Cientistas trocam o laboratório por miúdos no Palácio de Belém
Depois dos escritores – que voltam em Janeiro -, a Presidência da República vai pôr alguns dos cérebros mais geniais do país a conversar com estudantes do ensino secundário sobre sustentabilidade.
Luísa é personagem de banda desenhada. Elvira quer fazer computadores em folhas de papel. António desenha mapas do cérebro. Alexandre é um eterno adolescente curioso e genial. Carlota descobre as relações entre a música e a matemática. Maria e Manuel descobrem moléculas e células que ajudam a curar pessoas. Pedro pega nos comportamentos dos outros e põe tudo em gráficos coloridos. São oito dos mais conceituados cientistas portugueses e têm encontro marcado com jovens do secundário ao longo das próximas semanas no Palácio de Belém.
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Luísa é personagem de banda desenhada. Elvira quer fazer computadores em folhas de papel. António desenha mapas do cérebro. Alexandre é um eterno adolescente curioso e genial. Carlota descobre as relações entre a música e a matemática. Maria e Manuel descobrem moléculas e células que ajudam a curar pessoas. Pedro pega nos comportamentos dos outros e põe tudo em gráficos coloridos. São oito dos mais conceituados cientistas portugueses e têm encontro marcado com jovens do secundário ao longo das próximas semanas no Palácio de Belém.
Depois do sucesso dos Escritores no Palácio, a Presidência da República vai pôr os cientistas a trocar laboratórios por miúdos ali mesmo, num dos centros políticos do país, com vista para o Tejo e um pastel de Belém na varanda. “O Presidente quer valorizar o papel da ciência no desenvolvimento do país e o papel dos cientistas, e ao mesmo tempo quer dinamizar este lado pedagógico da Presidência”, justifica Isabel Alçada, a assessora do chefe de Estado para a Educação.
Todas as escolas secundárias, públicas ou privadas, são convidadas a inscrever-se, e mesmo que não tenham a oportunidade de participar nesta experiência, vão poder beneficiar dela. Sim, porque desta vez os encontros vão ser gravados em vídeo e distribuídos a quem os pedir, mas também colocados num mini-site satélite da página oficial da Presidência para ficarem online.
“É uma iniciativa efémera, mas desta forma vamos tentar que tenha alguma sustentabilidade e se estiver online será um recurso que os alunos interessados vão encontrar nas suas pesquisas, mesmo que não estejam à procura dele em especial”, diz Isabel Alçada. A ideia é que os cientistas disponibilizem também os powerpoint ou outros recursos que venham a utilizar. “Se a escola não vai ao Palácio, o Palácio vai à escola”, resume Paulo Magalhães, responsável pela comunicação da Presidência.
O tema central destes encontros é o papel da ciência na sustentabilidade do planeta – “uma ideia do professor Sobrinho Simões com a intenção de que este tema possa ser abordado nas várias áreas científicas, para que se veja como cada domínio tem um contributo para ajudar a tornar a Terra mais sustentável e desta forma garantir o futuro da humanidade”, explica Isabel Alçada.
As áreas científicas abrangidas são muitas: a biologia e a bioquímica (Sobrinho Simões e Maria Manuel Mota), as neurociências (António Damásio), a sociologia do ambiente (Luísa Schmidt), as ciências dos materiais (Elvira Fortunato), a matemática (Carlota Simões), a sociologia política (Pedro Magalhães) e a física (Alexandre Quintanilha).
O jogo da sustentabilidade
“Na área do ambiente, é muito evidente qual é o contributo da ciência para a sustentabilidade, mas na área da sociologia política, também é muito importante notar como a análise das tendências permite estudar os comportamentos dos grupos e fazer uma perspectivação a médio e a longo prazo, para perceber para onde é que estamos a caminhar em termos sociais”, sublinha Isabel Alçada.
E as neurociências, como entram no jogo da sustentabilidade? Isabel Alçada vai ouvir António Damásio com muita atenção, mas como professora e escritora destaca o facto de hoje se saber que o cérebro humano não estava formatado para a leitura e que foi necessária uma adaptação de outras capacidades para a invenção da escrita e o salto qualitativo das sociedades depois dessa aquisição.
“É muito interessante ver o que as neurociências têm feito nesta área da leitura e da aprendizagem, porque nós nascemos sem competência para aprender a ler. A humanidade inventou a escrita muito tarde na sua própria história e isso reflecte-se na nossa configuração neurológica, porque quando nascemos estamos preparados para falar e compreender o discurso oral e comunicar com os outros seres humanos. Já o Chomsky dizia que esta competência é inata porque foi formatada neurologicamente ao longo dos milénios”, explica Alçada.
Mas para a leitura não. “O que fazemos em casa, no jardim de infância e na escola tem muita influência na formatação do cérebro para a leitura, é um processo longo e difícil. Hoje os cientistas dizem que são células que estavam previstas para a visão, para a captação de sinais visuais, que são recicladas para compreender o código da escrita, que não é nada óbvio. Isto implica que o desenvolvimento das sociedades para adquirirem literacia, que é tão importante para o desenvolvimento sustentado, tenha a ajuda das ciências para que os educadores tomem consciência da sua importância”, sublinha.
Tal como os Escritores no Palácio, também o programa dos Cientistas vai associar os encontros com uma visita ao Museu da Presidência e ao Palácio de Belém, o que constitui também uma ‘aula’ de cidadania e aproximação à política. E Marcelo Rebelo de Sousa estará presente sempre que a agenda o permita, o que será quase sempre.
“Os alunos que já cá vieram tem demonstrado uma enorme curiosidade pelo palácio e a sua história, e sobretudo pelo Presidente, que tem uma grande capacidade de comunicação de jovens de todas as idades, desde os mais pequeninos”, sublinha Isabel Alçada. Há que “aproveitar essa capacidade de comunicação do Presidente para o bem comum, para valorizar a leitura e o conhecimento”, acrescenta Paulo Magalhães.
Falta dizer que o programa Cientistas no Palácio é uma iniciativa conjunta do Plano Nacional de Leitura, da Ciência Viva e da rede das bibliotecas escolares, que está a desenvolver nas escolas um programa de literacia científica. E que nada tem custos acrescidos para o Estado, já que a colaboração dos cientistas é graciosa e é tudo feito com os programas ministeriais.