhos que são importantes para perceber como chegámos a este ponto. O primeiro é que Manafort ajudou vários candidatos presidenciais republicanos a gerir os seus esforços nas convenções partidárias, incluindo Gerard Ford em 1976, Ronald Reagen em 1980 e em 1984 e George H. W. Bush em 1988. Ele também geriu a candidatura presidencial de Bob Dole em 1996. O segundo é que Manafort também trabalho em nome de alguns actores internacionais questionáveis, como o ditador filipino Ferdinand Marcos e o Presidente da Ucrânia apoiado pela Rússia Viktor Yanukovych. Yanukovych foi deposto em 2014, durante o período em que as tensões entre Rússia e Ucrânia aumentaram. Mais sobre isto abaixo.
Qual é a sua relação com Trump?
Em Março de 2016, enquanto Donald Trump estava a tentar garantir a vitória na luta pela nomeação republicana, este contratou Manafort para ajudar a encaminhar delegados para a convenção que se aproximava. Nesse período, existiu muita discussão sobre se os delegados que apoiavam Trump se manteriam ou não firmes nesta posição enquanto se desenrolou a convenção. Manafort tinha ajudado Ford nessa tarefa em 1976, desafiando Reagan. A recomendação de contratar Manafort teve origem no aliado de longa data de Trump, Roger Stone, que criou uma empresa de lobby com Manafort depois das eleições de 1980.
Manafort aceitou a posição na campanha de Trump sem renumeração. As parcerias empresariais questionáveis de Manafort eram bem conhecidas, mas, na altura, Trump estava a ter problemas em atrair as figuras do Partido Republicano que continuavam cépticas sobre se Trump era um candidato viável.
Uma vez na campanha, ele entrou em conflito com o chefe de campanha Corey Lewandowski. No final de Junho, os filhos de Trump convenceram-no a despedir Lewandowski e a promover Manafort, que se tornou chefe de campanha. Este manteve a posição até Agosto. No dia em que renunciou ao cargo, o antigo speaker da Câmara dos Representantes, Newt Gingrich, disse à Fox News que “ninguém deveria subestimar o Quanto Paul Manafort fez para realmente ajudar esta campanha para chegar onde está actualmente”.
Porque se desentendeu com Trump?
Para isto, temos de falar um pouco mais do passado de Manafort. Em 2006, a empresa de Manafort (na qual Gates tinha participação) assinou um acordo de vários anos com um oligarca russo chamado Oleg Deripaska, aparentemente com base numa proposta de 2005 em que Manafort desenhava uma estratégia que iria “beneficiar muito o Governo do [Presidente russo Vladimir] Putin. Deripaska tem uma ligação próxima com Putin.
Nesse mesmo ano, Manafort começou a trabalhar com o Partido das Regiões de Ianukovich na Ucrânia. Em 2010, Ianukovich foi eleito Presidente. Em 2014, foi afastado numa revolta por reacção à sua proximidade com a Rússia.
Informação obtida no ano passado em contabilidade encontrada num antigo gabinete do Partido das Regiões em Kiev indica que Manafort possa ter recebido cerca de 13 milhões de dólares em pagamentos não registados do partido durante a altura em que trabalhou para ele. Manafort negou a acusação, mas a Associated Press confirmou, mais tarde, alguns dos pagamentos.
Na altura, Trump enfrentava uma série de questões sobre a sua relação com a Rússia e quaisquer ligações financeiras ao país. A revelação de que o encarregado pela sua campanha possa ter sido pago por um partido político apoiado pela Rússia ajudou Trump a tirar Manafort desse cargo.
Isto prova de que a campanha de Trump conspirou com a Rússia?
Não.
É importante lembrar que a investigação de Muller está a analisar a interferência russa na eleição de 2016, assim como qualquer possível conluio entre a campanha de Trump e agentes russos.
Mas como braço do Departamento de Justiça, a equipa de Mueller também tem autorização para investigar “quaisquer questões levantadas ou que possam ser levantadas directamente pela investigação”.
Um exemplo: se a polícia fosse chamada para intervir numa casa por causa de uma queixa de barulho, mas visse um corpo no chão e o dono da casa ao pé do morto com uma faca na mão, isso poderia surgir como um assunto a conversar.
A que se referem as acusações?
