Palavras, expressões e algumas irritações: perseguição

Se em 2013 José Sócrates se concentrava na “perseguição” da direita, alegando que esta apresentava “uma narrativa única, sem contraditório e sem oposição”, agora foca-se no “perseguidor” Ministério Público, que o acusa de 31 crimes

Todos saberemos o significado de “perseguição”, mas é sempre bom consultar os dicionários para provar que estamos certos. “Acto ou efeito de perseguir, de ir atrás de alguém para o apanhar.”

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Todos saberemos o significado de “perseguição”, mas é sempre bom consultar os dicionários para provar que estamos certos. “Acto ou efeito de perseguir, de ir atrás de alguém para o apanhar.”

A forma verbal “perseguir” tem, entre outras, as explicações “seguir os passos, procurar com insistência” e “causar incómodo, seguir obsessivamente, acossar, atormentar”. Frase exemplificativa: “Figuras públicas que os jornalistas e os caçadores de autógrafos perseguem.”

Fosse José Sócrates a editar os dicionários e acrescentaria “Ministério Público e direita”.

Se em Março de 2013, em entrevista à RTP1, o ex-primeiro-ministro se concentrava na “perseguição” da direita, alegando que esta apresentava “uma narrativa única, sem contraditório e sem oposição”, na entrevista de sexta-feira ao mesmo canal, Sócrates focou-se no “perseguidor” Ministério Público, que o acusa de 31 crimes. “Isto nunca foi uma investigação a um crime, foi a perseguição a um alvo”, disse.

Antes como agora, regressa o socialista a uma palavra com que até simpatizamos, “embuste”, que significa “mentira ardilosa”. Palavras de Sócrates: “Nego que seja meu o dinheiro. É um embuste segundo o qual tinha uma fortuna na Suíça. Com base em que fundamento é que o Ministério Público pode fazer uma acusação dessas?”

Também gostamos das palavras “narrativa” e “fábula”, esta surgiu agora a propósito da relação deste acusado com outro, Ricardo Salgado: “Nunca fui ao banco do dr. Salgado. Nunca fui a casa dele. Nunca me encontrei para almoçar fora. O problema é a fábula.”

Continuando no léxico literário, a defesa usou a frase “romance vazio de factos e de provas” para classificar o processo, a que o advogado João Araújo acrescentou “atascanço de vilipêndios”. Quanta elegância.

A rubrica Palavras, expressões e algumas irritações encontra-se publicada no P2, caderno de domingo do PÚBLICO

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Eduardo Salavisa

A rubrica Semana ilustrada, nesta edição assinada por Eduardo Salavisa e que reflecte a acusação de José Sócrates na Operação Marquêsencontra-se publicada no P2