Wasted Rita e a tristeza de sermos forçados à felicidade
Como encarar a tristeza de forma divertida? Na exposição As Happy As Sad Can Be, de Rita Gomes, ou seja Wasted Rita, que é inaugurada esta sexta-feira em Lisboa, é possível encontrar algumas respostas.
Não é apenas a pressão social para parecermos sempre felizes. É também a ilusão de que podemos alcançar a felicidade sem aceder a estados de tristeza, angústia ou frustração. A felicidade é mais indissociável da tristeza do que tendemos a admitir. Atingir uma implica ter consciência da outra. Esse binómio esteve sempre presente no trabalho artístico de Rita Gomes (Porto, 1988), ou seja Wasted Rita, mas inicialmente estava concentrado nas relações a dois, nos encontros e desencontros amorosos. Agora são as relações sociais que a motivam.
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Não é apenas a pressão social para parecermos sempre felizes. É também a ilusão de que podemos alcançar a felicidade sem aceder a estados de tristeza, angústia ou frustração. A felicidade é mais indissociável da tristeza do que tendemos a admitir. Atingir uma implica ter consciência da outra. Esse binómio esteve sempre presente no trabalho artístico de Rita Gomes (Porto, 1988), ou seja Wasted Rita, mas inicialmente estava concentrado nas relações a dois, nos encontros e desencontros amorosos. Agora são as relações sociais que a motivam.
Já era assim em The People, The Living Dying and All the Sarcasm Fun in Between (2016), a exposição de Dezembro do ano passado no Porto, mas agora é ainda mais nítido em As Happy As Sad Can Be Wasted Rita, composta inteiramente por trabalhos novos, que tem a sua inauguração esta sexta-feira na galeria Underdogs (Rua Fernando Palha, 56, em Lisboa), mantendo-se até 18 de Novembro. “Por um lado queria emancipar-me dessa ideia, ou dessa pressão, de que temos de estar sempre à procura da felicidade, por outro queria mostrar que existem pessoas que nem sempre conseguem ser felizes mas estão OK com isso. Não é o fim do mundo.”
Não têm de se sentir culpadas. O que não é fácil. Olha-se em redor, para as redes sociais por exemplo, e toda a gente parece ter uma existência excitante, luminosa, feliz. “Eu também acabo por fazer um pouco o mesmo, porque existe a tentação de passar uma auto-imagem apelativa”, aceita ela, “mas na maior parte dos casos esse tipo de comportamentos funciona apenas como pedido de atenção”. E conclui: “Mas a pressão para se ser positiva a toda a hora existe. Se não o fores é quase como se tivesses um cancro. Acho que é possível ser negativa e isso não ser necessariamente mau, podendo funcionar como factor de vitalidade.”
Nos últimos anos, a artista e ilustradora tem vindo a acumular uma grande legião de admiradores. Não surpreende. Plenas de ansiedade existencial, mistura de sarcasmo e desarmante sinceridade, as suas investidas poéticas sobre a vida moderna, a cultura popular e os comportamentos denotam um grande domínio da linguagem pós-Internet, ao mesmo tempo que constituem um estimulante contraponto ao universo por vezes demasiado institucionalizado ou codificado de alguma arte contemporânea.
Têm sido constantes as suas aparições em exposições, livros ou revistas num crescente número de países à volta do mundo, de Inglaterra à Tailândia, da Croácia ao Canadá, tendo estado presente também em Dismaland (2015), o gigante projecto levado a cabo pelo artista Banksy. A presente exposição representa uma relativa ruptura com o seu passado recente. Claro que tudo gira ainda em torno da sua vida e lá estão as frases ou os comentários rascunhados quase sempre divertidos, mas o dispositivo da exposição é diferente.
“Para esta exposição criei ambientes separados onde acabam por ser abordados diversos temas. Há um espaço dedicado à Internet, outro ao feminismo, outro funciona como lugar de fuga e um outro como zona de segurança, ou seja, uma zona onde encontrar pessoas com quem te consegues relacionar.” Os temas já existiam na sua cabeça. Depois foi concebendo estas instalações (ou cenários), com frases, desenhos, luzes néon, pinturas, objectos, roupa, mobiliário ou comida. As cores são quase sempre excessivas, contrastando com a irrisão de parte das observações. Como acontece quase sempre nos seus trabalhos, existe uma grande economia expressiva, como se procurasse alcançar uma certa pureza. E exprime-se, claro, com humor. Algo que parece funcionar como catarse, embora as suas encenações abram espaço para uma multiplicidade de leituras.
Na exposição do Porto do ano passado, Wasted Rita incitava provocatoriamente o público a visitá-la, a partir da possibilidade de, através de uma instalação, poder “dar tiros em Trump.” Desta vez a atracção é outra: “Vai ser possível sacar o Harvey Weinstein de uma caixa de brinquedos.”