Falta de conhecimento impediu evacuações

Instituto Português do Mar e da Atmosfera produz informação que não transmite à Protecção Civil.

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Protecção civil defendeu que não foi possível evacuar aldeias Nelson Garrido

A expressão utilizada no relatório é forte. A ausência de uma leitura precoce não evitou que "se tivesse verificado uma fuga para a morte". Subjacente a esta conclusão está a ideia de que não houve um "alerta precoce", porque o incêndio foi mal lido. E a leitura não foi adequada  porque não houve, nem há, "apoio de analistas de incêndio" para uma avaliação da situação "em tempo real".

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A expressão utilizada no relatório é forte. A ausência de uma leitura precoce não evitou que "se tivesse verificado uma fuga para a morte". Subjacente a esta conclusão está a ideia de que não houve um "alerta precoce", porque o incêndio foi mal lido. E a leitura não foi adequada  porque não houve, nem há, "apoio de analistas de incêndio" para uma avaliação da situação "em tempo real".

Esta é uma das conclusões mais duras do relatório que defende que deveriam ter sido tomadas medidas de evacuação de aldeias ou informação às populações para que não saíssem de casa, decisões tomadas a partir de uma "análise adequada da situação de modo a prever o comportamento potencial do incêndio iniciado há mais de cinco horas". Mas essa análise não foi feita e não o foi por falta de conhecimento técnico sobre o comportamento do fogo.

"O fogo dirigia-se para Sul e as mortes são a Oeste. Que indicadores tínhamos para dizer àquelas pessoas para ficarem em casa?", questiona-se, em declarações ao PÚBLICO um dos envolvidos no combate. No próprio relatório é admitido que "o rápido desenvolvimento do incêndio não permitiu uma antecipação do que iria acontecer de modo a salvar vidas".

Grande parte do documento insiste na falta de conhecimento aplicado às operações de prevenção e de combate. Um desses problemas tem início logo na fase de prevenção e prende-se com o défice e a imprecisão da informação meteorológica e pirometeorológica (risco de incêndios) disponibilizada. Já na fase de combate, não há meteorologistas especializados em cada incêndio, o que dificulta a tarefa dos operacionais.

No relatório, o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) não sai completamente "ileso" do que aconteceu. Os técnicos dizem que a informação prestada nos três briefings na Autoridade Nacional de Protecção Civil (ANPC) nos dias anteriores foi "genérica" e que, "estranhamente", o IPMA até produz relatórios com índices meteorológicos e de instabilidade atmosférica que "não são transmitidos à ANPC".

Essa informação teria, neste caso, impacto na prevenção de incêndios e nas decisões sobre o pré-posicionamento dos meios. Já a falta de apoio técnico teve impacto nas decisões de combate e nas estratégias a usar (decisão sobre defesas perimétricas de casas ou evacuações).