Helena Margarida Ribeiro, a inventora dos cremes portugueses
Professora da Faculdade de Farmácia de Lisboa é a criadora de cremes de marcas portuguesas.
Num pequeno laboratório que fica num anexo da Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa, Helena Margarida Ribeiro mostra como se faz um creme. "Vamos fazer uma emulsão e agitá-la até ao seu total arrefecimento", explica. A observá-la estão dois parceiros de marcas portuguesas – Sara Madureira da Edol e Pedro Boavida da Skinspiration –, com quem a investigadora, especialista em dermocosmética, tem colaborado na criação de cremes e loções.
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Num pequeno laboratório que fica num anexo da Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa, Helena Margarida Ribeiro mostra como se faz um creme. "Vamos fazer uma emulsão e agitá-la até ao seu total arrefecimento", explica. A observá-la estão dois parceiros de marcas portuguesas – Sara Madureira da Edol e Pedro Boavida da Skinspiration –, com quem a investigadora, especialista em dermocosmética, tem colaborado na criação de cremes e loções.
"Aqui fabrico em pequena escala, a máquina não faz mais de três quilos de creme", diz a professora associada, começando por adicionar um óleo à água. É dali que saem as suas fórmulas para a indústria, mas é também ali que se procura encontrar soluções para os desafios que as empresas lhe vão colocando, à professora e aos seus alunos. Aliás, muitos deles acabarão por ser convidados para trabalhar nessas marcas. Também a professora já passou pelo sector privado, pela gigante L'Oréal, mas é na escola que se sente livre. "Na indústria a pessoa só desenvolve o que lhe é pedido, aqui tenho liberdade para experimentar o que quiser", defende com um sorriso.
Helena Margarida Ribeiro é o rosto dos protocolos que a Faculdade de Farmácia faz com as empresas, para desenvolver fórmulas únicas que respondam a problemas concretos. Por exemplo, a Edol precisava de um creme para pessoas acamadas que começam a criar pústulas – "como fazer um produto muito seguro para pessoas com poucas defesas?", foi o desafio – e assim nasceu o ATL hidratante que, desde que foi criado, tem vindo sempre a ser actualizado, informa Sara Madureira, uma ex-aluna da faculdade.
Já a Skinspiration pensou em converter o leite de burra num creme anti-envelhecimento, o Skincare. "O que faço é aplicar uma tecnologia a ingredientes que são nossos", resume a professora. O leite é de burras de raça mirandesa, criadas em Coruche, conta Pedro Boavida, sócio da Skinspiration. "Contribuímos para a preservação da espécie e para a promoção dos produtos portugueses", acrescenta. É que todos os ingredientes são nacionais, assegura, dando como exemplo os usados nos cremes desta marca: a romã (rica em ácidos gordos insaturados como o ácido púnico que ajudam à regeneração e proliferação celular) e a moringa (rica em vitaminas A,B e C, cálcio, ferro, magnésio, fósforo, manganésio, potássio, proteínas e muitos outros – "é a árvore conhecida com mais nutrientes", acrescenta a investigadora).
O trabalho científico só tem validade se for conhecido e a professora assim tem feito, por exemplo indo a congressos internacionais apresentar as suas descobertas ou publicando-as em revistas e jornais científicos.
E depois do trabalho feito, Helena Margarida Ribeiro não pára. "Temos estado a actualizar [os produtos] porque há regulamentação nova. Por exemplo, retirámos os parabenos e estamos a pensar em substituir alguns ingredientes por outros mais sustentáveis, mais amigos do ambiente", explica. Tudo isto demora tempo, entre a ideia, os ingredientes, o teste, a criação da embalagem podem passar três anos até um produto chegar ao mercado.
Entretanto, o creme feito pela professora para os jornalistas verem continua na máquina que o agita até ao seu total arrefecimento e a docentes conclui: "Depois de dizer que a fórmula é esta, precisamos de seis meses para a estabilidade, até saber que o creme se mantém homogéneo, com estabilidade microbiológica e que mantém a qualidade quando estiver embalado e na prateleira. É preciso muito tempo para lançar um produto."