Ku Klux Klan da Florida ameaça espancar negros "que façam olhinhos" a raparigas brancas
Nos últimos dias, o grupo distribuiu folhetos no norte e no centro da Florida e também na Carolina do Norte. Polícia diz que se trata de "distribuição de literatura" – algo que "não é, em si mesmo, um crime".
A polícia da Florida está a investigar a descoberta de folhetos com mensagens racistas e ameaças contra cidadãos negros e judeus em pelo menos duas zonas do estado, poucos dias depois de algo semelhante ter acontecido durante um jogo de futebol americano numa escola secundária do estado da Carolina do Norte.
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A polícia da Florida está a investigar a descoberta de folhetos com mensagens racistas e ameaças contra cidadãos negros e judeus em pelo menos duas zonas do estado, poucos dias depois de algo semelhante ter acontecido durante um jogo de futebol americano numa escola secundária do estado da Carolina do Norte.
O aparecimento de folhetos com mensagens racistas e homofóbicas em comunidades norte-americanas, em particular no Sul do país, não é invulgar – o que distingue os folhetos descobertos na Florida e na Carolina do Norte nos últimos dias é a violência das ameaças.
Num dos folhetos, encontrados num bairro da cidade de Jacksonville, no norte da Florida, está um "aviso a todos os pretos": "Qualquer macaco que for apanhado a 'fazer olhinhos' a uma rapariga branca será espancado com bastões e as vossas mães não vão receber mais bananas – é uma promessa!"
Num outro folheto está uma mensagem de ódio dirigida aos judeus: "Quem luta contra o Judeu, luta contra o Diabo" – uma frase cuja autoria é atribuída a Julius Streicher, um dos responsáveis pela propaganda nazi antes e durante a Segunda Guerra Mundial e fundador do jornal Der Stürmer.
Aqueles folhetos, encontrados na zona de East Arlington, em Jacksonville, estavam enrolados e foram deixados em ruas de vários bairros, na direcção da porta de cada moradia. No fim das mensagens de ódio está impressa uma assinatura: Loyal White Knights – o maior dos vários grupos independentes espalhados pelos Estados Unidos da América que representam a 3.ª vaga do Ku Klux Klan.
A polícia de Jacksonville disse que está a investigar o caso, mas adiantou que até ao momento não há indícios de crime: "Se não houver [crime], aproveitamos a oportunidade para explicar aos queixosos que a distribuição de literatura – seja qual for o grau de ofensa que essa literatura tem para algumas pessoas – não é, em si mesmo, um crime", disse o porta-voz da polícia, Chris Brown, ao canal WTVL.
Objectivo: recrutar
Também no fim-de-semana, mas na zona centro da Florida, perto de Orlando, foram encontrados outros folhetos com mensagens racistas e homofóbicas. Neste caso, os folhetos estavam dentro de pacotes de rebuçados atirados para o chão, a maioria na zona de Daytona Beach. Num deles lia-se "Acabem com a SIDA, apoiem a perseguição de gays".
Em declarações ao canal News 6, um dos líderes locais dos Loyal White Knights disse que os folhetos foram distribuídos pelo seu grupo, e que o objectivo é recrutar novos membros e "fazer saber aos brancos que o Klan está nos bairros deles".
"Não vejo diferenças entre os Loyal White Knights, o NAACP [National Association for the Advancement of Colored People, organização de defesa e promoção dos direitos dos negros] e outros grupos de defesa dos direitos civis", disse James Spears, "Grande Titã" do grupo ("Grande Titã" é a designação atribuída aos líderes do Klan nos distritos de cada estado norte-americano).
Num outro estado, na Carolina do Norte, foram encontrados folhetos semelhantes nos pára-brisas de carros estacionados no parque da escola secundária de Grey's Creek, na cidade de Hope Mills – os folhetos foram encontrados pelos pais de alunos durante um jogo de futebol americano. Segundo o jornal The Faytteville Observer, James Spears, o "Grande Titã" dos Loyal White Knights, disse que os folhetos foram distribuídos por outros membros do seu grupo.
"Genocídio"
Grupos como os Loyal White Knights, fundados na última década, apresentam-se como os legítimos herdeiros do Ku Klux Klan original (meados da década de 1860) e da sua 2.ª vaga (de 1915 até ao fim da II Guerra Mundial). Ao contrário dos antecessores, dizem que não são racistas e que não defendem o uso de violência. Em vez disso, dizem que estão apenas a defender uma ideologia e que, por isso, têm direito à liberdade de expressão nos Estados Unidos; e que compreendem e respeitam as lutas de cada comunidade, desde que essas comunidades não se misturem – é com esta nova formulação que pretendem equiparar-se a grupos de activistas como o Black Lives Matter, por exemplo.
Uma ideia que une os actuais grupos de supremacistas brancos norte-americanos é a de que está em curso um genocídio da população branca, através de políticas que, no seu entender, fomentam a entrada de imigrantes e refugiados nos Estados Unidos.
Em finais de Agosto, numa entrevista a uma jornalista da estação Univision, o líder nacional dos Loyal White Knights, o "Mago Imperial" Chris Barker, rejeitou a acusação de que é racista e disse que não odeia ninguém.
"Nós não ofendemos ninguém, apenas dizemos o que está escrito na Bíblia. Dizem-vos que na Bíblia está escrito que devem amar o vosso vizinho, mas o que está lá escrito é que devem amar o vosso vizinho do vosso povo. O meu povo são os brancos, o seu povo são os negros", disse Barker, numa entrevista que acabou com ameaças aos imigrantes nos Estados Unidos através da entrevistadora, a colombiana Ilia Calderon: "Vou correr convosco com fogo. Da última vez matámos seis milhões de judeus, 11 milhões não é nada."