A minha crise de meia-idade pode vir a chamar-se criatividade
Exploramos pouco. Questionamos quase nada. Arriscamos ainda menos.
Passei os 38.
38 é a minha idade. E aqui estou eu a senti-la a chegar a passos largos: a crise! A crise de meia idade.
O meu filho fez seis esta semana. A minha filha já tem quatro. Mas na realidade o que me preocupa não é o crescimento dos meus filhos, nem os quilos a mais, nem os degraus lá de casa. O que me preocupa é a criatividade.
Essa mesmo. A minha!
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Passei os 38.
38 é a minha idade. E aqui estou eu a senti-la a chegar a passos largos: a crise! A crise de meia idade.
O meu filho fez seis esta semana. A minha filha já tem quatro. Mas na realidade o que me preocupa não é o crescimento dos meus filhos, nem os quilos a mais, nem os degraus lá de casa. O que me preocupa é a criatividade.
Essa mesmo. A minha!
Tudo indica que a criatividade tende a diminuir à medida que envelhecemos. Um dos motivos pode ser o nível de conhecimento, pois se sabemos mais arriscamos menos.
Será isto uma vantagem? Talvez, pois pode levar-nos a ignorar evidências que contradizem o que já pensamos. No entanto, se não explorarmos, estaremos sempre dentro do mesmo estágio de conhecimento, transformando-nos assim em “pensadores da pescadinha de rabo na boca”.
Além disso, a explicação pode ter a ver com uma tensão entre dois tipos de pensamento: a da exploração e o da experimentação. Perante um novo problema, os adultos geralmente exploram o conhecimento sobre o mundo adquirido. Sobre o mundo conhecido. Tenta-se encontrar rapidamente uma solução muito boa e próxima às soluções já conhecidas. Por outro lado, a experimentação pode levar-nos a uma ideia mais incomum, uma solução menos óbvia, ou até mesmo a um novo conhecimento.
A experimentação leva-nos certamente a algo de novo, mas pode também significar que perdemos tempo, considerando possibilidades loucas que talvez nunca funcionarão.
E teremos nós, adultos, tempo para isso? Para gastar tempo? Tempo esse que pode ser perdido?
É aqui que está a diferença entre nós, os adultos, e as crianças, os adolescentes ou até os adultos mais jovens. Estes últimos têm uma propensão mais activa para o risco, para a experimentação, para perder tempo à procura de soluções, que podem até nem ser as melhores.
Arrisco dizer que o importante nesta procura, neste gastar de tempo, é o caminho. É o processo. Não é o resultado que nos trás as soluções, é, sim, o caminho que fazemos que nos vai trazendo os estímulos necessários para crescermos em ideias e em criatividade. Ou seja, crescer em soluções.
E o caminho que estamos a fazer não me parece o melhor. Exploramos pouco. Questionamos quase nada. Arriscamos ainda menos.
Se os designers devem caminhar para o que, na biologia, é referido como "mutagénico" – um agente que produz mutações no mundo artificial, em que a interação entre disciplinas e pessoas é crucial –, as outras profissões deveriam fazer o mesmo. Melhor, às outras profissões deveria ser exigido o mesmo. Mudarem. Ou melhor, mutarem-se.
Eu argumentaria até por uma mudança de paradigma, fomentando os processos colaborativos, inclusivos, baseados em rede, inspirados nas tendências digitais do século XXI, como o crowdsourcing e o open access.
E pode ser este até o segredo para combater a diminuição da criatividade à medida que envelhecemos: experimentar, colaborar, questionar e partilhar.
Parece fácil, não é? Mas para isso é preciso ter tempo. Ter tempo para o poder gastar.