Comida condimentada não é necessariamente picante

Com 20 anos de porta aberta, o Mendi é um dos mais antigos e estáveis restaurantes indianos de Portugal. A cozinha aromática com ervas e especiarias faz toda a diferença mas o serviço, didáctico e cordial, também ajuda à aproximação às cores e sabores da gastronomia indiana.

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Nem tudo é picante nem sempre vegetariano. Na Índia, a cozinha é diversificada e pode mudar significativamente de região para região, como é natural num país que tem características de continente. Os pães chatos, de que o naan é a variedade mais popular, os curry, grelhados no tandoori, de frango ou borrego, e os peixes em cozinhados temperados com as mais diversas ervas e especiarias constituem a base mais comum, que varia sobretudo em função dos molhos e iogurtes que se lhes associam. Tudo sempre muito colorido e de sabores afirmativos.

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Nem tudo é picante nem sempre vegetariano. Na Índia, a cozinha é diversificada e pode mudar significativamente de região para região, como é natural num país que tem características de continente. Os pães chatos, de que o naan é a variedade mais popular, os curry, grelhados no tandoori, de frango ou borrego, e os peixes em cozinhados temperados com as mais diversas ervas e especiarias constituem a base mais comum, que varia sobretudo em função dos molhos e iogurtes que se lhes associam. Tudo sempre muito colorido e de sabores afirmativos.

A dificuldade, para os ocidentais menos familiarizados, está na escolha e combinação, pelo que por cá é comum vermos restaurantes cuja carta procura fazer uma síntese das várias especialidades para prova e degustação mais fácil e variada. É o caso do Mendi, no Porto, que, com os seus 20 anos de funcionamento, é, seguramente, um dos restaurantes de cozinha indiana mais antigos e de maior sucesso em Portugal.

Outra das características que fazem deste restaurante um caso de rara estabilidade está na equipa de cozinha, que se mantém praticamente desde o início e integralmente composta por profissionais vindos das origens, ou seja, do subcontinente indiano. Também o trabalho de sala de Kamal Rajani, o proprietário, com a ajuda da mulher e da filha, em muito contribuem para que até os menos familiarizados com a gastronomia indiana se sintam confortáveis na hora de eleger. 

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Nelson Garrido

A carta começa por explicar que tem por base “uma selecção especializada de pratos indianos”, que “as receitas são baseadas numa vasta variedade de ervas aromáticas e especiarias” e o seu uso pode mudar os sabores, sendo este um dos aspectos distintivos da preparação da comida indiana. “Comida condimentada não é necessariamente picante”, sendo as especiarias utilizadas “com a finalidade de enaltecer o sabor, o aroma e apresentação dos pratos e não para torná-los picantes”.

Socorremo-nos, naturalmente, dos conselhos do anfitrião, que de forma didáctica explica os molhos, identifica os mais condimentados, e serve à parte as malaguetas mais acutilantes. Naan em duas variações, uma com queijo e ervas (8,50€) e outra com alho (3€), que na refeição indiana, além de acompanhamento, serve também para levar à boca os alimentos, substituindo os talheres. Fofo, leve e ainda com os aromas quentes da preparação no momento.

Depois do pão, a carta apresenta uma dezena de sugestões para “entradas”, variedade de “grelhados no tandoor” , pratos de “frango” e “borrego” em diversas preparações e condimentos, e ainda “caril curry” de peixe ou frango, uma lista de opções “vegetariano” e “arroz” basmati em combinações diversas, com borrego, frango, camarões ou cebola.

Uma entrada mista (12,50€) permitiu provar os legumes fritos em polme de farinha de grão, uma espécie de peixinhos da horta de sabor mais afirmativo, a chamuça com recheio de legumes, os pedacinhos de queijo fresco e espinafres fritos, e ainda a cebola ralada frita. Tudo vegetariano, que se envolvia com diferentes sabores e aromas em função do iogurte e dois diferentes molhos com que se envolviam.

No vegetariano “chana masala” (13€), o grão de bico e cebola são cozinhados com especiarias e tomate, que dão sabor intenso e envolvente, ao passo que o “camarão à moda de Goa” (21€) é cozinhado em leite de coco com especiarias e coco fresco, numa envolvência, rica e saborosa, sempre fresca e perfumada. Cativante também o frango esfiado cozinhado em especiarias, tomate, pimentos, cebola e coentros (19,50€), tal como o borrego marinado e grelhado no tandoor (16,50€).

Nas sobremesas, provou-se o gelado com amêndoa, cardamomo e pistachio, o pudim de manga, e o doce de leite condensado e cardamomo. Todos aprovados com grande satisfação. 

No Mendi a máxima de que a cozinha condimentada não é necessariamente picante é mesmo levada a sério e essa é uma característica que parece deixar a clientela à vontade e satisfeita. A par da oferta abrangente a proporcionar uma interessante experiência de aproximação à gastronomia da Índia, o serviço é acolhedor e envolvente.

Haverá apenas que adequar a oferta de vinhos, para que a experiência seja ainda mais reconfortante e gastronomicamente enriquecedora. A cozinha condimentada e de sabores intensos pede frescura e intensidade e as propostas da carta não parecem completamente ajustadas. A nova geração de brancos ou alguns dos bons verdes que por aí andam eram capazes de dar bem conta do recado, mesmo sem inflacionar preços.