Descoberta uma gruta na Lua que pode ser um abrigo para astronautas

Já se suspeitava mas agora têm-se mesmo a certeza: há tubos de lava no interior da Lua, que podem ser bons locais para construir uma base lunar. Assim, podemos vir a conhecer ainda melhor o nosso satélite natural.

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A Terra vista do espaço NASA

Quem não imaginou já passar uns dias na Lua? Os filmes e os livros de ficção científica estão repletos de imagens dessa estadia, mas a verdade é que ainda não foi possível construir uma colónia de humanos no nosso satélite natural nem uma base espacial. Agora, análises de dados da sonda japonesa Selene e da missão norte-americana GRAIL alimentam-nos esse sonho: foi descoberta uma gruta no subsolo formada por um tubo de lava, revela um artigo científico na última edição da revista Geophysical Research Letters. Essa estrutura poderá proteger os astronautas das condições adversas na superfície da Lua e, quem sabe, vir a albergar uma base espacial.

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Quem não imaginou já passar uns dias na Lua? Os filmes e os livros de ficção científica estão repletos de imagens dessa estadia, mas a verdade é que ainda não foi possível construir uma colónia de humanos no nosso satélite natural nem uma base espacial. Agora, análises de dados da sonda japonesa Selene e da missão norte-americana GRAIL alimentam-nos esse sonho: foi descoberta uma gruta no subsolo formada por um tubo de lava, revela um artigo científico na última edição da revista Geophysical Research Letters. Essa estrutura poderá proteger os astronautas das condições adversas na superfície da Lua e, quem sabe, vir a albergar uma base espacial.

Já fomos há muito tempo à Lua. A primeira vez foi a 21 de Julho de 1969, quando o astronauta Neil Armstrong (1930-2012), através da missão Apolo 11, desceu as escadas do módulo lunar e pisou a superfície da Lua. Buzz Aldrin seguiu-lhe os passos. Estiveram lá cerca de duas horas e meia, tiraram fotografias, meteram um colector de vento solar em alumínio a recolher partículas emitidas pelo Sol e trouxeram-nas para análise. Também apanharam rochas e deixaram aparelhos sísmicos, que funcionaram 21 dias, assim como um reflector laser, que permitiu ter mais conhecimento sobre a órbita da Lua. Ao todo, as seis missões Apolo dos Estados Unidos puseram 12 homens na Lua entre 1969 e 1972.

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Mas até agora não conseguimos construir lá uma base lunar – uma tarefa que não será fácil, porque a Lua não tem uma atmosfera e um campo magnético que proteja os seus habitantes, como tem a Terra. A grande variação de temperaturas entre o dia e a noite lunar, bem os níveis elevados de radiação e o risco de impacto de meteoritos são alguns dos elementos que condicionam a nossa estadia na Lua.

Mesmo assim, a ideia de um dia vir a habitá-la nunca foi completamente esquecida. Ainda hoje, alguns países afirmam querer colonizá-la. Por exemplo, no último ano a China disse que pretende criar uma colónia, assim como a Rússia, que apontou o ano de 2030 como meta. Também os Estados Unidos, com a actual Administração de Donald Trump está a pensar enviar de novo astronautas à Lua – uma ideia que tinha sido abandonada por Barack Obama.

Agora, os cientistas analisaram dados da sonda Selene, da Agência Japonesa de Exploração Aeroespacial (Jaxa), e que orbitou a Lua entre 2007 e 2009, bem como dados sobre o seu campo gravitacional obtidos na missão GRAIL lançada pela NASA em 2011. Foi assim que detectaram uma gruta formada por um tubo de lava no interior da Lua. Estes tubos surgem quando o fluxo de lava desenvolve uma crosta sólida e forma um tecto sobre a corrente de lava. Quando ela pára de escorrer, o túnel esvazia-se e fica no interior um espaço oco. Está criada uma gruta. Estes tubos de lava também existem na Terra, mas são mais estreitos do que o da Lua.

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A entrada da gruta formada por um tubo de lava no interior da Lua NASA/GSFC/Universidade Estadual do Arizona

A existência dessa estruturas na Lua já não é uma novidade absoluta. Em 1985, um artigo científico na publicação Lunar bases and space activities of the 21st century, do Instituto Planetário e Lunar, em Houston (EUA), já tinha avançado que havia tubos de lava na Lua que podiam servir de abrigo para os humanos. “O interior dos tubos de lava oferece um ambiente que protege naturalmente dos riscos da radiação e do impacto dos meteoritos”, lê-se. Também em 1992, uma equipa de cientistas analisou a superfície da Lua e percebeu que no subsolo podiam existir de facto esses tubos. Mas esses dados não eram conclusivos. Só em 2009 a Selene observou na superfície lunar, mais exactamente no Marius Hills, um buraco vertical profundo – seria a entrada de um tubo de lava?

Paredes de borracha

Agora confirmou-se a existência desses tubos de lava com dados de radar da Selene (nome em homenagem à deusa grega da Lua). Tal como uma ecografia vê o interior do corpo humano, o radar da Selene viu por baixo da superfície da Lua e detectou a tal estrutura oca, como explica um comunicado da Universidade de Purdue (nos EUA), que participou no trabalho.

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Ilustração artística da Selene JAXA/SELENE/Crescent

Ao todo, o tubo tem cerca de 50 quilómetros de comprimento e 75 metros de diâmetro. A equipa diz ainda que encontrou noutros locais mais padrões de eco do radar semelhantes, o que pode significar que existem mais tubos. 

“A existência dos tubos de lava na Lua tinha sido no passado alvo de especulações, mas os dados de radar e da gravidade dão um cenário mais claro de que como eles são e das suas dimensões”, refere o comunicado. “Para a exploração por humanos, os tubos de lava deverão ser locais seguros para viver a longo prazo na Lua, porque oferecem um esconderijo contra a radiação, temperaturas extremas e impactos de meteoritos”, diz ao PÚBLICO Jay Melosh, da Universidade de Purdue, investigador na missão GRAIL e um dos autores do trabalho.

Como será então uma base lunar nessas estruturas? “Nos tubos maiores, apenas podemos construir edifícios pressurizados lá dentro. Nos tubos mais pequenos, há a possibilidade de revestir as suas paredes com material de borracha e selá-los contra as perdas de ar”, responde Jay Melosh. “Todos os locais de habitação na Lua vão precisar da energia do Sol ou talvez de reactores nucleares – localizados na superfície lunar, longe dos sítios de habitação – e de alguns meios de cultivo de alimentos e reciclagem dos resíduos.” Com uma casa lá poderia estudar-se melhor o ambiente da Lua e a sua história geológica. Resta saber quando iremos habitá-la.