Ricardo Ribeiro canta Zeca Afonso, como quis o destino
Respondendo a uma Carta Branca do Centro Cultural de Belém, o fadista apresenta esta quinta-feira um Tributo a José Afonso, com arranjos do pianista Filipe Raposo.
Deram-lhe carta branca e ele escolheu José Afonso. Depois das suas experiências com orquestra em Fado Barroco ou na Toada de Portalegre, de José Régio, e de um disco inspirado em Miguel Torga (Hoje É Assim, Amanhã Não Sei, de 2016, distinguido com o Prémio Carlos Paredes), o fadista e cantor Ricardo Ribeiro interpretará agora um cantor e compositor fundamental do século XX português. Escolha sua, em resposta a um convite do Centro Cultural de Belém para o programa Carta Branca. Será esta quinta-feira, no Grande Auditório, em Lisboa, às 21h.
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Deram-lhe carta branca e ele escolheu José Afonso. Depois das suas experiências com orquestra em Fado Barroco ou na Toada de Portalegre, de José Régio, e de um disco inspirado em Miguel Torga (Hoje É Assim, Amanhã Não Sei, de 2016, distinguido com o Prémio Carlos Paredes), o fadista e cantor Ricardo Ribeiro interpretará agora um cantor e compositor fundamental do século XX português. Escolha sua, em resposta a um convite do Centro Cultural de Belém para o programa Carta Branca. Será esta quinta-feira, no Grande Auditório, em Lisboa, às 21h.
As razões da escolha, explica-as Ricardo Ribeiro deste modo: “É um dos compositores que eu mais admiro, na música portuguesa. E porque é um criador muito profundo, muito intenso e muito belo. Eu tinha várias ideias, mas escolhi Zeca Afonso porque não é justo que só nos lembremos dele em Abril. Porque ele é muito mais do que essa parte da intervenção. Pode parecer chocante achar que há mais do que isso, mais do que a liberdade, mas ele tem um lado muito humano, era um humanista.”
Depois convidou Filipe Raposo, pianista e compositor, que assegura os arranjos e a direcção musical do espectáculo. “Eu queria juntar músicos portugueses que fossem da área erudita, do jazz ou da clássica, mas tivessem ao mesmo tempo uma linguagem portuguesa. Porque apesar de o Zeca Afonso ser um homem da multiculturalidade e aberto ao mundo, era muito português naquilo que escrevia e compunha. Sente-se nele determinado lusitanismo, e eu queria músicos que transportassem isso. Que não fossem só músicos com grande erudição mas que soubessem também entrar no espírito dessas aldeias que o Zeca Afonso percorria e onde fazia melodias como Sal de linguagem feita, muito frágil, que pode considerar-se um bocadinho ingénua, naïf, mas não é, tem um jogo muito poderoso em termos de português.”
Para Filipe Raposo, "há uma coisa muito importante, a fronteira entre o erudito e o popular", que José Afonso "faz na perfeição": "Há o lado profundo, poético, do texto, estou a lembrar-me das Endechas a bárbara escrava, que é uma composição dele com poema de Camões; e ao mesmo tempo há um lado, que eu diria naïf, das melodias do Zeca, como se ele fosse um rapaz que brinca com as melodias mas ao mesmo tempo com a maturidade que o poema exige.” Quanto ao convite, Filipe aceitou-o logo. “Era uma espécie de síntese que me foi dada ao longo de muitos anos. Comecei a trabalhar com o José Mário Branco quando tinha 24 anos; nesse mesmo ano começo a trabalhar com a Amélia Muge e com o Fausto, alguns anos depois com o Sérgio Godinho, com o Janita Salomé e com o Vitorino. Quem eram estas pessoas? Eram herdeiros legítimos da obra do Zeca. E todas essas influências foram ficando na minha forma de escutar, de ler e de transmitir uma música que é a minha matriz também.”
"Ouvi coisas lindíssimas"
A escolha das canções não foi feita pela poesia ou pela música, mas “pelo todo”, diz Ricardo. E ele já escolhera algumas: Que amor não me engana, Vejam bem, Era um redondo vocábulo, Maria faia, Senhora do Almortão, Canção da paciência. “Depois o Filipe sugeriu-me as Endechas a bárbara escrava. Eu já tinha ouvido uma versão do Sérgio Godinho, mas depois fui ouvir a do Zeca, não a conhecia, e achei fantástica. E foi uma bola de neve, fomos seleccionando.” Filipe diz: “Fomos trabalhando no songbook, para ver o que melhor se adequava a esta dramaturgia. E depois fomos escutar.” Foi em Janeiro que Ricardo escolheu o motivo desta carta branca. “É esta história do destino. Quatro meses depois, ainda nem sequer estava anunciado o CCB, o Vitorino convidou-me para fazer um concerto com ele, em Coimbra, a cantar Zeca Afonso. E ouvi coisas lindíssimas dele, que eu nem conhecia. Nem dava para este espectáculo, senão eram cinco horas de música!”
Com Ricardo Ribeiro (voz), estarão no CCB Filipe Raposo (piano), Mário Delgado (guitarras), Ricardo Toscano (saxofone), António Quintino (baixo) e Jarrod Cagwin (percussões).