Eduardo Cabrita, o valor seguro de Costa
O puxão de orelhas de Marcelo a Costa precipitou as mudanças no Governo. Cabrita é o novo responsável pela Administração Interna onde substitui Constança Urbano de Sousa.
Eduardo Cabrita é o novo ministro da Administração Interna, pasta onde substitui Constança Urbano de Sousa. O primeiro-ministro, António Costa, recorreu assim ao seu braço direito no Governo para as questões delicadas e fê-lo transitar de ministro adjunto para a pasta da segurança interna, uma área de soberania que entrou em colapso com a tragédia dos incêndios deste Verão.
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Eduardo Cabrita é o novo ministro da Administração Interna, pasta onde substitui Constança Urbano de Sousa. O primeiro-ministro, António Costa, recorreu assim ao seu braço direito no Governo para as questões delicadas e fê-lo transitar de ministro adjunto para a pasta da segurança interna, uma área de soberania que entrou em colapso com a tragédia dos incêndios deste Verão.
Para o lugar de Cabrita entra Pedro Siza Vieira, um advogado que faz parte do círculo pessoal de Costa. Aliás, os três são colegas desde os bancos da faculdade. Pedro Siza Vieira irá herdar os dossiers da imigração, da igualdade e poderá ficar também com a descentralização, caso esta reforma não se mantenha na dependência de Cabrita.
Visto nos círculos do poder como um político discreto e um “carregador de piano” a quem podem ser confiadas tarefas difíceis – o exemplo é ser ele o responsável pela preparação e negociação da reforma da descentralização –, a escolha de Cabrita para ocupar o MAI responde, por outro lado, à necessidade de um perfil de autoridade pessoal e intelectual, leitura integrada da governação numa área de soberania como é a segurança interna, que inclui a prevenção e o combate aos incêndios. O novo ministro da Administração Interna tem também peso político no PS e fora dele e uma idade já madura. Tudo características apontadas ao PÚBLICO por membros do Governo e do PS como necessárias ao novo ocupante do Ministério da Administração Interna, MAI.
Com a cerimónia de posse já marcada para sábado de manhã – o primeiro-ministro estará quinta-feira e sexta-feira no Conselho Europeu em Bruxelas –, Cabrita será já o responsável pela Administração Interna quando, sábado à tarde, começar o Conselho de Ministros extraordinário para aprovar uma reestruturação das políticas relacionadas com incêndios e floresta – esta última com legislação já aprovada.
A remodelação-relâmpago feita ontem por Costa afastou assim a ideia que se espalhou ontem nos bastidores políticos de que o primeiro-ministro poderia aproveitar a oportunidade para mexer em mais peças do Governo. Isto, embora Costa já tivesse dado sinais de que não queria remodelar a equipa, ao ponto de ter recusado os sucessivos pedidos de demissão de Constança Urbano de Sousa nos últimos quatro meses e responsabilizando-a mesmo pela preparação da reforma do sector a anunciar sábado.
Toda a estratégia do Governo para o sector estava, aliás, preparada para ser divulgada no sábado sem que houvesse qualquer mudança na titularidade do MAI. Mas tudo se precipitou com a tragédia dos fogos do passado fim-de-semana, na sequência dos quais morreram até agora 42 pessoas, as quais se somaram aos 64 mortos dos fogos de Pedrógão Grande e de Góis em Julho, num total de 106 mortes.
Esta tragédia contribuiu fortemente para que a área ardida este Verão em Portugal (até terça-feira) bata o recorde de sempre, com mais de meio milhão de hectares, tendo mais de metade desta área ardido na primeira quinzena de Outubro. De acordo com os dados do Sistema Europeu de Informação de Incêndios Florestais (EFFIS) citado pela Lusa, foram exactamente 519.748 hectares de florestas entre 1 de Janeiro e 17 de Outubro.
Perante a repetição da tragédia e das mortes, quebrou-se a solidez da posição de Costa que insistia em manter no Governo Constança Urbano de Sousa contra a vontade desta. A ministra já tinha pedido para sair, mas a sua demissão não era aceite por Costa. Até que Marcelo falou ao país. Logo na terça à noite Constança Urbano de Sousa reuniu-se no ministério com os secretários de Estado Isabel Oneto e Jorge Gomes e a decisão ficou tomada: demisão. O passo seguinte foi escrever a sua carta de demissão, na qual assume que só se manteve até agora no cargo por exigência do primeiro-ministro e por “lealdade” para com este, mas que chegou o momento de preservar da sua “dignidade pessoal”.