Quem teve pernas para andar em Frankfurt foi a não-ficção
Na feira do livro mais importante no sector editorial mundial não houve um livro que se destacasse. Mas a não-ficção esteve na dianteira, deixando para trás a ficção.
A Feira do Livro de Frankfurt deste ano não teve nenhum livro que motivasse a disputa de todos os editores. No evento, de resto, não se falou muito de literatura ou de ficção, falou-se mais de livros de não-ficção e de ensaio ou memórias, como as da cantora e actriz Cher.
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A Feira do Livro de Frankfurt deste ano não teve nenhum livro que motivasse a disputa de todos os editores. No evento, de resto, não se falou muito de literatura ou de ficção, falou-se mais de livros de não-ficção e de ensaio ou memórias, como as da cantora e actriz Cher.
“Alguns são livros de auto-ajuda, mas que se disfarçam com outros títulos”, explica ao PÚBLICO Joana Neves, editora da Bertrand. Isto talvez tenha acontecido porque a área da não-ficção tem ainda “muitas pernas para andar e muito por onde crescer”, diz Cláudia Gomes, da Porto Editora. “Na ficção, se formos buscar temas e se os ficcionarmos, também se podem fazer coisas diferentes. Mas não tem aparecido nada de muito original”, acrescenta esta editora, que viu como principal tendência "o thriller psicológico, um bocadinho na onda dos da Paula Hawkins, a autora de A Rapariga no Comboio”. Outra tendência são os livros sobre o funcionamento do cérebro, e também tudo o que tenha a ver com a saúde. “Há realmente muitas obras sobre o cérebro, livros que têm uma base científica, mas de fácil acesso; e também livros sobre como viver uma vida mais calma, menos stressante, sobre como combater a ansiedade”, acrescenta a editora.
José Prata, da Lua de Papel (grupo Leya), notou que há livros que são “uma espécie de resposta à tendência actual de se ter sempre o tempo ocupado, criando espaço para se fazerem coisas de que realmente se gosta, e isso não é necessariamente estar-se conectado em rede”. Dentro dessa linha, e “em resposta à crescente virtualização do nosso mundo, continua a haver muitos livros sobre natureza e animais: não há ninguém que não tenha uma quinta e que não escreva um livro sobre como é bom viver entre as cabras, as vacas, as galinhas, e mesmo entre os cisnes”, diz, a brincar, o editor, que também destaca a tendência forte de livros sobre comportamento animal (preguiças, zebras, polvos…).
“Na esteira do sucesso dos livros sobre o estilo de vida nórdico, ou de arrumação, como os da japonesa Marie Kondo, apareceram também muitos sobre o modo de vida japonês a serem oferecidos no mercado”, acrescenta José Prata, que viu também muitos livros sobre mulheres, sobre “empowered women”, principalmente no mercado americano, à luz do caso do produtor Harvey Weinstein, que está a abanar a América e o mundo.
Outra tendência na feira deste ano, esta notada pela editora Guilhermina Gomes, do Círculo de Leitores e da Temas & Debates, são livros que se situam entre a biografia e a filosofia. A editora negociou e fez uma oferta pela nova biografia de Nietzsche, que tem por título I Am Dynamite e foi escrita por Sue Prideaux, a mesma autora da biografia Edvard Munch: Behind the Scream (Yale University Press), que recebeu o James Tait Black Memorial Prize, e de Strindberg: A Life (Yale University Press), que esteve nos finalistas do Samuel Johnson Prize.