Gosto de Copenhaga
A leitora Manuela Santos partilha a sua experiência na capital dinamarquesa.
Há cidades que nos causam espanto e admiração logo à primeira vista, seja pela imponência arquitectónica, pela ousadia ou pelo seu carisma. Copenhaga talvez se enquadre nesta última situação.
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Há cidades que nos causam espanto e admiração logo à primeira vista, seja pela imponência arquitectónica, pela ousadia ou pelo seu carisma. Copenhaga talvez se enquadre nesta última situação.
É uma cidade harmoniosa que tem sabido conjugar arquitectura antiga com a contemporânea. Cada uma no seu espaço na cidade, sem desequilíbrios estéticos. Os edifícios atingem mais ou menos os seis andares, com excepção das zonas mais modernas, onde sobem um pouco mais.
Copenhaga é amigável, não nos sufoca. Preserva tudo o que é tradicional e investe também no que existe de mais moderno. E tem como companhia a água dos canais onde a cidade se espelha com alegria nos dias de sol, menos abundantes que a Sul da Europa, aproveitados ao máximo pelos dinamarqueses. Se o sol é preguiçoso por aquelas paragens, lá estão as esplanadas equipadas com aquecedores e mantinhas nas costas das cadeiras.
Das avenidas mais largas às mais pequenas o pequeno comércio prolifera, animando bastante a capital da Dinamarca. Existem lojas de todo o tipo, incluindo as de confecção de roupa por medida, modestas ou mais luxuosas, o que me surpreendeu. O comércio de bicicletas é uma constante ou não fosse este país o paraíso da bicicleta. É ver uma grande parte da população pedalando com destreza de fazer inveja. São autênticos enxames que deslizam pelas vias próprias, sempre no sentido do tráfego. Transportam as crianças em triciclos com a mesma destreza e os mais velhos ainda pedalam com regularidade. A bicicleta é, realmente, um meio de transporte privilegiado e, aliada à excelente organização dos transportes públicos, faz de Copenhaga uma metrópole pouco ruidosa e pouco poluída.
A cidade da filosofia de vida hygge é acolhedora, solidária, multicultural, respeita a diferença, bem visível no bairro Christiania, onde vivem cidadãos que preferem um modo de vida alternativo. Temos a sensação de não existir qualquer tipo de ostentação nesta cidade escandinava e, provavelmente por isso, as bonitas igrejas, normalmente em arquitectura de tijolo, são bem simples no seu interior. Ou é o contrário? Será a prática religiosa que influencia a vida social?
Vale a pena visitar Sankt Petri Kirke, uma pequena igreja medieval, com as suas invulgares capelas sepulcrais que, mediante solicitação, são mostradas aos visitantes.
Copenhaga parece ser gerida com pragmatismo, o que não invalida o investimento na cultura e os próprios dinamarqueses gostam de manter e preservar as suas memórias. Quem sair para fora da cidade, viajando um pouco pelo país, pode visitar os numerosos centros de recriação histórica com a participação voluntária de várias famílias ou de outras pessoas que levam com rigor histórico toda a encenação, sobretudo da Idade Média. Construíram, no meio do campo, algumas casitas, simulando pequenas aldeias medievais, onde mulheres costuram manualmente as próprias roupas e todos se vestem adequadamente. Os homens exercem ofícios de carpinteiro, de ferreiro, a arte da guerra e todos ali trabalham numa perspectiva cénica e didáctica para o visitante.
Voltando a Copenhaga, onde são numerosos os museus, o meu favoritismo vai, sem dúvida, para o imperdível Nationalmuseet. Nele podemos viajar através dos tempos da Pré-História até ao século XX. Os milhares de objectos do quotidiano de rara beleza e singularidade ocupam-nos bem umas três horas em encantamento.
Mas a cidade viking também tem os seus ex-líbris, com destaque para a Pequena Sereia, que é mesmo pequena, ou o Amalienborg, palácio residencial da família real e, numa das praças mais bonitas, o Copenhagen City Hall, construído em tijolo com detalhes dourados na sua fachada. Imperdível é, também, o Castelo Rosenborg, uma pequena jóia do século XVII.
Caminhando, que é a melhor forma de viver a cidade, ela sempre nos surpreende, algures, com belos edifícios em tijolo, antigos ou os mais modernos que continuaram esta tradição. É bom vaguear pelas ruas planas, caminhar sem atropelos e, se não se quiser gastar dinheiro num passeio de barco pelo canal, destinado a turistas, pode-se sempre usar o passe dos transportes públicos e embarcar num bus-barco. De porto em porto podemos admirar a ainda mais bela Copenhaga em dias de sol, descobrindo pontos de interesse, tal como o diamante negro, nome pelo qual é conhecida a Biblioteca Nacional, devido à sua arquitectura ultramoderna. Gosto de Copenhaga, mas é uma cidade cara para nós, portugueses.
Manuela Santos
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