Doação ao Estado de espólio de João Cutileiro continua à espera
Projecto quer criar casa-atelier em Évora e vai mostrar nas praças da cidade arte pública do escultor.
A arte pública do escultor João Cutileiro vai estar em foco numa exposição, programada para Évora, em Setembro de 2018, que incorpora 30 maquetes das suas obras, fotografias de grandes dimensões das esculturas finais e um documentário. O projecto, intitulado João Cutileiro, Pedras na Praça, é promovido pela Direcção Regional de Cultura do Alentejo (DRCAlen), num investimento de 86.500 euros, com o apoio de fundos comunitários, e pretende dar a conhecer a obra do escultor para o espaço público. Faz parte de um trabalho mais vasto de inventário e de organização do arquivo do escultor que passa pela vontade de criar uma casa-atelier dedicada ao artista em Évora.
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A arte pública do escultor João Cutileiro vai estar em foco numa exposição, programada para Évora, em Setembro de 2018, que incorpora 30 maquetes das suas obras, fotografias de grandes dimensões das esculturas finais e um documentário. O projecto, intitulado João Cutileiro, Pedras na Praça, é promovido pela Direcção Regional de Cultura do Alentejo (DRCAlen), num investimento de 86.500 euros, com o apoio de fundos comunitários, e pretende dar a conhecer a obra do escultor para o espaço público. Faz parte de um trabalho mais vasto de inventário e de organização do arquivo do escultor que passa pela vontade de criar uma casa-atelier dedicada ao artista em Évora.
“É uma homenagem, mas trabalhar sobre a obra de alguém tão importante no panorama da escultura portuguesa é mais do que uma homenagem formal. Implica um estudo e investigação sérios e rigorosos sobre a sua obra”, realça Ana Paula Amendoeira, directora regional de Cultura do Alentejo. Segundo a DRCAlen, João Cutileiro, de 81 anos, residente em Évora, é uma “personagem central no contexto da escultura contemporânea em Portugal” e “revolucionou muito” esta área.
O escultor “dessacralizou o espaço público com as suas obras, deu-lhe um outro ‘valor’ de memória cívica e de harmonia com a vida pública, afirmando-se na arte contemporânea com um caminho de aprendizagem e de confronto com o objecto artístico, quase sempre no mesmo suporte: a pedra dura”, pode ler-se no resumo do projecto.
“A sua escultura de D. Sebastião, que está em Lagos (Faro) e que ele fez nos anos 70, é uma das suas obras públicas mais relevantes, mas criou polémica, na altura, porque não era o tipo de escultura figurativa que havia e ainda há em Portugal. Ele fez o anti-herói e é uma peça lindíssima”, indica a directora regional.
Integrada numa candidatura mais vasta ao programa comunitário Alentejo 2020, já aprovada e numa parceria entre várias entidades, a exposição integra parte dos trabalhos em curso pela DRCAlen no âmbito da doação ao Estado do espólio de João Cutileiro e da criação, em Évora, da Casa/Ateliê do escultor. A doação, anunciada publicamente em Fevereiro de 2016, numa cerimónia com o então ministro da Cultura João Soares, encontra-se, “há variadíssimos meses, na Direcção-Geral do Tesouro e Finanças, a aguardar despacho do secretário de Estado”, disse Ana Paula Amendoeira.
“O processo está parado do ponto de vista formal, porque, infelizmente, ainda não temos o despacho de aceitação da doação, mas temos estado a trabalhar no inventário e a organizar o arquivo do João Cutileiro, que é muito vasto, é de uma vida inteira de trabalho”, explica. A mostra sobre a arte pública, que vai ficar patente na sala de exposições temporárias do Museu Nacional Frei Manuel do Cenáculo, em Évora, é um dos resultados práticos desse trabalho, segundo a directora regional.
“A obra é muito grande e multifacetada. O João trabalha, ininterruptamente, ao longo de muitos anos e isso cria uma complexidade na sua obra que implica que a tratemos com o maior rigor e cuidado e por fases”, refere. Este projecto, diz, aborda, sob duas perspectivas, as obras de Cutileiro para o espaço público, “realizadas, um pouco por todo o país, por encomenda de instituições públicas”.
Por um lado, assinala, vão ser expostas fotografias de grandes dimensões das esculturas finais colocadas nos seus locais de destino, e, por outro, como novidade, vão ser apresentadas as maquetes que o escultor realiza para as obras. “Não é vulgar que isto aconteça com outros artistas, mas o João tem o hábito de fazer maquetes reais, em pedra, das suas obras. No fundo, são esculturas, obras originais, a uma escala um pouco menor do que aquelas que ficam nos locais públicos”, destaca.
Na mostra, que pretende “reconstruir, de forma didáctica, o percurso de criatividade do artista e de produção da obra de arte”, ou seja, “da ideia à maquete, da obra ao local”, vão ser incluídas 30 destas maquetes, que são “uma componente relevante do seu trabalho”, revela. A exposição, que visa ainda “fazer uma abordagem de conjunto” à obra pública de João Cutileiro, é acompanhada por um catálogo, que inclui textos de historiadores de arte, e um documentário, da realizadora Graça Castanheira.
O filme, “além de ser um documento visual acerca do trabalho do artista, é também uma peça integrante da exposição, onde vai ser exibido”, indica Ana Paula Amendoeira, considerando que o projecto “Pedras na Praça” quer mostrar ao público “o que de mais relevante Cutileiro fez no domínio da arte pública”.