Al Gore volta a ser inconveniente, mas com optimismo
O degelo na Gronelândia ou as cheias em Miami são algumas das imagens que vemos no novo documentário de Al Gore, Uma Sequela Inconveniente: A Verdade ao Poder. Contudo, o ex-vice-Presidente dos Estados Unidos também nos diz que vamos conseguir vencer a crise climática e ainda elogia Portugal.
Já passaram dez anos desde que Al Gore nos trouxe Uma Verdade Inconveniente e nos avisou de que as alterações climáticas estão a decorrer a um ritmo frenético e ameaçam as gerações futuras. Entretanto, por esses avisos, o ex-vice-Presidente dos Estados Unidos ganhou o Prémio Nobel da Paz em 2007 e encheu auditórios pelo mundo. No último ano, o seu alerta foi acompanhado por um novo documentário: Uma Sequela Inconveniente: A Verdade ao Poder. Depois de se ter estreado em Portugal no CineEco – Festival Internacional de Cinema Ambiental da Serra da Estrela (Seia), passou esta quinta-feira pela Culturgest (Lisboa) no âmbito Doclisboa - Festival Internacional de Cinema.
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Já passaram dez anos desde que Al Gore nos trouxe Uma Verdade Inconveniente e nos avisou de que as alterações climáticas estão a decorrer a um ritmo frenético e ameaçam as gerações futuras. Entretanto, por esses avisos, o ex-vice-Presidente dos Estados Unidos ganhou o Prémio Nobel da Paz em 2007 e encheu auditórios pelo mundo. No último ano, o seu alerta foi acompanhado por um novo documentário: Uma Sequela Inconveniente: A Verdade ao Poder. Depois de se ter estreado em Portugal no CineEco – Festival Internacional de Cinema Ambiental da Serra da Estrela (Seia), passou esta quinta-feira pela Culturgest (Lisboa) no âmbito Doclisboa - Festival Internacional de Cinema.
No início do filme, várias vozes expressam dúvidas sobre o aquecimento global. Uma delas é de Donald Trump. E Al Gore diz com assertividade: “Sim, acredito.” Como prova de que as alterações climáticas estão em curso, o documentário transmite imagens do degelo. Aliás, o novo filme realizado por Bonni Cohen e Jon Shenk, que se estreou no Verão nos EUA, é feito de imagens que nos confrontam com a influência das alterações climáticas no planeta: desde as cheias em Miami ou nas Filipinas, passando pela seca intensa na Síria, até ao degelo dos glaciares na Gronelândia.
Al Gore entra em alguns desses cenários, tanto para percorrer os glaciares com os cientistas, como para falar com as autoridades de Miami ou com ambientalistas nas Filipinas. Nem por isso deixa de fazer a sua habitual apresentação num auditório. Desta vez, decide fazer ligações entre as temperaturas elevadas e o surto do vírus Zika, por exemplo. E até improvisa as perguntas que as gerações futuras farão aos seus antecessores: “O que vos passou pela cabeça?”
Já não mostra o gráfico com a subida dos níveis de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera que aparecia no filme anterior, mas há um outro que indica o rápido crescimento da indústria da energia solar. Al Gore tenta traçar soluções e, para ele, essas soluções passam pelas energias renováveis. Para isso, até dá o exemplo de Portugal, que em 2016 conseguiu ter electricidade completamente renovável durante quatro dias e meio. O auditório quase cheio da Culturgest aplaudiu.
“Al Gore percebeu que isso era um factor de mudança”, considera Francisco Ferreira, presidente da Associação Zero e professor na Universidade Nova de Lisboa, presente na sessão. “Portugal tem avançado imenso nas renováveis.” Mesmo assim, há muito a fazer e resume: “As renováveis, a recuperação da floresta como sumidouro [de C02] e a aposta no transporte público e sustentável são os caminhos principais.”
“Líderes climáticos” em Portugal
Voltando a Al Gore (porque o filme com cerca de uma hora e meia é também um pouco sobre si), podemos encontrá-lo no metro de Paris em direcção à conferência da ONU sobre o clima de 2015. Já lá, onde se chegou ao Acordo de Paris, podemos vê-lo a tentar persuadir Lyndon Rive, co-fundador da empresa norte-americana SolarCity, especializada em energia solar, para conceder à Índia uma patente de tecnologia solar. O Acordo de Paris acabou por ser aprovado (incluindo com o apoio da Índia). E os líderes mundiais fizeram uma ovação em pé. O novo filme menciona o novo “contratempo” que é Donald Trump, que este ano decidiu retirar os EUA do acordo, segundo o qual os países se comprometeram a limitar a subida da temperatura abaixo dos dois graus Celsius. De cinco em cinco anos, cada país tem de apresentar planos para diminuir os efeitos das alterações climáticas.
Agora estamos perto de uma nova conferência sobre o clima, entre 6 e 17 de Novembro em Bona, na Alemanha. “Vai preparar o texto da regulamentação do Acordo de Paris, que tem de estar terminado no próximo ano”, explica Francisco Ferreira.
“As metas de Paris não são suficientes para atingirmos os dois graus de aumento de temperatura. Temos de apertar ainda mais o cinto”, avisa Francisco Ferreira já no debate após o filme, que juntou Júlia Seixas (coordenadora da iniciativa Climate-KIC), Sérgio Ribeiro (da Startup Planetiers), Luísa Schmidt (socióloga) e João Camargo (do movimento ambientalista Climáximo).
Sobre o filme, Júlia Seixas referiu que não “afrontou” a política dos combustíveis fósseis nos Estados Unidos. Já para Francisco Ferreira, faltou abordar a área da alimentação, as emissões dos transportes ou as acções que podemos fazer no dia-a-dia. “É um filme a ver, mas que nos deve desencadear uma visão crítica”, salienta. Mas Luísa Schmidt frisou outro aspecto: “Só vamos conseguir dar sentido a esta acção se conseguirmos entusiasmar as pessoas e se elas sentirem que podem fazer parte da solução.” E referiu a importância da educação e de fazer as pessoas pensar sobre este tema.
Aliás, além da Zero, a sessão deste filme foi apoiada pelo The Climate Reality Project Portugal, que foi fundado por Al Gore para mobilizar “líderes climáticos”. Al Gore começou por juntar 50 formandos na sua quinta no Tennessee (EUA) e hoje já há formações em vários locais do mundo. Esses “líderes climáticos” têm depois acesso a toda a informação actualizada sobre as alterações climáticas e dão sessões em escolas ou participam em debates. Em Portugal, já há quatro desses líderes: Francisco Ferreira (que teve formação em Denver, nos EUA), Carlos Fulgêncio, Pedro Macedo e Edna Peres. “Estamos disponíveis para dar sessões”, esclarece Francisco Ferreira, que diz que podem ser contactados pelo Facebook.
“As delegações do The Climate Reality Project, apoiadas por mais de 12 mil líderes, têm tido um impacto profundo no nosso esforço comum para enfrentar a crise climática”, disse Al Gore numa intervenção gravada para passar antes do filme, cuja estreia não está prevista nos cinemas portugueses, segundo a distribuidora NOS. Afinal, Al Gore acaba por ser um optimista e acha que podemos vencer a luta contra as alterações climáticas: “Vamos vencer. Vamos resolver a crise climática.”