Pesca de arrasto é “comparável à destruição de florestas tropicais”

O arrasto afecta os habitats, as cadeias alimentares e a biodiversidade marinha, segundo uma iniciativa da Gulbenkian sobre os benefícios dos oceanos, que refere também que a energia renovável marinha é ainda muito cara para competir com as restantes.

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70% das capturas por arrasto em Portugal são devolvidas ao mar, mas nem todos os animais sobrevivem REUTERS/Pascal Rossignol

Pela devastação que causa nos habitats marinhos e por ser a modalidade de pesca menos selectiva, a pesca de arrasto de fundo “é comparável à destruição de florestas tropicais” e é também “a mais destrutiva para o ambiente”. Isto segundo dados recolhidos no âmbito da Iniciativa Gulbenkian Oceanos (IGO), desenvolvida ao longo de cinco anos, em que é ainda revelado que os custos ambientais ultrapassam os benefícios desta pesca e que devem ser tomadas medidas para a limitar. Os resultados dos vários estudos desenvolvidos foram apresentados nesta quarta-feira, na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa.

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Pela devastação que causa nos habitats marinhos e por ser a modalidade de pesca menos selectiva, a pesca de arrasto de fundo “é comparável à destruição de florestas tropicais” e é também “a mais destrutiva para o ambiente”. Isto segundo dados recolhidos no âmbito da Iniciativa Gulbenkian Oceanos (IGO), desenvolvida ao longo de cinco anos, em que é ainda revelado que os custos ambientais ultrapassam os benefícios desta pesca e que devem ser tomadas medidas para a limitar. Os resultados dos vários estudos desenvolvidos foram apresentados nesta quarta-feira, na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa.

Ainda que a União Europeia tenha proibido no início deste ano a pesca de arrasto a mais de 800 metros de profundidade, a medida (que continua a ser “positiva”) “tem pouco impacto em águas portuguesas”, onde o arrasto ocorre em menor profundidade, lê-se no documento da iniciativa relativo à pesca de arrasto.

Isto tem consequências negativas para os ecossistemas marinhos: a pesca afecta as cadeias alimentares e remexe os fundos oceânicos, alterando os habitats; os fundos marinhos alvo de arrasto têm também menor biodiversidade e cerca de 70% das capturas do arrasto em Portugal são devolvidas ao mar, mas nem todos os animais (onde se incluem peixes jovens e outras espécies vulneráveis) sobrevivem às lesões. Estas consequências acabam por ser negligenciadas, diz o estudo, já que estão a centenas de metros de profundidade e há menos pressão para lidar com o assunto.

No meio de tudo isto, também há boas notícias. Segundo o estudo, se a pesca de arrasto parar, os organismos “podem recuperar relativamente rápido” dos danos sofridos até então.

Como o impacto ambiental do arrasto nos fundos marinhos é “insustentável”, a equipa que desenvolveu o estudo alerta que deve “começar imediatamente” uma “transição das pescas portuguesas para a sustentabilidade, através da redução progressiva do arrasto”. É também sugerido que se repense o modelo das pescarias em Portugal, que se aumente a malhagem das redes ou que se reduzam os apoios públicos a este tipo de pesca.

Em 2014, Portugal já tinha proibido a pesca no mar profundo numa área de mais de dois milhões de quilómetros quadrados (uma área equivalente a quatro Penínsulas Ibéricas) para promover pescas sustentáveis e a conservação dos ecossistemas marinhos. Com a aplicação da Agenda 2030 das Nações Unidas, há um objectivo para todos os países até 2020 de “eliminar subsídios que contribuam para a pesca ilegal” e para a pesca excessiva. 

A iniciativa promovida pela Gulbenkian teve como principal objectivo perceber qual o papel e os benefícios dos oceanos no desenvolvimento económico sustentável e também no bem-estar dos seres humanos. Foi à margem da conferência desta quarta-feira que a ministra do Mar, Ana Paula Vitorino, anunciou que a pesca da sardinha será proibida em zonas da região Centro e Norte, por serem “áreas importantes para a reprodução da espécie”.

Energia renovável marinha é ainda muito cara

Noutro dos projectos de investigação levados a cabo pela iniciativa, é revelado que a indústria da energia renovável marinha está a crescer em Portugal (e no resto da Europa) mas ainda é demasiado cara para competir com combustíveis fósseis e até outras energias renováveis. No entanto, espera-se que o preço destas energias marinhas – em que se incluem a energia das ondas, das correntes e das eólicas na costa – venha a diminuir nos próximos anos.

Nesse projecto, foi revelado que o primeiro parque eólico offshore (longe da costa) com sistema flutuante estará operacional a partir do próximo ano, depois do sucesso da fase-piloto (de cinco anos), em que foi produzida energia correspondente ao consumo de electricidade de mais de 1400 famílias. Ainda assim, foi noticiado nesta quarta-feira que a execução do projecto está sob pressão por falta de financiamento.

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Tecnologia do Windfloat na Póvoa de Varzim José Manuel Ribeiro/REUTERS

No que diz respeito à consciencialização ambiental do valor dos oceanos, Gonçalo Calado, um dos coordenadores da iniciativa da Gulbenkian, diz ao PÚBLICO que há ainda um longo caminho a travar mas que os cinco anos deste projecto permitiram que fossem dados alguns passos nesse sentido. Na sequência da iniciativa foram desenvolvidas várias actividades, envolvendo não só investigação científica mas também programas de formação e até jogos em escolas (que chegaram a mais de 1600 alunos).

Num outro trabalho de investigação desenvolvido na iniciativa, procurou-se estudar o valor económico dos benefícios dos oceanos no eixo Peniche-Nazaré, uma zona-piloto de Portugal escolhida pela sua diversidade. Foram feitos vários estudos relativos à pesca de arrasto, à pesca da sardinha ou à vulnerabilidade dos habitats costeiros.

E foi também estudado o impacto económico (estimado em alguns milhões de euros) depois da mediatização das ondas gigantes da Nazaré – que podem alcançar os 30 metros devido ao canhão da Nazaré, um dos maiores vales submarinos da Europa –, onde o surfista McNamara conseguiu bater um recorde do Guinness, que possibilitou “o reconhecimento mundial do valor das ondas gigantes”.

Apesar de a iniciativa ter terminado este ano, a Fundação Calouste Gulbenkian iniciará a partir do próximo ano um programa ligado à sustentabilidade ambiental que, não estando exclusivamente ligado aos oceanos, aplicará alguns dos conhecimentos adquiridos através da IGO.