Madeira: convergência à direita para manter influência autárquica

PSD e CDS ensaiam uma aproximação inédita na Madeira. Para já, conseguiram a presidência da Assembleia Municipal do Funchal, mas o alvo principal é a associação de municípios madeirense.

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Miguel Albuquerque diz que as câmaras nas mãos da esquerda precisam de ser rigorosamente escrutinadas LUSA/HOMEM DE GOUVEIA

Há uma convergência entre o PSD e o CDS na Madeira para contrariar a influência da esquerda no plano autárquico. O objectivo final é a presidência da Associação de Municípios da Região Autónoma da Madeira (AMRAM), que desde 2013 é liderada pelo presidente da Câmara do Funchal, Paulo Cafôfo.

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Há uma convergência entre o PSD e o CDS na Madeira para contrariar a influência da esquerda no plano autárquico. O objectivo final é a presidência da Associação de Municípios da Região Autónoma da Madeira (AMRAM), que desde 2013 é liderada pelo presidente da Câmara do Funchal, Paulo Cafôfo.

A primeira indicação deste plano da direita saiu da eleição para a mesa da Assembleia Municipal de São Gonçalo, uma pequena freguesia limítrofe do Funchal, onde os membros eleitos do PSD e do CDS se uniram para ganhar aquele órgão autárquico, cujo presidente foi eleito pela coligação de esquerda liderada por Paulo Cafôfo, Confiança.

A eleição foi tudo menos pacífica. Com seis representantes eleitos, o mesmo número que o PSD, a coligação esperava a abstenção do eleito pelo CDS, que acabou por votar ao lado dos sociais-democratas. No final, enquanto a lista do PSD tomava posse na mesa, ouviam-se insultos na sala. Acabou por ser o próprio Cafôfo a intervir para serenar os ânimos.

Se, no continente, e mesmo nos Açores, as alianças PSD e CDS não são novidade, na Madeira são prática inédita. Alberto João Jardim nunca precisou de coligar-se, e, mesmo se precisasse, o estilo truculento com que encarava o combate político inviabilizaria qualquer aproximação, quer à direita, quer à esquerda. Agora, e depois de umas eleições autárquicas que redesenharem o mapa político local do arquipélago, e num país onde a esquerda é Governo em Lisboa e nos Açores, a direita regional não quer ser ultrapassada pela esquerda.

O segundo movimento deste xadrez político jogou-se na passada sexta-feira no tabuleiro da Assembleia Municipal do Funchal. A coligação Confiança, que junta PS, Bloco, JPP, Nós, Cidadãos! e PDR, ganhou a câmara com maioria – tem seis vereadores contra quatro do PSD e um do CDS – mas na assembleia as contas são mais complicadas. A coligação tem 20 mandatos, os mesmos que o PSD (17) e o CDS (três) juntos, e a decisão entre a continuidade do bloquista Rodrigo Trancoso como presidente da assembleia municipal ou a eleição de Mário Rodrigues, o nome escolhido pelo PSD ficou nas mãos do PTP, MPT e PCP, com um deputado municipal cada. Ganhou o social-democrata por um voto (22-21).

A próxima batalha será na Associação de Municípios da Região Autónoma da Madeira. Em 2013, mesmo tendo sido o partido que conquistou mais câmaras (quatro), o PSD não conseguiu segurar a associação de municípios, já que os presidentes das restantes sete câmaras ganhas pela oposição apoiaram a candidatura de Paulo Cafôfo. Agora, e com três autarquias, o mesmo número do PS e de movimentos independentes de diferentes quadrantes políticos, o PSD tenta recuperar, ou pelo menos trazer para a direita, a ALRAM.

Teófilo Cunha, autarca de Santana eleito pelo CDS, é o nome escolhido para concorrer com Cafôfo. Tem já garantidos os três votos do PSD (Câmara de Lobos, Porto Santo e Calheta), o de Santana e o de São Vicente, onde ganhou um movimento independente apoiado pela direita. Ao lado de Cafôfo estão as três câmaras socialistas (Porto Moniz, Machico e Ponta do Sol), a do Funchal e a de Santa Cruz (JPP). Cinco a cinco, o desempate há-de vir da Ribeira Brava, das mãos de independentes apoiados pelo CDS e ex-militantes do PSD.

Perante estas alianças, a esquerda tradicional protesta e o PSD lembra as “gerigonças” do Governo da República e da Câmara do Funchal. “As câmaras que são neste momento lideradas pela esquerda ou por 'geringonças' de esquerda precisam de ser rigorosamente escrutinadas”, argumenta Miguel Albuquerque, presidente do PSD-Madeira, dizendo que o partido respeita as escolhas da oposição, mas tem o dever de fiscalizar a governação e o cumprimento dos compromissos assumidos pelos executivos municipais da oposição.