Lavoisier apresentam no Porto É Teu, um disco com músicas de todos nós
O duo Lavoisier apresenta esta quarta-feira na Casa da Música o seu segundo disco, É Teu, ampliando a sua exploração das raízes tradicionais a guitarra eléctrica e duas vozes.
Estrearam-se em disco em 2014, com Projecto 675. E agora estão de volta com É Teu. São um duo, Patrícia Relvas e Roberto Afonso, e o nome que adoptaram, Lavoisier, foram buscá-lo ao próprio, por causa da ideia de que “na Natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”. Da química para a música, pegaram primeiro em temas tradicionais e filtraram-nos à sua maneira, explorando-os a guitarra eléctrica e duas vozes. Isso em Berlim, de mistura com “a coisa frenética da electrónica.” Já em Portugal, nasceu daí o primeiro disco, captado no estúdio por José Fortes.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Estrearam-se em disco em 2014, com Projecto 675. E agora estão de volta com É Teu. São um duo, Patrícia Relvas e Roberto Afonso, e o nome que adoptaram, Lavoisier, foram buscá-lo ao próprio, por causa da ideia de que “na Natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”. Da química para a música, pegaram primeiro em temas tradicionais e filtraram-nos à sua maneira, explorando-os a guitarra eléctrica e duas vozes. Isso em Berlim, de mistura com “a coisa frenética da electrónica.” Já em Portugal, nasceu daí o primeiro disco, captado no estúdio por José Fortes.
Agora, com mais composições próprias, surge É Teu, lançado no Festival do Silêncio (no Music Box, em Lisboa) e que esta quarta-feira apresentam no Porto, no Café Casa da Música (21h30). Com edição de autor, e de novo com o trabalho meticuloso de José Fortes em estúdio, o título é explicado no próprio disco como sendo “uma dedicatória ao outro, a quem nos ouve, a quem simbioticamente permite que existamos”. Roberto explica-o assim ao PÚBLICO, do ponto de vista musical: “É Teu é um seguimento do Projecto 675, porque o início desta nova roupagem à música popular portuguesa moldou o nosso trabalho e fez-nos encarar a música como algo muito útil no sentido de pegar nas raízes, moldá-las e fazer-nos, a nós, mais indivíduos musicais.”
O desafio da poesia
Patrícia: “Há músicas que surgiram noutras alturas, não foi tudo composto agora. Na altura do Projecto 675 já havia algumas deste disco que estavam prontas, mas decidimos guardá-las.” Eu não me entendo, um fado de Camané com letra de José Luís Gordo e música de José Mário Branco, é uma delas. “Já a tocávamos há bastante tempo”, diz Roberto. Ou Laranja, que é ainda mais antiga, composta em Berlim em 2011 ou 2012. É um dos temas integralmente escritos pelo duo, a par de Fauna, Opinião, Obrigado ou Sou povo, que fecha o disco. Mas há também novas imersões na música tradicional, como um Vira junto com Marcolino, de Fausto Bordalo Dias; ou Romance do cego, numa das muitas versões que existem deste tema do cancioneiro popular. E há canções compostas a partir de poemas: Estátua, de Judith Teixeira; e Viajar, de Fernando Pessoa. Este último tem uma história curiosa, conta Patrícia: “Uma amiga fez uma ilustração do poema, que nos ofereceu, num bilhete de viagem. E nós pusemos o bilhete colado no nosso frigorífico e andámos à volta daquilo até que um dia uma música colou com a letra.” Roberto: “Eram uns acordes perdidos na guitarra, a Patrícia começou a cantarolar uma melodia, eu disse ‘espera aí’, fui buscar a guitarra e sentámo-nos ali os dois a olhar para o frigorífico. Era a nossa estante.”
Já a canção com poema de Judith Teixeira (1880-1959) nasceu de uma proposta de um viseense, seu conterrâneo. “Aceitámos logo o desafio”, diz Patrícia. “Agradam-nos bastante esses desafios, em torno da poesia”, acrescenta Roberto. “Depois ela também oferece um campo sensitivo muito grande. Foi uma agradável surpresa para nós.” Patrícia: “Foi importante pegar numa poetisa que não é tão conhecida e abordar a questão de o papel da mulher na arte não ser tão reconhecido.”
Raízes na infância
Sendo um duo, os Lavoisier têm num dos temas, Romance do cego, a participação de um terceiro músico: José Valente, na viola de arco. A atenção dada a este tema tem raízes na infância de Roberto: “A minha família é transmontana e a minha avó cantava-me esta música. E a minha tia, muito orgulhosamente, fazia de cego numa peça de teatro que eles faziam lá. Então, de cada vez que se ia cantar o Romance do cego, dizíamos ‘espera lá, que isto é uma coisa séria, vamos ouvir.’ Mas o que mais gostámos de realçar foi o potencial melódico, porque é uma melodia lindíssima, e de repente, sentindo a valsa que se podia criar dali, para nós foi imediata a escolha.” Patrícia: “E aproveitando esse caminho da tradição oral, porque nos foi passada directamente.” Embora saibam que há inúmeras versões deste mesmo tema. “Ali mesmo, a uns cinco ou dez quilómetros, já muda a letra, a intenção, a melodia, a polifonia se a houver, muda tudo.”
A intenção de convidar José Valente explica-a assim Roberto: “Foi uma coisa óbvia para nós, porque é um músico extraordinário, um bicho de palco que, ao ver, dizemos logo ‘é fantástico’.” Em palco, continuam a apresentar-se em duo, vozes e guitarra eléctrica, embora José Valente tenha participado no concerto de apresentação do disco. Mas não excluem outras colaborações.
Depois do concerto na Casa da Música, os Lavoisier estarão dia 21 em Barcelos e dia 22 em Lisboa, na Musa, Fábrica de Cerveja Artesanal. E continuam a apresentar-se na Alemanha. Ainda em Maio foram convidados a fazer uma masterclass musical na Universidade de Hamburgo.