O ano das super-equipas na NBA, todos juntos contra os Golden State Warriors
A equipa que dominou as últimas três temporadas da NBA está de volta e está mais forte. E os outros candidatos subiram a parada para tentar travar o que parece inevitável.
O director-geral dos Houston Rockets, Daryl Morey, descreveu, ainda em Junho, o que viria a ser o Verão de 2017 na NBA: “Uma corrida às armas”. E foi isso mesmo que aconteceu, com as equipas de topo a juntarem o maior número de estrelas possível, dentro das amarras dos tectos salariais, para tentarem travar a caminhada triunfal dos Golden State Warriors até à repetição da festa do título de campeão da NBA em 2018.
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O director-geral dos Houston Rockets, Daryl Morey, descreveu, ainda em Junho, o que viria a ser o Verão de 2017 na NBA: “Uma corrida às armas”. E foi isso mesmo que aconteceu, com as equipas de topo a juntarem o maior número de estrelas possível, dentro das amarras dos tectos salariais, para tentarem travar a caminhada triunfal dos Golden State Warriors até à repetição da festa do título de campeão da NBA em 2018.
Os Houston Rockets destacaram-se nesta estratégia risco, desde logo por terem ido buscar, de forma surpreendente, o melhor base dos últimos 10 anos, Chris Paul, aos Los Angeles Clippers, juntando-o a uma das estrelas da actualidade, James Harden. Este potente duo de criadores conduzirá a máquina ofensiva construída pelo treinador Mike D’Antoni, feita de permanente aceleração, bombardeamento de triplos e pouca defesa (que tentaram melhorar com especialistas).
Outra conjugação astral deu-se em Oklahoma City, com os Thunder a atacarem de forma agressiva o mercado, à procura de companhia para o MVP em título, Russell Westbrook, não só para o convencerem a renovar contrato, mas para anestesiarem a desilusão de terem perdido Kevin Durant para os Warriors. E conseguiram-no: Paul George (ex-Indiana Pacers) e Carmelo Anthony (ex-New York Knicks) formam um trio poderoso no ataque e quase sólido na defesa, ameaçado apenas pelo risco de um choque de personalidades fortes e com um historial de egocentrismo.
Na conferência Oeste, o adversário até agora mais temido por Steph Curry e companhia, os San Antonio Spurs, reforçou-se apenas com Rudy Gay, um marcador de pontos profissional, mas a recuperar de uma lesão grave no tendão de Aquiles. Continua a contar com Kawhi Leonard, o maior antídoto individual dos Warriors (excluindo LeBron James), e a experiência de ex-campeões Pau Gasol, Tony Parker e Manu Ginobili. E com fé na recuperação da estrela cadente LaMarcus Aldridge.
No outro lado do país, a corrida às armas na Conferência Este provocou uma “destruição mutuamente assegurada” entre os Cleveland Cavaliers e os Boston Celtics, depois do improvável pedido de transferência entregue por Kyrie Irving aos finalistas derrotados da última época, por incompatibilidades com LeBron James. Os Celtics reagiram rapidamente e trocaram a sua própria estrela, Isaiah Thomas (lesionado com gravidade nos playoffs contra os Cavaliers, em fim de contrato e mais velho), pela estrela do seu maior rival, oferecendo também uma pick (escolha) forte no próximo draft de universitários (onde estarão vários craques).
No fim deste tiroteio no topo do Este, os Celtics renovaram o plantel com uma dúzia de jogadores novos, entre eles a estrela dos Utah Jazz, Gordon Hayward, e vários jovens com grande potencial. Os Cavs - naquele que pode ser o último ano de LeBron James antes de nova experiência numa cidade balnear (Los Angeles é o rumor mais forte, depois de Miami) - contrataram alguns dos amigos de LeBron para tentarem travar a sua saída. Dwyane Wade e Derrick Rose (depois de falhada a contratação de Carmelo e Paul George) juntaram-se a Kevin Love e ao lesionado (até Janeiro) Isaiah Thomas. LeBron James, o único a interromper o domínio dos Warriors em 2016 com o histórico título de campeão em Cleveland, continua a ser o maior candidato a repetir a façanha. Mas, desta vez, acompanhado de estrelas em final de carreira. E com pouca capacidade defensiva ou fraca eficácia de triplos, as duas características que lhe permitiram conquistar o maior feito da carreira há duas temporadas.
