Bancos catalães sinalizam saída da Catalunha para travar perdas
Banco Sabadell decidiu mudar a sede social para Alicante. CaixaBank diz que “tomará as decisões necessárias” numa reunião marcada para esta sexta-feira. Governo espanhol prepara lei à medida para facilitar decisão do dono do BPI.
Os dois bancos catalães de referência, Banco Sabadell e CaixaBank, conseguiram, esta quinta-feira, inverter a perda de valor em bolsa que vinham sofrendo desde que o cenário de independência unilateral da Catalunha começou a ganhar força. E fizeram-no à custa de informações não oficiais sobre a possível mudança das respectivas sedes para fora da Catalunha. O objectivo foi sossegar clientes perante um cenário de ruptura com o eurosistema, que garante depósitos e liquidez. E esse propósito foi bem sucedido, já que as acções viveram um dia positivo na sessão de ontem da Bolsa de Madrid.
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Os dois bancos catalães de referência, Banco Sabadell e CaixaBank, conseguiram, esta quinta-feira, inverter a perda de valor em bolsa que vinham sofrendo desde que o cenário de independência unilateral da Catalunha começou a ganhar força. E fizeram-no à custa de informações não oficiais sobre a possível mudança das respectivas sedes para fora da Catalunha. O objectivo foi sossegar clientes perante um cenário de ruptura com o eurosistema, que garante depósitos e liquidez. E esse propósito foi bem sucedido, já que as acções viveram um dia positivo na sessão de ontem da Bolsa de Madrid.
O Banco Sabadell foi o primeiro a agir. Aquele que já foi um dos accionistas chave do português BCP decidiu em reunião da administração mudar a sua sede fiscal para Alicante, segundo noticiou a imprensa espanhola, ainda sem confirmação oficial dos responsáveis do banco. As primeiras notícias surgiram logo de manhã e deram um imediato sinal aos mercados, onde a instituição já tinha acumulado perdas significativas desde o referendo do dia 1 de Outubro. Já na terça-feira, o seu presidente executivo, Josep Oliu, admitiu que se vivia uma “situação inquietante” e que qualquer decisão para “eliminar incertezas” será “empresarial e não política”.
A confirmação oficiosa chegou no final do dia de ontem. O Banco Sabadell irá mudar a sua sede para Alicante, noticiou a imprensa espanhola. Entretanto, já as acções da instituição tinham recuperado terreno e fechado o dia a valer mais 6%.
Em paralelo, sobre o CaixaBank, que controla 85% do português BPI, surgiram informações não confirmadas logo de manhã de reuniões da cúpula do banco para debater o tema da mudança da sede. O seu líder, Jordi Gual, defendeu que se prepare um plano de contingência para a mudança de sede mas ainda acredita que não será necessário executá-lo, revelou o jornal El Mundo citando fontes do banco. Ao final do dia, o mesmo jornal já avançava que o CaixaBank escolheu Las Palmas como futura sede social, em caso de independência da Catalunha, e irá confirmar essa decisão numa reunião da administração marcada para esta sexta-feira.
Perante estes rumores, o banco apressou-se a esclarecer à imprensa espanhola que "tomará as decisões necessárias, no momento oportuno, sempre com o objectivo de fazer prevalecer os interesses dos clientes, accionistas e trabalhadores". Mas o CaixaBank enfrenta um quadro legal mais complexo para tomar uma decisão semelhante à do Sabadell. Ao contrário deste – que só precisa de decidir a mudança em conselho de administração, como o fez –, o dono do BPI necessita, pelos estatutos, de convocar os seus accionistas. Um processo que demora várias semanas.
Neste cenário, o CaixaBank terá solicitado ao governo espanhol uma pequena ajuda: uma lei à medida da situação excepcional que vive neste momento, para agilizar a mudança de sede sem consultar os seus accionistas. E, de acordo com a generalidade da imprensa espanhola, o executivo de Mariano Rajoy está mesmo a preparar um enquadramento jurídico para facilitar a saída de empresas da Catalunha, no geral, e do banco catalão, em particular.
O peso do Banco Central Europeu
Os sinais sobre a mudança de sedes pelo Banco Sabadell e CaixaBank surtiram o aparente efeito desejado: acalmaram os investidores e travaram as perdas. Os títulos do Sabadell recuperaram 6% e os do CaixaBank quase 5%.
A incerteza em torno dos bancos catalães prende-se sobretudo com um cenário extremo de ruptura da Catalunha com Espanha, que retiraria as duas instituições do sistema do Euro. O que se traduziria na perda de acesso à protecção de depósitos conferida pelo Banco Central Europeu (BCE), assim como representaria um garrote na torneira de liquidez de que gozam todos os bancos espanhóis. Neste cenário extremo, os custos de financiamento dos bancos catalães disparariam e a máquina de refinanciamento das dívidas colapsava sem acesso ao mercado nem ao BCE, deixando as instituições reféns de apoios extraordinários por instituições como o Fundo Monetário Internacional.
Por outro lado, a sinalização sobre a mudança das sedes fiscais também permite dar alguma segurança aos clientes que possam estar neste momento de tensão política a ponderar movimentar as suas contas para outras instituições dentro ou fora de Espanha. Algo que o CaixaBank tentou contrariar numa nota interna aos trabalhadores, no início da semana, apelando ao esclarecimento e apaziguamento dos clientes.
O CaixaBank tem na Catalunha depósitos avaliados em mais de 60 mil milhões de euros, enquanto o Sabadell concentra mais de 30 mil milhões de euros, segundo os dados revelados pelos bancos. O CaixaBank é o segundo maior banco na região em créditos e depósitos, logo a seguir ao BBVA, e é um dos bancos com maior penetração na banca de retalho em toda a Espanha.
Entretanto, as reacções políticas às notícias sobre a mudança das sedes foram imediatas. Apesar de a imprensa espanhola dar conta de que a liderança dos dois bancos teria tentado sensibilizar altos responsáveis do governo catalão para os efeitos de uma declaração unilateral de independência, a saída da Catalunha foi comentada de forma violenta por um deputada da CUP, principal força política pela independência. Eulàlia Reguant, numa entrevista à Nació Digital, revelou que propôs ao governo catalão que deixe “de trabalhar com La Caixa, Banco Sabadell e BBVA, uma vez que considera que as instituições financeiras têm sempre estado ao lado da “manutenção do status quo porque são eles próprios status quo”.