CDS discute hoje se avança com censura ao Governo

Mais de 100 mortes, um Governo paralisado e uma declaração do primeiro-ministro sem assumir responsabilidades. CDS discute nesta terça-feira se avança com a primeira moção de censura da legislatura.

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LUSA/ANTÓNIO PEDRO SANTOS

O CDS reúne-se nesta terça-feira, ao almoço, em Comissão Executiva com uma decisão sensível para tomar: avançar ou não para uma moção de censura ao Governo liderado por António Costa, censura pela forma como lidou com a tragédia dos incêndios de Verão. Segundo apurou o PÚBLICO, há alguns dirigentes do partido que se inclinam para que assim seja, sobretudo depois da comunicação de António Costa, na segunda-feira à noite.

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O CDS reúne-se nesta terça-feira, ao almoço, em Comissão Executiva com uma decisão sensível para tomar: avançar ou não para uma moção de censura ao Governo liderado por António Costa, censura pela forma como lidou com a tragédia dos incêndios de Verão. Segundo apurou o PÚBLICO, há alguns dirigentes do partido que se inclinam para que assim seja, sobretudo depois da comunicação de António Costa, na segunda-feira à noite.

A questão, explicou uma dessas fontes ao PÚBLICO, é um pouco mais complexa do que uma simples moção de censura. É tentar medir se o que se passou é suficiente para que o país perceba uma censura ao Governo - ou se o entenderão como uma manobra política. “Morreram 100 pessoas nestes quatro meses, o Estado falhou em toda a linha. Em quatro anos de Governo, não haverá razão mais válida para uma censura do que esta, não é por um Orçamento que isso vai acontecer”, explica a mesma fonte. Na prática, a decisão que os centristas agora vão tomar é esta: “Ou há censura ou o Governo ficará a legislatura sem ela. Seria a primeira vez na história”. 

Para já, a decisão não está fechada. Mas há sinais no ar: Assunção Cristas pediu uma audiência de urgência ao Presidente Marcelo, que deve acontecer muito em breve, ainda antes do debate quinzenal marcado para quarta-feira. E emitiu um comunicado ao final da tarde de segunda-feira acusando o Governo de falhar “clamorosamente na sua função mais básica”, a de proteger os portugueses. Sobretudo nos últimos quatros meses, onde não houve mexidas no MAI, na Protecção Civil, nem sequer (considera o CDS) um acautelar dos meios presentes em Outubro, fora da tradicional fase Charlie de combate aos fogos.

O que Costa disse mais à noite e a sucessão de declarações polémicas de membros do Executivo só aumentaram a sensação de irritação no partido (e uma percepção de que ela vai para lá das fronteiras partidárias).

A equação sobre uma moção de censura já teve um outro capítulo, aquando da tragédia em Pedrógão Grande. A morte de 65 pessoas e a recusa de António Costa em demitir a ministra Constança Urbano de Sousa levou a direcção a discutir o cenário, que acabou por cair. Nessa altura, num debate no Parlamento, Cristas optou pela fórmula mais cautelosa: disse a Costa que, tendo decidido manter tudo igual, era ele próprio que ficaria responsável pelo que viesse a acontecer. "É sempre assim", rematou o primeiro-ministro na resposta.

Agora, segundo apurou o PÚBLICO, a líder centrista está convencida que é a censura se impõe - e tem companhia na sua direcção. Se essa for a decisão, ela será comunicada ao Presidente da República em primeiro lugar (ainda hoje, se Marcelo entender que o país já entrou em rescaldo).

Na noite desta segunda-feira, no Facebook, um dos dirigente do partido, mostrava a sua renovada indignação: “Depois de o pior passar, falaremos. Falaremos deste cocktail de irresponsabilidade, em que à evidente incompetência juntamos a falta de sinais políticos de que o nosso governo tem a mínima noção do que é reafirmar a confiança que devemos ter nas instituições do Estado. Uma demissão tem esse efeito simbólico e reparador. Uma não demissão, no tempo adequado, misturada com o ‘temos de nos habituar’ da ministra, do secretário de Estado e do primeiro-ministro, já não está no domínio do simbólico. É só mesmo uma tragédia”, dizia Francisco Mendes da Silva. 

Esta terça-feira, na sua crónica semanal no Negócios, o vice-presidente Adolfo Mesquita Nunes foi no mesmo sentido: “Não, o Governo não é responsável pelos incêndios. Mas é responsável, isso sim, seja quem for o ministro, de esquerda ou não, pela proteção civil, pela reação, pelo combate, pela organização, pelo socorro. Falhou o Governo e falhou o Estado e falhou a decência, porque não é possível, perante o que se passou, não assumir uma única responsabilidade. E não, a demissão da ministra não basta. Já há muito que passámos essa fase porque há muito que ela deixou de ser ministra. É toda a sobranceria do Governo que tem de ser abandonada. Para se dar ao respeito. E por respeito.”