Séries produzidas por Harvey Weinstein em risco
Uma série sobre Elvis para a Apple foi cancelada, The Romanoffs para a Amazon pode perder a co-produção da Weinstein Company e mega-produção de David O. Russell para a Amazon pode nunca chegar a acontecer.
Já muito aconteceu desde que rebentou, na semana passada, o escândalo de assédio e abuso sexual por parte de Harvey Weinstein. Várias novas vítimas vieram a público acusá-lo e o influente produtor de cinema foi despedido da Weinstein Company, a produtora que fundou com o irmão, e a mulher dele pediu o divórcio.
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Já muito aconteceu desde que rebentou, na semana passada, o escândalo de assédio e abuso sexual por parte de Harvey Weinstein. Várias novas vítimas vieram a público acusá-lo e o influente produtor de cinema foi despedido da Weinstein Company, a produtora que fundou com o irmão, e a mulher dele pediu o divórcio.
À medida que mais e mais pessoas deixam de ter medo de falar em público sobre o que Weinstein e outros predadores lhes fizeram, começam também a aparecer as primeiras repercussões em termos do trabalho de Weinstein. Neste momento, o seu nome está a ser removido da produção executiva de vários dos seus trabalhos, como Project Runway ou Scream, a própria Weinstein Company poderá mudar de nome para se afastar deste caso e há mesmo projectos que podem cair por terra. Segunda-feira, o site Deadline anunciou que uma série de dez episódios sobre Elvis Presley para a Apple, feita com o aval dos herdeiros de Elvis e com produção executiva de Priscilla Presley, sua ex-mulher, tinha sido cancelada ainda na fase de planeamento. Com ela, foram-se também planos para séries semelhantes centradas em Michael Jackson, Prince e Frank Sinatra.
Na terça-feira, a revista The Hollywood Reporter citou um comunicado de Crag Berman, vice-presidente da comunicação da Amazon, a explicar que a empresa estava a repensar os projectos que tinha planeados para o Amazon Prime Video, o serviço de streaming, com o envolvimento de Weinstein. A mesma notícia fala também em fontes que estiveram numa reunião de executivos da empresa sobre o futuro dessas séries.
São duas. The Romanoffs, uma série de antologia de Matthew Weiner, o criador de Mad Men, que tem no elenco nomes como Isabelle Huppert, Aaron Eckhart, Christina Hendricks, John Slattery, Paul Reiser ou Amanda Peet no elenco e sobre pessoas que acreditam serem descendentes dos Romanoff, a família imperial russa que foi executada em 1918. Já em produção, com os primeiros episódios já gravados (a ideia é serem, ao todo, oito), a série ainda não tinha recebido o financiamento da Weinstein Company, e é possível, segundo as fontes da revista, que continue a ir para a frente só com a Amazon a pagar a totalidade dos 75 milhões de dólares (63 milhões de euros) do orçamento.
O futuro da outra série é mais tremido, com a notícia a referir a possibilidade de a desistência ser a melhor solução. É um projecto ainda sem título de David O. Russell –alguém que, tal como Weinstein, também já foi acusado de agressão sexual quando apalpou a sua sobrinha transgénero – com Robert De Niro e Julianne Moore – duas pessoas que não costumam fazer televisão – e um orçamento megalómano: 160 milhões de dólares (135 milhões de euros). Já tinham sido encomendadas duas temporadas e as fontes da Hollywood Reporter dizem que Roy Price, cabecilha dos Amazon Studios, continua a apostar nela.
Recorde-se de que, na semana passada, foi noticiado que Weinstein, que co-fundou a Miramax e a Weinstein Company, estaria a preparar-se para o impacto legal de duas vindouras notícias do jornal The New York Times e da revista New Yorker. Pouco depois, na quinta-feira da mesma semana, o The New York Times publicou a sua peça, com décadas de alegações sobre assédio sexual e conduta imprópria com mulheres. Já esta semana, na terça-feira, a New Yorker, após dez meses de pesquisa, foi mais além e publicou uma reportagem de Ronan Farrow em que mulheres como a actriz Asia Argento o acusavam directamente de violação e abusos sexuais. O texto saiu dois dias após Weinstein ter sido despedido da sua própria empresa, uma raridade neste tipo de casos mediáticos.
Desde as primeiras notícias que muitos nomes de Hollywood se apressaram em condenar a conduta do produtor, de Meryl Streep a George Clooney, passando por Rose McGowan, que tinha passado anos a falar sobre estas questões sem ser ouvida, Gwyneth Paltrow e Angelina Jolie, que falaram sobre as suas próprias experiências de assédio com Weinstein, ou Matt Damon, que foi acusado, apesar de o negar, de ter feito pressão para que o The New York Times não avançasse com uma peça sobre Weinstein em 2004. É que, mesmo nessa altura, já eram conhecidas alegações sobre o mau feitio de Weinstein, e até se faziam piadas em séries cómicas como Rockefeller 30, na qual Damon apareceu quatro vezes, sobre a conduta sexual imprópria do produtor.