Dois homens, um destino: uma comparação possível entre Rio e Santana
São da mesma geração e foram os dois autarcas. Rui Rio e Pedro Santana Lopes têm um mundo de diferenças entre si, entre pontos fortes e pontos fracos.
Nenhum dos dois tem propriamente segredos para o povo social-democrata. Rui Rio e Pedro Santana Lopes, de 60 e 61 anos respectivamente, já travaram várias batalhas pelo PSD, incluindo nas duas principais autarquias do país, Porto e Lisboa, que funcionam como verdadeiros ministérios.
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Nenhum dos dois tem propriamente segredos para o povo social-democrata. Rui Rio e Pedro Santana Lopes, de 60 e 61 anos respectivamente, já travaram várias batalhas pelo PSD, incluindo nas duas principais autarquias do país, Porto e Lisboa, que funcionam como verdadeiros ministérios.
A nível nacional, contudo, só um dos dois candidatos à cadeira que Pedro Passos Coelho ocupará até ao congresso de Fevereiro é que foi testado. Santana Lopes concorreu às eleições legislativas de 2005 e não chegou aos 30% dos votos, o que representou uma pesada derrota para o partido que até então estivera no poder.
Com este resultado, consubstanciado na eleição de 75 deputados, o social-democrata acabou por abrir a porta ao consulado de José Sócrates e a um período em que o PSD ficou na oposição durante seis anos. Nessa fase, o PSD teve como líderes Marques Mendes, Luís Filipe Menezes, Manuela Ferreira Leite e Pedro Passos Coelho.
Enquanto isso, Rui Rio mantinha-se no Porto, cumprindo um mandato de doze anos e criando algumas resistências a nível local. Criou também uma imagem nacional de homem rigoroso e preocupado com a contas que nunca foi levada a votos. Resta saber se será desta.
Os candidatos analisados à lupa
Rui Rio
Pontos fracos
Vacilar ou mesmo recusar candidaturas a cargos nacionais ou autárquicos constam de um e de outro currículo. Rui Rio não quis avançar para a liderança do PSD quando era presidente da Câmara do Porto e voltou a recusar nas últimas presidenciais. Quanto a experiência governativa, há quem recorde que o antigo autarca nunca integrou um governo (o mais perto disso que esteve disso foi ser deputado). Na comunicação, Rio tem uma imagem de má relação com jornalistas e não se quis submeter a perguntas logo na apresentação da candidatura.
Pontos fortes
Nenhum dos dois candidatos fez parte do governo de Passos e Portas, ou seja, os dois têm liberdade para construir um discurso que se afaste da narrativa de Passos Coelho que muitos pensam ter sido penalizada nestas autárquicas. No currículo de Rio, contam (e muito) os três mandatos consecutivos e reforçados na Câmara do Porto (2001-2013). Muitos lhe reconhecem o trabalho de autarca e a coragem como lidou com o Futebol Clube do Porto.
Apoios
Numa altura em que se começam a contar espingardas para o dia 13 de Janeiro não são apenas os figurões que contam, mas sim as bolsas de voto. Rui Rio pode ter algumas dificuldades no distrito de Braga – embora já seja certo que o presidente da câmara, Ricardo Rio, apoie a sua candidatura – e também no Porto onde algumas concelhias já se decidiram por Santana Lopes. Reúne muitos dos críticos do antigo-primeiro-ministro. Tem prometidos votos na Guarda, Leiria e Aveiro. Alberto João Jardim, Manuela Ferreira Leite e Feliciano Barreiras Duarte estão entre os seus apoiantes.
Ideias
Da parte de Rui Rio sabe-se muito pouco ou nada do seu programa. Na apresentação da candidatura, nesta quarta-feira, colocou o partido ao centro e afastou a ideia de que seria número dois de um bloco central: “O PSD não é muleta do poder.”
Santana Lopes
Pontos fracos
No caso de Santana Lopes há quem não se esqueça que recusou ser candidato a Lisboa nestas autárquicas, com a justificação do trabalho que estava a fazer na Santa Casa, estando agora disponível para a liderança do partido e para ser, caso vença, candidato a primeiro-ministro. Foi secretário de Estado de Cavaco Silva, deputado e líder da bancada parlamentar. Além disso, liderou um executivo durante alguns meses em 2004 (quando Durão Barroso foi para presidente da Comissão Europeia), mas não de boa memória.
Pontos fortes
No registo de Santana Lopes também está a capacidade de ter vitórias eleitorais – veja-se a inesperada de Lisboa em 2001 contra João Soares. Além disso, é um bom comunicador, que se expressa com clareza. O ex-primeiro-ministro tem ainda como vantagem uma relação de afectividade com o partido e uma ligação ao PPD de Sá Carneiro.
Apoios
Em Lisboa, os apoios dividem-se. O líder da distrital, Pedro Pinto, e a estrutura, assim como vários presidentes de junta, declaram-se ao lado de Santana Lopes, mas Ricardo Gonçalves, da concelhia, a quem se aponta conseguir cerca de 700 votos, é apoiante de Rui Rio. Muitos dos que estiveram com Passos Coelho tendem a apoiar Santana Lopes tendo em conta que a candidatura de Rio foi construída como anti-passista. No Porto, em Aveiro e Braga as divisões também se verificam. Santana pode vir a ter a seu lado Nuno Morais Sarmento, que recentemente se mostrou mais afastado de Rio do que se pressupunha.
Ideias
Santana Lopes já vai divulgar o seu programa na próxima semana quando fizer a apresentação da candidatura. Depois de já ter mostrado disponibilidade para fazer “pactos de regime” em questões como obras públicas, justiça e saúde, o ex-primeiro-ministro deverá ter um discurso baseado na área social tendo em conta o trabalho desenvolvido na Santa Casa da Misericórdia de Lisboa.