Macri arrasa peronismo nas legislativas e promete "mudar para sempre o país"
Presidente da Argentina deu a volta por cima após queda nas sondagens e arrecadou vitória contundente nas intercalares de domingo. Cristina Kirchner conseguiu ser eleita para o Senado, garantindo imunidade de acusação nos processos por corrupção e fraude financeira.
O movimento “Mudemos” do Presidente da Argentina, Mauricio Macri, converteu-se na maior força política do país após as eleições legislativas deste domingo, arrecadando a maioria dos votos nas cinco maiores províncias e pondo fim ao domínio do peronismo, representado por Cristina Kirchner e o seu novo partido Unidade Cidadã.
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O movimento “Mudemos” do Presidente da Argentina, Mauricio Macri, converteu-se na maior força política do país após as eleições legislativas deste domingo, arrecadando a maioria dos votos nas cinco maiores províncias e pondo fim ao domínio do peronismo, representado por Cristina Kirchner e o seu novo partido Unidade Cidadã.
Segundo os resultados oficiais, 40% dos eleitores sancionaram a via do “oficialismo”, dando ao partido de Macri a vitória em 13 das 23 províncias da Argentina, incluindo a capital Buenos Aires (onde o “Mudemos” bateu a fasquia dos 50%), e os principais bastiões do peronismo, Córdoba, La Rioja, Salta, Entre Ríos ou Santa Fé.
“Vencemos o medo e a resignação e garantimos a transformação da Argentina”, celebrou um efusivo Mauricio Macri, que prometeu “acabar com a conversa do impossível” e “mudar para sempre o país”. “Aos que acham que não se pode, dizemos basta. Estamos decididos a mudar a História e a fazer as coisas bem. Este ano já estamos a crescer, vamos crescer mais no próximo ano e ainda mais no ano a seguir. O nosso sonho é acabar com a pobreza”, revelou.
A vitória do “Mudemos” está personalizada na figura do Presidente, que sobreviveu à queda de vinte pontos na popularidade (as suas políticas de austeridade elevaram o desemprego para os 9% e fizeram a inflação disparar para os 40%) e ao escândalo do desaparecimento do estudante Santiago Maldonado, visto pela última vez em Agosto numa manifestação de indígenas mapuches da Patagónia que foi violentamente reprimida pela polícia. O seu corpo foi encontrado dois dias antes da eleição, mas os esforços da oposição para responsabilizar o Presidente e penalizar politicamente o seu partido acabaram por não surtir efeito.
A votação foi um referendo às políticas económicas do Governo e à agenda de reconstrução do país de Mauricio Macri. O que os argentinos tinham de decidir era se na recomposição do Parlamento concentravam o poder nas mãos do partido do Presidente – o milionário que foi eleito por uma unha negra em 2015 e lidera um Governo minoritário –, ou se mantinham viva a corrente peronista, reforçando o estatuto de Cristina Kirchner, candidata a senadora pela província de Buenos Aires. A ex-Presidente, que fundou a sua nova coligação com elementos peronistas e de centro-esquerda em Junho, foi derrotada pelo concorrente do “Mudemos”, Esteban Bullrich – que obteve 41% dos votos contra os 37% de Kirchner. Os quatro pontos de diferença correspondem a cerca de 400 mil votos.
Apesar da derrota, Cristina Kirchner encontrou nos resultados de domingo razões para celebrar. Indiciada pelos crimes de corrupção e fraude financeira em quatro processos judiciais distintos, a ex-Presidente acabou por conseguir um lugar no Senado, o que lhe garante imunidade de acusação. “Hoje não acaba nada, hoje começa tudo”, disse Kirchner aos seus apoiantes, que tiveram de esperar quase até à meia-noite por uma declaração formal. “A Unidade Cidadã acaba de emergir como a oposição mais firme a este Governo. Somos a verdadeira alternativa: fomos capazes de crescer e estamos preparados para enfrentar a mais enorme concentração de poder de que há memória na Argentina”, prometeu.
Como lembrava o El País, a vitória não é inédita no país. Aconteceu pela última vez em 1985, quando o então Presidente Raúl Alfonsin, peronista, venceu a votação intercalar para o Parlamento por larga maioria. Nas eleições de domingo estavam em jogo metade dos assentos da Câmara de Deputados da Argentina, e um terço dos mandatos do Senado.
Após sete décadas de domínio político, e ao fim de 13 anos do chamado “kirchnerismo” (as presidências de Nestor e de Cristina Kirchner), a corrente peronista está dividida em três partidos: o Partido Justicialista, formação original e onde se encontra a ala mais à direita do movimento; a Frente Renovadora fundada pelo antigo chefe de gabinete de Cristina Kirchner, e a nova coligação da ex-Presidente. A rotação do eixo político argentino para o movimento de Macri, e o domínio do “Mudemos” a nível nacional, não é alheia a esta fragmentação do peronismo, dizem os analistas políticos.