“O que falha é a prevenção estrutural”, diz ministra da Administração Interna
Constança Urbano de Sousa defende aumento das medidas de “autoprotecção” para que as comunidades sejam “mais resilientes”. Ministra diz que esta é hora de “acção” e não de “demissão”.
A ministra Constança Urbano de Sousa responsabiliza o “número de ocorrências”, só igualado depois de muito se recuar na memória, “para 2006”, para justificar a dimensão dos incêndios que nos últimos dias têm consumido o país e que transformaram este domingo no “pior dia do ano”. São já 31 as vítimas mortais.
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A ministra Constança Urbano de Sousa responsabiliza o “número de ocorrências”, só igualado depois de muito se recuar na memória, “para 2006”, para justificar a dimensão dos incêndios que nos últimos dias têm consumido o país e que transformaram este domingo no “pior dia do ano”. São já 31 as vítimas mortais.
“Houve imensas ignições – ignições que não surgem do nada. Não são auto-ignições”, assevera. Questionada sobre a sua origem, a ministra da Administração Interna responde que não se trata “necessariamente de mão criminosa, mas mão negligente, pessoas que fazem queimadas quando é absolutamente proibido fazer, e que fogem do controlo”.
“O país está numa situação de seca extrema, ontem [domingo] tivemos ventos fortíssimos por influência do furacão Ophelia. Tudo isso leva a que os incêndios tenham uma propagação absolutamente extraordinária”, considera Constança Urbano de Sousa, apelando aos cidadãos para que se comportem “em conformidade”.
“Temos de fazer uma reflexão séria sobre a adequação do sistema de protecção civil às novas condições. As novas condições dizem-nos que vamos ter cada vez mais incêndios de enorme proporção. Não só neste país”, continua a ministra, referindo os incêndios na Galiza e na Califórnia para sublinhar que esta não é uma situação exclusivamente portuguesa.
“O que está a falhar já falha há muito tempo, que é a prevenção estrutural. Não é de hoje, já tem décadas. É preciso trabalhar nesse domínio. Infelizmente, a prevenção estrutural, a organização da nossa floresta, não se faz de um dia para o outro, nem de um ano para o outro”, sublinha.
“Vai demorar muito tempo até termos uma floresta ordenada. E depois temos de tirar as lições no que diz respeito à preparação do nosso sistema de protecção civil, muito assente no voluntariado, sobre a sua adequação para os novos tempos”, continua. A profissionalização dos bombeiros é uma das conclusões muito fortes em estudo.
Apesar dessa reflexão, a responsável pela Administração Interna insiste que, ainda com uma resposta maior, “em situações com 525 incêndios activos, é impossível” ser-se eficaz. “Não há nenhum sistema que permita chegar a cada uma das pessoas. Não existe nem nunca existirá. Temos todos os operacionais empenhados, dentro do que é humanamente possível”, considera.
“O que devemos apostar, e essa é uma das conclusões, é na vertente da chamada 'protecção civil preventiva'. As comunidades têm de se tornar mais resilientes às catástrofes. Infelizmente numa era de alterações climáticas que estamos a viver, as catástrofes de grande dimensão são uma realidade por todo o mundo”, aponta. “Todos os países têm de apostar numa estratégia de protecção civil preventiva. Desde autoprotecção das pessoas, pela adequação dos seus comportamentos, interiorização de algumas práticas.”
Ministra não se demite
“As minhas funções são naturalmente extremamente difíceis. O mais fácil, para mim, seria a demissão. Ia-me embora e acha que o problema estava resolvido? Temos problemas estruturais pela frente que é preciso resolver. E precisamos de neste momento ter a serenidade para avaliar bem o sistema e ver quais as medidas que podemos tomar para que elas se alterem.”
“Para mim seria o caminho mais fácil. Ia-me embora, ia ter as férias que não tive. E isso resolvia o problema? Não resolvia”, respondeu. “Neste momento estamos a viver uma tragédia, não é o momento para a demissão, mas para a acção. Não é numa altura mais difícil que as pessoas abandonam o barco”, concluiu Constança Urbano de Sousa.