Os pensamentos e conselhos de Santana Lopes, “passe a presunção”
O PÚBLICO foi espreitar algumas notícias, entrevistas e artigos de opinião de Santana Lopes para perceber com que linhas se escreve, e se cose, o pensamento do social-democrata.
No dia em que Pedro Santana Lopes se despediu da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa e se assumiu "candidato" à liderança do PSD, revisitámos as suas ideias. As entrelinhas contam.
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No dia em que Pedro Santana Lopes se despediu da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa e se assumiu "candidato" à liderança do PSD, revisitámos as suas ideias. As entrelinhas contam.
O elogio possível a Rui Rio
A 11 de Novembro do ano passado, Santana Lopes discorria sobre uma entrevista de Rui Rio. Era uma no cravo, outra na ferradura. Por um lado, colocava em causa as declarações, “semana após semana”, de Rio, nas quais dizia que “não é a altura” de se apresentar como alternativa, “mas que na altura logo se verá”. Por outro, elogiava o conteúdo da entrevista e o pensamento de Rio, embora ressalvando não concordar com tudo. Dizia ser uma entrevista “de alguém que tem pensamento próprio”, “com posições fundamentadas”, “explicando-se bem”. De qualquer forma, deixava límpido o seu posicionamento no tabuleiro: “Que fique claro: sou defensor da inteira legitimidade da liderança de Pedro Passos Coelho, pelo que não devo nem quero entrar em apreciações críticas à sua liderança. Esse não é o tempo, e mesmo que o fosse, e que tivesse motivos para criticar, seria muito difícil, para não dizer impossível, que isso acontecesse, pela consideração que por ele tenho”, lia-se no Correio da Manhã (CM).
Uma “geringonça” à direita
Para Santana Lopes, a direita deve celebrar um entendimento, tal como fez a esquerda. Em Dezembro do ano passado, questionava no CM: “Ora se o PS se pode coligar à sua esquerda para sustentar o Governo, por que é que o PSD não se pode coligar à sua direita para as autárquicas?” E tirava o chapéu ao primeiro-ministro socialista António Costa, à sua “habilidade”, “inteligência” e “capacidade para dar lições às esquerdas”. Em Fevereiro deste ano, admitia a solidez da “geringonça” e voltava a mostrar vontade de copiar o modelo: “Parece ser lógico que o centro-direita deveria também juntar esforços para contrariar esta nova realidade que surgiu à esquerda no sistema político português.” Um contra-ataque: “Não se justificaria que o PSD e o CDS celebrassem também um acordo parlamentar para responder à maioria parlamentar que se formou?”
Líder, mas num grande congresso
Santana Lopes quer acabar com as primárias para que os líderes voltem a ser eleitos em grandes congressos: “Acho que está na altura de o partido pensar em voltar a ter os grandes congressos do PPP/PSD e de o presidente do partido voltar a ser escolhido em congresso”, disse num comício recente, assumindo, porém, que foi “um dos grandes responsáveis” pela introdução de eleições directas.
As escolhas de Cristas
Santana Lopes registou a opção da líder centrista que foi candidata à autarquia de Lisboa: “Foi surpreendente ouvir Assunção Cristas dizer que se, porventura, fosse eleita presidente da Câmara de Lisboa deixaria a liderança do CDS”, escreveu no CM. O social-democrata não esconde o espanto: “Assunção Cristas diz ao país que, entre governar Portugal ou governar Lisboa, escolheria governar Lisboa.” Santana deixou, então, um conselho a Cristas, mostrando-lhe que sabe do que fala: “Continuo a considerar muito interessante o percurso de Assunção Cristas. A sua intervenção no debate quinzenal desta semana – para lá dos dispensáveis insultos a António Costa – foi muito acutilante, bem construída e, o que é importante, bem expressa também em termos faciais. Assunção Cristas está a conseguir segurar as rédeas da liderança no seu partido e a convencer interna e externamente que é líder. Mas os líderes não se podem enganar no caminho e nas escolhas que fazem e, passe a presunção, fala quem sabe.”
Regionalização
Em Fevereiro, Santana aproximava-se de António Costa no tema da regionalização: “Sei pelas declarações públicas do primeiro-ministro António Costa e por algumas conversas já tidas sobre o tema, desde há anos, que ele acredita mesmo que a descentralização pode mudar e melhorar os termos de funcionamento do país. Nessas conversas constatámos, em geral, identidade de posições sobre o assunto”, lia-se no CM.
