“Os vinhos portugueses ainda não têm a reputação que merecem”

Christian Seely, sócio da Quinta da Romaneira e director da Axa Millésimes, responde a algumas perguntas sobre o estado da arte do vinho português.

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Christian Seely é sócio da Quinta da Romaneira e director da Axa Millésimes, que detém a duriense Quinta do Noval e o Château Pichon Baron, em Bordéus, entre outras propriedades. No final da apresentação do novo Quinta da Romaneira Reserva 2015, respondeu a algumas perguntas sobre o estado da arte do vinho português.

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Christian Seely é sócio da Quinta da Romaneira e director da Axa Millésimes, que detém a duriense Quinta do Noval e o Château Pichon Baron, em Bordéus, entre outras propriedades. No final da apresentação do novo Quinta da Romaneira Reserva 2015, respondeu a algumas perguntas sobre o estado da arte do vinho português.

Como é que o vinho português é visto lá fora?
Sou vendedor de vinhos de Bordéus e da Borgonha e faço muitas viagens pelo mundo e tenho a impressão de que os vinhos portugueses ainda são pouco conhecidos e que ainda não têm a reputação que merecem. Mas acho que é uma questão de tempo. No Douro, por exemplo, a emergência dos grandes vinhos tintos é muito recente. Os consumidores de vinhos de gama alta de Bordéus e da Borgonha ainda não sabem que existem no Douro vinhos do mesmo nível. É preciso dar-lhes a provar esses vinhos. Eu vivo em Bordéus e tenho grandes vinhos desta região na minha cave e quando vou escolher um vinho para jantar ou é um Château Pichon Baron ou é um Quinta da Romaneira. É uma escolha de qualidade igual. Só que o preço do Pichon Baron é uma coisa e o da Romaneira outra.

Estamos a falar de que valores?
Uma garrafa de Pichon Baron custa cerca de 150 euros e o Romaneira entre 35 e 40 euros. Mas é normal. O Pichon Baron tem uma grande reputação, construída ao longo de muito tempo, e o Quinta da Romaneira é um vinho recente.

Não há também um problema de imagem?
É verdade que a imagem que o consumidor mais esclarecido, sobretudo nos Estados Unidos, tem dos vinhos portugueses é a de que são bons e baratos. E esta imagem não é positiva. Se queremos, por exemplo, vender um grande vinho do Douro por um preço alto — e um grande vinho do Douro nunca pode ser barato, porque os custos de produção são elevados — fica mais difícil. E há outro aspecto negativo: as casas tradicionais de vinho do Porto sempre venderam o vinho com as suas marcas e não com o nome das quintas — o Noval foi sempre a excepção. Há consumidores ingleses que conhecem os grandes vinhos do Porto há décadas e que nunca ouviram falar do Douro. Confesso que sinto uma grande frustração em relação ao mercado inglês. Quando começámos a fazer vinhos tintos de alta qualidade, pensei que os ingleses iriam aderir rapidamente, por causa do vinho do Porto. Mas não está a ser tão rápido quanto eu esperava.

Qual é o mercado mais apelativo para os vinhos portugueses?
É bem possível que o mercado chinês seja um bom mercado. Quando eu comecei a visitar a China para promover os vinhos de Bordéus, no fim dos anos 90, não vendíamos nada. Hoje, a China representa entre 25 a 30% das vendas de Pichon Baron e não é mais porque limitámos as vendas. Os chineses não têm ideias pré-concebidas sobre Portugal e sobre os vinhos portugueses. Na verdade, não têm ideia nenhuma. Como é uma terra virgem, os vinhos portugueses têm um grande potencial de venda.