Um objecto passou por baixo da Terra. Será este o primeiro visitante "interestelar" observado?

Ainda não se sabe se é um asteróide ou cometa, mas o objecto já está a afastar-se de nós a uma velocidade de 44 quilómetros por segundo.

Foto
A trajectória do "objecto interestelar" NASA/JPL-Caltech

Pode ser o primeiro “objecto interestelar” a ser observado e registado por cientistas oriundo de um outro ponto da galáxia que não o nosso sistema solar: na quinta-feira, a Nasa revelou que foi recentemente descoberto um pequeno asteróide (ou cometa), de cerca de 400 metros de diâmetro, que passou perto da órbita do Sol e da Terra entre Setembro e Outubro, numa trajectória veloz e muito pouco regular.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Pode ser o primeiro “objecto interestelar” a ser observado e registado por cientistas oriundo de um outro ponto da galáxia que não o nosso sistema solar: na quinta-feira, a Nasa revelou que foi recentemente descoberto um pequeno asteróide (ou cometa), de cerca de 400 metros de diâmetro, que passou perto da órbita do Sol e da Terra entre Setembro e Outubro, numa trajectória veloz e muito pouco regular.

“Estivemos à espera deste dia durante décadas”, assinalou Paul Chodas, o director do Center for Near-Earth Object Studies (CNEOS), um departamento da Nasa que estuda objectos cuja órbita se aproxima da Terra. “Há muito que se pensa que estes objectos existam – asteróides e cometas que se movem por entre as estrelas e que, ocasionalmente, passam pelo nosso sistema solar – mas esta é a primeira vez que é detectado [um desses objectos]”, explicou, citado pela Nasa.

O objecto veio dos lados da constelação Lira (uma pequena constelação observada no Hemisfério Norte que contém a estrela Vega, uma das mais brilhantes do nosso céu nocturno) e atravessou o espaço sideral a uma velocidade de 25 quilómetros por segundo. O objecto surgiu “de cima” do plano onde os planetas orbitam o Sol, passou entre a órbita de Mercúrio e o Sol. O mais próximo que esteve da estrela foi a 9 de Setembro último.

Foto
NASA/JPL-Caltech

Por causa da atracção exercida pela gravidade do Sol, a trajectória do asteróide fez uma curva e começou a passar “por baixo” do sistema solar. Foi a 14 de Outubro que o asteróide passou por baixo da Terra – mas não tão perto assim: o objecto estava a uma distância de 24 milhões de quilómetros (60 vezes a distância da Terra à Lua). Agora, o objecto celestial viaja a 44 quilómetros por segundo e está a mover-se em direcção à constelação de Pégaso.

“Esta é a órbita mais radical que já vi”, disse o cientista Davide Farnocchia, do centro de investigação CNEOS, na Califórnia. “Move-se extremamente rápido e numa trajectória tal que podemos dizer com confiança que este objecto está a sair do sistema solar e não regressará”, afirmou ainda. A sua órbita, em forma de hipérbole, é forte o suficiente para escapar à atracção gravitacional do sol.

O objecto – que, por agora, tem o nome de A/2017 U1 – foi descoberto a 19 de Outubro por um telescópio na Universidade do Havai e foi Rob Weryk, um investigador no instituto de astronomia da universidade, o primeiro a identificá-lo. Apercebeu-se logo que se tratava de um objecto invulgar pela sua órbita estranha, que não encaixava com as órbitas normais de asteróides e cometas do sistema solar. Mas, após uma análise de todos os dados recolhidos, surgiu uma teoria que fazia sentido: o objecto vinha de fora do sistema solar.

Daqui em diante, os astrónomos esperam obter mais informações sobre o corpo celeste para conseguirem estudar qual a sua origem e a sua composição. Para já, sabe-se que tem menos de meio quilómetro de diâmetro e que, segundo os cientistas, era muito veloz. Ainda não se sabe ao certo se se trata de um cometa ou de um asteróide – ainda que ambos se tenham formado no início dos sistemas solares diferem, por exemplo, em termos de composição: os asteróides tendem a ser rochosos e os cometas são formados sobretudo por gelo.

“Se as observações futuras confirmarem a natureza invulgar desta órbita, este objecto pode ser o primeiro caso inequívoco de um cometa interestelar”, lê-se numa nota divulgada pelo centro internacional Minor Planet Center. Será, assim, a primeira visita registada de um objecto vindo de um outro ponto da Via Láctea.