Vida saudável permitiria evitar 69% das mortes prematuras
Bastaria para isso eliminar os principais factores de risco como o consumo de álcool, a má alimentação e o tabaco, a hipertensão arterial, a obesidade e o excesso de peso.
É um importante aviso à navegação: viver mais tempo e com mais saúde está em grande parte na nossas mãos. Nada que já não se soubesse, mas agora há dados que contabilizam com rigor os anos de vida saudável (sem doenças ou incapacidades) que podemos estar a perder.
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É um importante aviso à navegação: viver mais tempo e com mais saúde está em grande parte na nossas mãos. Nada que já não se soubesse, mas agora há dados que contabilizam com rigor os anos de vida saudável (sem doenças ou incapacidades) que podemos estar a perder.
As estimativas mais recentes sobre a chamada carga global da doença - que um instituto norte-americano está a calcular para Portugal por encomenda da Direcção-Geral da Saúde (DGS) - indicam que poderíamos ter evitado 41% do total de anos de vida saudável perdidos por morte prematura (ou seja, antes do esperado) em 2016. Bastaria para isso eliminar os principais factores de risco relacionados com o comportamento - o consumo de álcool, a má alimentação e o tabaco.
Mas há mais: a eliminação de outros factores de risco, como a hipertensão arterial e a obesidade e excesso de peso, poderia evitar "mais 28% dos anos de vida saudável perdidos por morte prematura". São contas que surgem numa espécie de antevisão de um trabalho sobre a carga global de doença (mortalidade prematura e incapacidade) que vai ser publicado no final deste ano e que acabam de ser divulgadas no site da DGS.
Peso da doença de Alzheimer aumentou
Os cálculos do Institute for Health Metrics and Evaluation (que em Fevereiro de 2017 assinou um protocolo com a DGS para melhorar estas estimativas a nível nacional) evidenciam também de forma clara o progresso do país nos últimos 26 anos em termos de saúde e de bem-estar. Mas apontam igualmente novos desafios.
As boas notícias merecem ser dadas em primeiro lugar: neste quarto de século foi notável a redução da carga de doença relacionada com acidentes rodoviários, doenças cerebrovasculares (como AVC´s) e doença isquémica de coração (enfartes de miocárdio). Agora, as más: neste período, o peso da doença de Alzheimer disparou, o que se explica porque esta patologia era pouco conhecida e pouco diagnosticada há 26 anos.
“Felizmente, perdemos bastante carga de doença por doenças transmissíveis e acidentes rodoviários, mas identificamos áreas em que temos que mudar e que dependem muito das nossas escolhas. Este trabalho vem, aliás, reforçar o que já sabíamos: está muito nas nossas mãos prolongar a nossa vida com qualidade”, destaca Ricardo Mexia, presidente da Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública.
No ranking das principais causas de morte prematura, ao contrário do que acontecia em 1990, no ano passado surge em primeiro lugar a doença isquémica cardíaca, seguida da doença cerebrovascular (uma inversão face a 1990), mas o mais impressionante é que o terceiro lugar é agora ocupado pela doença de Alzheimer, seguida do cancro de pulmão, que há 26 anos ocupava a sétima posição.
E, se em 1990 os acidentes rodoviários eram a terceira causa de morte prematura e o cancro de estômago a quarta, agora percebeu-se que a diabetes subiu muito neste ranking, tal como as doenças respiratórias e ao cancro colo-rectal. Em contrapartida, a cirrose alcoólica desceu.
"Temos que reduzir os factores de risco"
"Evoluímos muito em poucos anos, mas temos que reduzir os factores de risco. Este é um problema complexo que se resolve com soluções múltiplas", defende pelo seu lado o médico de saúde pública Mário Durval, que lembra que ainda há cerca de 21 mil pessoas que morrem prematuramente (antes dos 70 anos) em Portugal.
Olhemos agora para outros indicadores que evidenciam também um progresso significativo: se em 1990 Portugal tinha uma das esperanças de vida mais baixas no conjunto de países mais ricos, agora exibe uma esperança de vida comparável à média destes países.
Uma evolução que se fica a dever sobretudo à redução das mortes prematuras por doenças cardiovasculares e por acidentes rodoviários, frisa a DGS. O problema é que o aumento dos anos de vida com boa saúde (esperança de vida saudável, anos vividos sem doenças e incapacidades) foi neste período inferior ao aumento dos anos de vida.
Dores de costas
Em média, as mulheres portuguesas que nasceram em 2016 podem assim esperar viver 84 anos, mas apenas 72.3 anos com boa saúde. Já os homens nascidos no mesmo ano podem esperar viver 77.8 anos, 68.6 dos quais sem doenças ou incapacidades. “Estamos no caminho certo, mas a ir demasiado devagar. Vivemos mais anos, mas vivemos pior, vivemos mais tempo com incapacidades. O que se pretende é que a população possa usufruir mais da longevidade”, sublinha Ricardo Mexia.
No trabalho feito para a DGS pelo instituto norte-americano, não se analisam apenas as causas que impedem a população de viver os anos de vida que seriam de esperar. Olha-se também para as patologias que provocam incapacidades. As doenças crónicas foram responsáveis por 88,5% do total de anos de vida saudável perdidos e aqui não houve grandes mudanças: as dores de costas e de pescoço continuam a ser a maior causa de incapacidade, as perturbações depressivas persistem no topo da lista, tal como as enxaquecas. O que aumentou substancialmente foi a incapacidade devida a diabetes e a doença de Alzheimer tal como as doenças musculo-esqueléticas.