Harvey Weinstein, o influente produtor de Hollywood apanhado num escândalo de assédio sexual

Investigação do New York Times revela que ao longo dos últimos 30 anos negociou em sigilo acordos com pelo menos oito mulheres que o acusavam de assédio sexual.

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O Discurso do Rei, Pulp Fiction, O Paciente Inglês, Chicago ou a Paixão de Shakespeare - que venceu o Óscar de Melhor Filme - são algumas das muitas produções cinematográficas que contaram com a colaboração de Harvey Weinstein Reuters/Mike Blake

Harvey Weinstein, influente e consagrado produtor de Hollywood, anunciou que se iria retirar da sua empresa por tempo indeterminado para receber tratamento, depois de o New York Times ter publicado uma investigação onde dá conta que Weinstein foi acusado durante anos de assédio sexual contra várias mulheres.

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Harvey Weinstein, influente e consagrado produtor de Hollywood, anunciou que se iria retirar da sua empresa por tempo indeterminado para receber tratamento, depois de o New York Times ter publicado uma investigação onde dá conta que Weinstein foi acusado durante anos de assédio sexual contra várias mulheres.

O jornal norte-americano diz que o produtor de 65 anos chegou a acordo com oito mulheres que alegaram terem sofrido assédio sexual e contacto físico sem consentimento. Todos estes acordos foram mantidos em sigilo e envolveram valores entre os 80 e os 150 mil dólares (entre pouco mais de 68 mil euros e quase 128 mil euros).

As mulheres em causa são uma actriz, uma modelo e duas assistentes, sendo que as acusações se estendem ao longo dos últimos 30 anos. Na maioria dos casos, Weinstein marcava reuniões para um hotel em Bevery Hills, na Califórnia. O encontro acabava por se realizar no quarto do produtor onde este pedia massagens ou favores sexuais em troca de benefícios na carreira das mulheres.  

“Eu admito que a forma como me comportei com colegas no passado causou muita dor e peço, sinceramente, desculpa por isso. Apesar de eu estar a tentar ser melhor, sei que tenho um longo caminho a percorrer”, disse Weinstein num comunicado enviado ao New York Times, acrescentando que se vai afastar do trabalho para recorrer a terapeutas.

Um das mulheres ouvidas pelo jornal foi Ashley Judd, actriz e cantora, que relata que, há 20 anos, teve uma reunião no referido quarto de hotel do produtor. Aí, Weinstein recebeu-a de roupão, pedindo-lhe uma massagem ou que o observasse a tomar banho.

Em 2014, Emily Nestor, que trabalhou na empresa de Weinstein durante apenas um dia, foi também convidada a dirigir-se ao mesmo hotel para uma reunião. Aí foram pedidos favores sexuais em troca de uma ajuda na carreira. Estes relatos foram divulgados por colegas de Nestor.

Segundo o Times, dezenas de antigos e actuais funcionários da empresa afirmam que tinham conhecimento do comportamento de Weinstein. Mas foram poucos os que o confrontaram com isso.

O produtor instituiu na sua empresa um código de silêncio, através do qual os funcionários assinavam contratos comprometendo-se a abdicar de criticar em público a empresa ou os seus líderes, e de prejudicar “a reputação da empresa” ou de qualquer outro funcionário.

Charles Harder, um advogado que representa Weinstein, diz que esta situação “não é prova de nada”, pois este tipo de códigos não é incomum.

No entanto, o conselho de administração da Weinstein Company informou que vai abrir uma investigação aos casos agora tornados públicos, suspendendo o produtor das suas funções até que esta esteja concluída.

Além da longa e bem-sucedida carreira na indústria cinematográfica, Weinstein também se tornou um dos mais importantes financiadores das campanhas do Partido Democrata e a filha mais velha de Barack Obama, Malia, estagiou durante um ano na sua empresa.

De entre as campanhas democratas que contaram com o apoio financeiro do produtor, está a de Hillary Clinton para as eleições presidenciais do ano passado. Ora, depois de conhecidas as notícias sobre as acusações de assédio sexual, o Partido Democrata já anunciou que os cerca de 30 mil dólares doados por Weinstein serão redistribuídos por grupos de apoio aos direitos da mulher. Em comunicado, o partido considera as acusações “profundamente perturbadoras”, cita a Reuters.

Harvey Weinstein conta com várias nomeações para os Óscares, tendo já vencido um prémio da Academia. O Discurso do Rei, Pulp Fiction, O Paciente Inglês, Chicago ou a Paixão de Shakespeare - que venceu o Óscar de Melhor Filme - são algumas das muitas produções cinematográficas que contaram com a colaboração de Weinstein.