"Intervenção externa não foi um falhanço"

Daniel Bessa diz que o ajustamento em Portugal correu bem, mas que são necessárias reformas. No sistema de pensões, diz-se confortável. E no trabalho se defende flexibilidade nos horários, considera que os patrões deveriam estar abertos a distribuir parte do crescimento dos lucros.

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Nelson Garrido

Em matéria de impostos, ou da legislação laboral, algumas organizações internacionais, como o FMI, vieram reconhecer que as suas ideias estavam erradas e mudaram de perspectiva. Antes eram uma liturgia obrigatória, agora já não é bem assim.
Acredito que essas casas são grandes casas, com uma enorme experiência. Mas às vezes desenvolvem-se lá dentro linhas de actuação que pecam por excesso. São dogmáticas, olham mais para os livrinhos do que para a realidade. Desse ponto de vista, por exemplo o FMI, foi relativamente humilde em relação ao que aconteceu em Portugal. Disse que se enganou. Mas eu não acho que o que aconteceu em Portugal fosse um falhanço. Nós já vamos na terceira intervenção externa e já na primeira e na segunda se tinha dito que Portugal tinha sido um caso onde a coisa correu bem, sobretudo com Ernâni Lopes. E agora não me parece que tenha corrido muito mal porque há uma das grandes casas de rating que já nos tirou do lixo, as avaliações dos organismos internacionais são mais favoráveis, as exportações cresceram ainda antes de a economia começar a crescer. Não podemos dizer que isto foi um falhanço. Mas há coisas que podiam ter sido feitas melhor.

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Em matéria de impostos, ou da legislação laboral, algumas organizações internacionais, como o FMI, vieram reconhecer que as suas ideias estavam erradas e mudaram de perspectiva. Antes eram uma liturgia obrigatória, agora já não é bem assim.
Acredito que essas casas são grandes casas, com uma enorme experiência. Mas às vezes desenvolvem-se lá dentro linhas de actuação que pecam por excesso. São dogmáticas, olham mais para os livrinhos do que para a realidade. Desse ponto de vista, por exemplo o FMI, foi relativamente humilde em relação ao que aconteceu em Portugal. Disse que se enganou. Mas eu não acho que o que aconteceu em Portugal fosse um falhanço. Nós já vamos na terceira intervenção externa e já na primeira e na segunda se tinha dito que Portugal tinha sido um caso onde a coisa correu bem, sobretudo com Ernâni Lopes. E agora não me parece que tenha corrido muito mal porque há uma das grandes casas de rating que já nos tirou do lixo, as avaliações dos organismos internacionais são mais favoráveis, as exportações cresceram ainda antes de a economia começar a crescer. Não podemos dizer que isto foi um falhanço. Mas há coisas que podiam ter sido feitas melhor.

Quais são as principais reformas a fazer? A da legislação laboral, do sistema de pensões?
O português mais amado diz que falta no país visão a médio e longo prazo.

Refere-se ao presidente?
Sim, o português mais amado e admirado. Ele até disse que depois das autárquicas ia falar com os partidos sobre esse tema. Eu vejo o sistema de pensões, em prazos mais curtos, ligado ao crescimento e num prazo mais longo ligado à demografia. Isso está mais ou menos, incorporado na lógica do sistema de pensões através do factor de sustentabilidade. Portugal é um dos países que resolveu isso melhor. No sistema de pensões sinto-me relativamente confortável. Na área do trabalho, um dos temas maiores é a questão da flexibilidade funcional e de horário. Acho que o horário de trabalho é 35 horas e não é preciso aumentar. Mas estaria disponível para que, em caso de necessidade, essas horas pudessem ser usadas sem remuneração fora do horário normal.

Mas isso já existe.
Mas fala-se em retroceder. Esse tema da Volkswagen, do trabalho ao sábado: vocês trabalham ao sábado. Nesta casa [Porto Business School] sempre trabalhei ao sábado – é aliás o dia em que se trabalha mais, que é quando os alunos estão disponíveis. Nunca passou pela cabeça de ninguém a esta casa pedir que o trabalho ao sábado fosse considerado trabalho extraordinário. No tempo de José Sócrates eu sugeri aos maiores empresários portugueses que assumissem algum compromisso de partilha, já não era dos lucros, era do aumento dos lucros.

Que resposta teve?
Foi recusada e eu vi isso com pena. Recebi comentários do tipo: e o mercado de capitais? E os investidores? Vamos sair mal comparados com outras empresas. Isso não se pratica não sei onde. Não se foi por aí. Eu não posso pedir mais flexibilidade e depois, na hora de ganhar, não estar disponível para distribuir. Eu não propunha que se distribuíssem lucros; apenas que se afectasse uma parte do aumento dos lucros.