A experiência do Facebook que pôs os media de mãos na cabeça
Seis países em três continentes estão a servir de cobaias para uma separação entre conteúdo pessoal e notícias.
A dependência que a comunicação social tem do Facebook tornou-se este mês evidente, quando um teste de uma nova funcionalidade levou a que sites informativos de seis países perdessem grande parte da audiência na rede social, com consequências para as receitas publicitárias.
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A dependência que a comunicação social tem do Facebook tornou-se este mês evidente, quando um teste de uma nova funcionalidade levou a que sites informativos de seis países perdessem grande parte da audiência na rede social, com consequências para as receitas publicitárias.
Na Eslováquia, Sri Lanka, Sérvia, Bolívia, Guatemala e Cambodja, o Facebook tirou do feed principal todas as publicações feitas por páginas, o que inclui as páginas de empresas e outras organizações, bem como as páginas dos meios de comunicação. Para aceder a estes conteúdos, os utilizadores têm agora de ir a uma nova área, chamada Feed Explorar. Este feed, que começou por existir na versão móvel, tem vindo a ser transposto para a versão para computadores em vários países, incluindo em Portugal (está na barra lateral esquerda, tem um ícone com um foguetão, e funciona como uma área de sugestões personalizadas). Mas só naqueles países é que as publicações das páginas foram completamente retiradas do feed de notícias, que é aquele que os utilizadores vêem primeiro. Para que as publicações apareçam no feed principal, é preciso pagar.
As empresas de tecnologia fazem com frequência estes testes. A Google já testou múltiplos tons de azul nos seus links das páginas de resultados, para ver qual o tom que impulsionava mais cliques. No Facebook, Mark Zuckerberg encoraja os funcionários da empresa a modificarem os produtos, e a testarem essas novidades com uma pequena amostra de alguns milhares de pessoas.
Com aqueles seis países, o Facebook consegue fazer um teste que abarca três continentes, e usar mercados pequenos, que terão pouco impacto nas métricas da rede social. Para as cobaias, a experiência – que está a ser seguida com preocupação pelos media noutros pontos do mundo – é mais significativa.
De acordo com um post do jornalista eslovaco Filip Struhárik, os comentários, likes e partilhas das publicações feitas no Facebook pelos 60 principais meios de comunicação daquele país caíram para metade desde que o teste começou, a 19 de Outubro. Quanto menos pessoas pessoas vêem uma publicação, menos pessoas clicam para aceder ao site, num comportamento que tem um impacto directo nas receitas de publicidade. Nos outros países o resultado parece ser semelhante. “Não sabemos quanto tempo vai durar este teste, mas pode influenciar o pluralismo político e de informação”, observou à revista Atlantic o jornalista Marko Miletic, que trabalha num site cujo alcance no Facebook caiu para pouco menos de metade.
Estes relatos mereceram uma resposta do responsável pelo feed de notícias do Facebook, Adam Mosseri, que esclareceu não haver planos para alargar o teste e que o objectivo é saber se as pessoas preferem ter uma separação entre conteúdos pessoais e as notícias. Mas a resposta deixou muito em aberto: “Como acontece com todos os testes que fazemos, podemos aprender novas coisas que levem a testes adicionais nos próximos meses, para que possamos entender o que funciona melhor para as pessoas e para os editores de media.”
A rubrica Tecnologia encontra-se publicada no P2, caderno de domingo do PÚBLICO