Senador republicano ataca Trump: “centro de dia para adultos” e risco de "III Guerra Mundial"

Bob Corker está sob fogo de Trump depois de o senador dar a entender que são os secretários do Presidente que evitam o caos no país.

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Trump e Corker já tinham chocado em Agosto na altura da manifestação de extrema-direita em Charlottesville LUSA/SHAWN THEW

Poderia ter sido um domingo calmo na Casa Branca, não fosse Donald Trump ter publicado uma rajada de tweets em que acusa o republicano que preside à Comissão de Relações Internacionais do Senado, Bob Corker, de ser culpado pelo acordo nuclear com o Irão e de ter implorado o cargo de Secretário de Estado dos EUA depois das eleições de 2016. Em resposta, Corker lamentou que a Casa Branca “se tenha transformado num centro de dia para adultos”.

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Poderia ter sido um domingo calmo na Casa Branca, não fosse Donald Trump ter publicado uma rajada de tweets em que acusa o republicano que preside à Comissão de Relações Internacionais do Senado, Bob Corker, de ser culpado pelo acordo nuclear com o Irão e de ter implorado o cargo de Secretário de Estado dos EUA depois das eleições de 2016. Em resposta, Corker lamentou que a Casa Branca “se tenha transformado num centro de dia para adultos”.

“O senador Bob Corker ‘implorou’ que eu o apoiasse na reeleição no [estado do] Tennessee. Eu disse ‘NÃO’ e ele desistiu (disse que não podia vencer sem o meu apoio)”, escreveu o Presidente dos EUA no Twitter, neste domingo. “Ele também queria ser Secretário de Estado e eu disse ‘NÃO OBRIGADO’”.

Corker, republicano de 65 anos do estado do Tennessee, tem assumido uma posição mais crítica em relação a Trump nos últimos meses e anunciou no final de Setembro que não se voltaria a candidatar ao Senado em 2018; o senador também pôs de parte a hipótese de se candidatar como governador do Tennessee, um estado maioritariamente republicano. Trump diz que lhe falta a coragem.

“É uma pena que a Casa Branca se tenha transformado num centro de dia para adultos. Claramente houve alguém que não fez o seu turno esta manhã”, disse o senador, reagindo assim à série de tweets publicados por Donald Trump.

E o dia terminou com o senador a dar uma entrevista ao New York Times, em que subiu ainda mais o tom de crítica. Bob Corker acusou Trump de tratar a Casa Branca como “um reality show” e de estar a colocar os EUA “no caminho da III Guerra Mundial”.

“Ele preocupa-me. Ele deve preocupar qualquer pessoa que ame o nosso país”, disse Corker, que acusa Trump de agir como se “estivesse  fazer o The Apprentice [programa de televisão que foi apresentado por Trump] ou algo do género”.

As tiradas de Trump surgem depois de, na semana passada, Corker ter admitido em declarações aos jornalistas que o Secretário de Estado Rex Tillerson esteve perto de se demitir do cargo depois de se desentender com o Presidente. O senador observou ainda que Tillerson estava numa posição “incrivelmente frustrante”, já que “acaba por não ser apoiado da forma que um Secretário de Estado deveria ser apoiado”. E admitiu que nutria respeito pelo Secretário de Estado Tillerson, pelo secretário da Defesa Jim Mattis e pelo chefe de gabinete John Kelly, já que são eles que evitam o caos no país.

Ainda que pertençam ao mesmo partido, Corker e Trump já tinham chocado em outras ocasiões. Após a morna reacção do líder dos EUA aos confrontos numa manifestação de supremacistas brancos em Charlottesville, em Agosto, o senador republicano criticou a atitude de Trump, afirmando que lhe faltava demonstrar a “estabilidade” e a competência necessária para ser bem-sucedido enquanto Presidente.

Trump ripostou no Twitter, considerando essas declarações “estranhas” já que Corker lhe estava “sempre a perguntar” se deveria ou não recandidatar-se em 2018, mas os dois acabaram por resolver as animosidades numa reunião em Setembro, descrita por Corker como “amigável”.

O acordo nuclear com o Irão

Nos tweets deste domingo, Trump insinuou também que Bob Corker é “em grande parte responsável pelo terrível acordo com o Irão”, argumentando que já esperava que o senador fosse uma “voz negativa” para a sua “grandiosa” agenda.

Trump referia-se ao acordo nuclear do Irão, firmado em 2015 pelos EUA (ainda com a Administração Obama, que o considerou “histórico”), pela União Europeia e pelo Irão, depois de anos de avanços e recuos, um tratado que impede a nação iraniana de desenvolver as suas capacidades nucleares. Durante a campanha eleitoral de 2016, Trump frisou várias vezes que pretendia acabar com esse acordo.

Durante esta semana, o Washington Post noticiou que Donald Trump vai anunciar em breve, numa estratégia de confronto ao Irão, que o acordo com o país do Médio Oriente não está a ser cumprido e que não é do interesse dos EUA, pedindo ao Congresso que actue em conformidade. A Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA) contrariou as alegações de Washington e assegurou que as cláusulas do acordo estão a ser cumpridas pelo Irão.

As acusações de Trump ao senador Corker podem ser assim arriscadas, já que o presidente da Comissão de Relações Internacionais norte-americana – que só abandonará o cargo em Janeiro de 2019 – será uma voz importante, caso a decisão de revogar o acordo nuclear for avante. com H.D.S.