A difícil oposição
Santana reconheceu várias vezes, em artigos de opinião, que não é fácil para o PSD ser oposição quando os resultados alcançados pela “geringonça” têm sido positivos: “Portugal está com um crescimento económico que já não tinha há quase duas décadas e com um nível de desemprego que também já não conhecia há uns bons anos. E isso faz toda a diferença. É que ser oposição a um partido de Governo que apresenta esses resultados - independentemente do estafado debate sobre a quem cabe os respectivos méritos - não é, na verdade, nada, nada fácil.” E lançava a dúvida: “Com certeza que se pode depois discutir se a oposição é feita ou não de um modo mais eficaz, ou de um modo mais correto, ou de um modo mais adequado. Mas também nos podemos interrogar sobre quem poderia ter, no quadro actualmente existente, melhores resultados na oposição.”
Os exageros de Marcelo
Embora defenda ser “correcto” que um Presidente da República “considere o governo que está em funções o seu governo”, Santana admitia numa entrevista ao Diário de Notícias: “É manifesto que Marcelo, às vezes, tem exagerado e, muitas vezes, tem feito de primeiro-ministro nas intervenções que faz, o que dá imenso jeito [risos] ao dr. António Costa, a vários títulos.”
Não era uma selfie, mas era com Marcelo
O objectivo do texto assinado em Abril no CM era questionar o que terá “mais vantagens”: “Apostar nos desconhecidos ou nos conhecidos?” Para bom entendedor, meia resposta basta. E essa resposta estava numa fotografia, publicada no Expresso e citada por Santana. Era uma fotografia, descrevia o social-democrata, com mais de 30 anos “sobre o que poderá ser um grupo de pessoas com prevalência no PSD”. Quem estava nela? “Conceição Monteiro, José Miguel Júdice, Marcelo Rebelo de Sousa e eu próprio. Faltava Durão Barroso.” Onde estão agora? “Marcelo Rebelo de Sousa exerce as funções de Presidente da República e é professor catedrático de Direito; José Miguel Júdice é um distinto advogado, tendo sido mesmo bastonário da respectiva Ordem; Durão Barroso é chairman da Goldman Sachs, foi presidente da Comissão Europeia e primeiro-ministro, e é também um ilustre jurista; eu exerço as funções de provedor da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, sou advogado, já não dando aulas na universidade, e, entre outras funções, já fui presidente da Câmara Municipal de Lisboa e primeiro-ministro.” E, novamente, passa “a presunção”: “passando a presunção no que me respeita, as pessoas em causa já tinham condições para ter vida própria e todos viemos a ter actividade, também pública – com excepção talvez de José Miguel Júdice –, durante muitos anos e sufragada ou confirmada em diferentes circunstâncias e por diferentes eleitorados.”
Para acabar de vez com as “lapas” no PPD
A 6 de Outubro, Santana Lopes lançava-se contra as “lapas” nas linhas do CM: “Os partidos não se constroem com lapas e o PSD tem um número considerável dessa espécie.” Quem são? é preciso ler nas entrelinhas. “As lapas agarram-se quando lhes interessa e onde julgam que se podem segurar. Podem mudar de um lado para o outro, mas nunca deixam de ser o que são. Há lapas que já foram autarcas, mas não deixaram marca, não deixaram nada, ou porque não são capazes e/ou porque se preocupam sempre mais em tratar da sua sobrevivência do que do desenvolvimento das comunidades a quem o voto pediram.” E acrescentava: “O PPD/PSD viu sair o seu líder que fez um trabalho digno de muito reconhecimento. O PPD/PSD tem agora de escolher a solução capaz de enfrentar um adversário muito poderoso de quem neste momento se diz com condições de conseguir uma maioria absoluta nas próximas eleições legislativas.” E, mais uma vez, pedia desculpa pela “presunção”: “Nesta fase, os programas são muito importantes, por mim, é disso que estou a cuidar estes dias. Sou mais de acção, sou mais de agir e, desculpem a presunção, mas, nas três casas que dirigi com algum tempo até hoje, têm querido que eu regresse ou que eu continue: falo da Figueira, de Lisboa e da Santa Casa. As lapas estão ou vão quando lhes convém. Têm valor os que acrescentam valor… Juventude, trabalhadores, empresários, autarcas, investigadores, os que vão por projectos. Eu também sou assim.”