Do alto do seu trono, os Golden State Warriors observam estas movimentações com alguma sobranceria. Draymond Green, o líder do campeão, nem se esforça para escondê-la. Numa entrevista à GQ na semana passada, afirmou, entre gargalhadas e palavrões, que “é muito divertido encostar-nos a ver [as movimentações dos rivais], porque eles estão completamente à nora”. Os números ajudam a explicar a atitude. Os Warriors foram campeões em 2015, bateram o recorde (dos Bulls de Michael Jordan) de vitórias da época regular em 2016 (perdendo na final quando estavam a uma vitória do título, depois da suspensão de Green e da lesão de Steph Curry) e passearam em 2017, com a incorporação de Kevin Durant.
O quinteto composto por Curry, Klay Thompson, Durant, Andre Iguodala e Green - o Cinco da Morte - continua a ser imparável em campo, quando está saudável. E está mais forte pelo simples facto de estar um ano mais sintonizado. Tecnicamente, contam com o melhor triplista da história (Curry) e o segundo melhor (Thompson), o segundo melhor jogador dos últimos 10 anos (Durant) e o melhor defensor da liga (Green). Tacticamente, cosem uma teia de metal líquido que se molda aos adversários, anulando as suas maiores virtudes com uma defesa asfixiante de trocas permanentes e um esquema sofisticado de ajudas entre todos. E explorando as fragilidades dos opositores por mais pequenas que sejam com um ataque demolidor de triplos, acelerações e movimento permanente, uma sinfonia de bloqueios, passes e cortes, orquestrada pelos cinco melhores solistas nos respectivos instrumentos.
Os Rockets têm ataque para acompanhá-los, mas a defesa não aguenta o ritmo, os Spurs descobriram o antídoto com ressaltos e uma mistura delicada entre triplos e jogo interior, mas têm de superar-se individualmente em todos os lances, os Thunder têm estrelas comparáveis, mas não têm nem colectivo, nem cultura vencedora, os Celtics têm treinador, estrelas e potencial, mas não têm uma defesa de elite. Sobra o eterno rival, LeBron James, e os seus amigos, mais fracos na defesa e mais frágeis fisicamente. Aliás, no fim tudo pode resumir-se a uma questão de saúde. Se os Warriors não quebrarem nenhum osso importante, esta época de NBA será um intenso, entretido e hipnótico fogo-de-artifício... até ao desfecho inevitável.
A guerra das outras estrelas
Fora da corrida ao título está um conjunto de equipas que se destacam pelas suas próprias estrelas brilhantes, mas que apresentam suficientes debilidades no colectivo para ficarem fora da elite da NBA. Ainda assim, acompanhar a evolução destes jogadores nos pavilhões dos Estados Unidos é recompensa suficiente para os seus adeptos e para fãs da liga. É o caso de Giannis Antetokounmpo, o greek freak cuja evolução nos últimos dois anos já o coloca entre os candidatos a MVP e permite à sua equipa, os Milwaukee Bucks, sonhar com um participação longa nos playoffs. Uma ambição partilhada por John Wall, o eléctrico base dos Washington Wizards, que no ano passado empurraram os Celtics até um jogo 7 antes do seu líder colapsar fisicamente.
