O inepto
O que fica claro é que este processo é cada vez mais o fruto de jogadas de bastidores inconsequentes e menos a expressão de uma vontade popular – vontade essa que nunca foi sequer claramente expressa pela maioria dos catalães.
O processo de independência da Catalunha voltou, esta quinta-feira, a complicar-se. A inépcia política de Carles Puigdemont marcou todo este processo com recuos e investidas mais ou menos envergonhadas. Ontem estava pronto a convocar eleições, mas afinal recuou, tal como já tinha feito na putativa declaração de independência que não chegou a ser.
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O processo de independência da Catalunha voltou, esta quinta-feira, a complicar-se. A inépcia política de Carles Puigdemont marcou todo este processo com recuos e investidas mais ou menos envergonhadas. Ontem estava pronto a convocar eleições, mas afinal recuou, tal como já tinha feito na putativa declaração de independência que não chegou a ser.
Apesar de saber que o desfecho mais lógico para todo o processo seria sempre a realização de nova consulta popular, permitindo reforçar a legimitidade de um poder catalão que negoceie com o Governo central, Carles Puigdemont voltou a recusar esse caminho.
O que fica claro é que este processo é cada vez mais o fruto de jogadas de bastidores inconsequentes e menos a expressão de uma vontade popular – vontade essa que nunca foi sequer claramente expressa pela maioria dos catalães.
É indesmentível que Rajoy, representante de toda a autoridade de Madrid, cometeu muitos erros e contribuiu também para dar maior dimensão política a toda esta questão independentista. Mas é inegável que os independentistas da Catalunha conduziram mal um processo que teria sempre de ser unânime, objetivo e decidido. Com Puigdemont à frente, foi tudo menos isso: não foi unânime porque nasceu do aproveitamento do regime parlamentar para fazer passar o provimento ao referendo; não foi objetivo porque nunca houve a coragem política para mostrar quão necessário para a região era esta mudança, parecendo muito mais um projeto de elites do que um desejo genuíno de um povo que esteve, sempre, dividido; e não foi decidido porque o calculismo de curto prazo imperou sempre face às opções estratégicas.
Os ideólogos de serviço que empurraram Puigdemont para esta solução nunca quiseram assumir a fatura e, se Puigdemont quis, não o soube fazer. Fraturou a Catalunha e, com ela, a legitimidade da deriva independentista. Ficou claro para todos que o projeto nacionalista catalão é acima de tudo um projeto de poder e projeção política para uma dúzia de iluminados, revelando que este projeto concreto traz consigo o pior dos movimentos independentistas: o desprezo pela vontade popular, a soberba sobre o futuro e a ignorância face aos imensos riscos da opção isolacionista.
Não tinha de ser assim. Aliás, o nacionalismo catalão original não é isto – mas neste momento é-o, porque está capturado pelas forças ideológicas que o condenaram primeiro ao isolamento e agora ao ridículo.