A acusação inclui 12 crimes, focados em algumas coisas: enganar o Governo, omissão de registo como “agentes estrangeiros”, lavagem de dinheiro e não declaração de rendimento vindo do estrangeiro. Inclui uma acusação de conspiração que se deve sobretudo a enganar o Governo, incluindo a acusação de que Manafort (e Gates) fizeram declarações falsas aos investigadores (Manafort acabou por o fazer em Junho, depois de ter chamado a atenção para si com o seu trabalho na campanha). Isto não é uma acusação de que Manafort conspirou contra os Estados Unidos a favor da Rússia durante a eleição.
As acusações financeiras referem-se a 75 milhões de dólares que Manafort e Gates possuem no estrangeiro, 18 milhões dos quais foram alegadamente lavados por Manafort. Este dinheiro foi, aparentemente, ganho na sua maioria através do trabalho de ambos na Ucrânia.
É importante notar que estas investigações são anteriores ao tempo em que Manafort liderou a campanha de Trump. Em 2014, o FBI iniciou uma investigação a Manafort, que incluiu escutas. (Nesse ano, Deripaska acusou Manafort e Gates de lhe terem tirado 19 milhões de dólares que deveriam ser investidos numa rede de cabo na Ucrânia). A investigação a Manafort reiniciou-se na Primavera do ano passado. O BuzzFeed noticiou que o FBI está a investigar transferências bancárias que foram realizadas em 2012 e 2013. Por outras palavras, mesmo que não estivesse a trabalhar com Trump, Manafort pode, de qualquer das maneiras, enfrentar uma acusação como esta.
Isto fecha a porta sobre se Manafort esteve ou não envolvido no conluio na campanha?
A principal ressalva que vale a pena recordar aqui é que Manafort não fazia parte da campanha presidencial em Agosto – o que significa que ele não estava presente nos dias finais do esforço de Trump. Dito isto, existem duas maneiras pelas quais Manafort e os interesses russos se sobrepuseram durante o tempo que passou na campanha.
A primeira está relacionada com Derispaska, oligarca russo aliado de Putin. Pouco tempo depois de Manafort ter entrado na campanha, este enviou um email para um parceiro empresarial na Ucrânia e perguntou como é que a sua nova posição poderia ser utilizada, questionando se a equipa de Deripaska estava ao corrente da sua nova posição. Mais tarde, Manafort tentou transmitir a Deripaska que era possível realizar um encontro privado na campanha. Tal parece não ter acontecido.
(Nota: durante a campanha, a equipa de Trump – então liderada por Manafort – trabalho para remover as referências na plataforma do partido sobre o envio de armas para a Ucrânia de forma a apoiar a luta contra a Rússia.)
Manafort também participou na famosa reunião realizada na Trump Tower combinada por Donald Trump Jr. e que envolveu uma advogada russa com ligações ao Kremlin e que prometia informações sensíveis e prejudiciais sobre Hillary Clinton. Durante essa reunião, Trump Jr. relatou que Manafort estava ao telefone durante todo o tempo, insinuando que o conteúdo do encontro não interessava ao director de campanha. No entanto, mais tarde, Manafort entregou notas que tirou enquanto participava na reunião através do telefone.
É possível que a acusação contra Manafort tenha como objectivo de servir como uma alavanca para uma investigação mais ampla por parte de Mueller. Não existe qualquer menção a Trump na acusação. Em 2006, Manafort comprou um condomínio na Trump Tower. Outros imóveis que Manafort adquiriu em 2012 estão listados na acusação porque o dinheiro utilizado na compra não estava incluído nas suas declarações fiscais.
No futuro, podem ser apresentadas mais acusações contra Manafort.
Ainda existem ligações entre Manafort e Trump?
Trump tem um padrão de continuar a falar com pessoas que ele contratou para a campanha, mesmo que tenham sido despedidas. Não é claro se isso aconteceu com Manafort, apesar de Manafort ter ligado ao antigo chefe de gabinete da Casa Branca Reince Preibus pouco tempo antes da tomada de posse de Trump,
O Daily Beast noticiou em Junto que Gates foi um visitante regular à Casa Branca, trabalhando com Tom Barrack, aliado de Trump (Recentemente, numa entrevista ao Washington Post, Barrack mostrou-se preocupado com a presidência de Trump).
Exclusivo PÚBLICO/The Washington Post