Ainda no Este há duas jovens estrelas que chegam a uma etapa de maturação no seu percurso, mas que estão condicionados na sua ascensão por factores diferentes. Por um lado, Joel Embiid é um poste devastador, um protótipo que mistura físico imponente com técnica elegante. É o símbolo do Philadelphia 76ers, mas tem graves problemas físicos, tendo jogado apenas 30 jogos na sua carreira profissional. Por outro lado, Kristaps Porzingis voltou a fazer brilhar as luzes do Madison Square Garden, mas a disfunção nos escritórios dos New York Knicks já provocou danos sérios na sua evolução.
Na conferência Oeste, a lista é encabeçada pela improvável dupla de gigantes, Anthony Davis e DeMarcus Cousins, dos New Orleans Pelicans, que optaram por uma estratégia de duas torres, ainda que de grande técnica, quando toda a liga está apostada num jogo sem posições definidas e por um primado dos lançadores, de mais baixa estatura e agéis em todo o campo. Como é o caso de Damian Lillard, dos Portland Trail Blazers, e de Devin Booker, dos Phoenix Suns, jogadores em fases diferentes da carreira e de perfis opostos, mas que garantem elevado volume de pontuação e entretenimento. Em Denver, os Nuggets assumem esta estratégia de corrida e lançamento, assente no pivot europeu Nikola Jokic, um poste de posição com uma cabeça e mãos de um base. Um modelo também seguido pelos Minnesota Timberwolves, ancorados na estrela ascendente Karl-Anthony Towns e com uma ambição maior suportada pela caixilharia de sucesso dos Chicago Bulls até há dois anos (treinador Tom Thibodeau e estrela Jimmy Butler).
Em Los Angeles mora uma rivalidade que começa a inverter a tendência dos últimos anos. Os Clippers dominadores perderam Chris Paul e confiam tudo no sempre lesionado Blake Griffin (apoiado este ano pelo espectacular passador Milos Teodosic). Os Lakers, liderados de novo por Magic Johnson, mas de fato e gravata, foram buscar a vedeta Lonzo Ball à universidade local e prometem começar a reconstruir o showtime que fundaram.
Os outros, entre bons e maus
Sem nomes sonantes que prendam a atenção dos curiosos, sobra um conjunto de equipas que para os mais investidos no desporto se destacam por terem excelentes treinadores e equipas competitivas ou que jogam um basquetebol mais colectivo e criterioso. Entre todas, destacam-se os Miami Heat, conduzidos por Eric Spoelstra, bicampeão com LeBron James, que fabricou um dos adversários mais difíceis para a elite da liga com meia dúzia de jogadores competentes. Depois, os Toronto Raptors têm estado com regularidade no topo da montanha do Este, mas caem invariavelmente quando o ar começa a ficar rarefeito, pelas limitações físicas e técnicas dos seus melhores jogadores. Um cenário semelhante ao dos Memphis Grizzlies e agora dos Utah Jazz, que também ficaram sem a sua estrela maior. Depois, as estrelas dos Dallas Mavericks, Detroit Pistons e Charlotte Hornets são os seus treinadores, uma vez que os plantéis estão recheados de segundas e terceiras linhas no mural que organiza a lista da qualidade na NBA.
No fim da linha, também há uma corrida. Mas às posições que dão acesso a escolher primeiro as próximas estrelas da liga, que já se vislumbram nas universidades ou na Europa. E como o próximo draft promete uma mão cheia de talentos geracionais, a concorrência pelo fundo da tabela é intensa e explica a degradação que alguns plantéis sofreram este Verão. Chicago Bulls, Indiana Pacers, Atlanta Hawks, todos perderam os melhores jogadores sem grande resistência. Para estas três equipas, a época é um passeio quase tão previsível como pode ser o dos Warriors, mas por razões opostas. Depois, Orlando Magic, Sacramento Kings e Brooklyn Nets continuam a jogar contra o muro da incompetência dos seus dirigentes, com os adeptos perdidos há anos num pântano desportivo apenas interrompido pela visita semanal das estrelas dos outros.