O Cave 45, “o CBGB do Porto”, vai encerrar no final do ano
Após três anos de actividade, o único bar exclusivamente rock com música ao vivo da cidade fecha as portas. No mesmo sítio deverá abrir um hostel, mas não é esse o motivo do encerramento.
“Vai ficar um grande buraco por preencher para quem como eu gosta dos subgéneros mais vanguardistas do rock”, diz Frágil Lapa, um veterano do punk rock, frequentador do Cave 45 e fundador dos Senisga nos anos 80 e dos Renegados do Boliqueime, em 1992, uma das bandas mais influentes do género na cidade e a nível nacional.
Foram mais de 500 concertos e mais de um milhar de bandas nacionais e internacionais dos vários subgéneros do rock a passarem pelo Cave 45, durante os três anos de actividade do bar de concertos situado na Rua das Oliveiras, numa das zonas da Baixa do Porto com cada vez maior afluência de turistas. Até ao final do ano ainda funciona com a mesma regularidade de concertos que todos os meses preenchem a agenda do único bar exclusivamente rock com música ao vivo da cidade. Encerra na última noite de 2017, com um pé num ano novo mais pobre para os roqueiros portuenses.
Frágil faz uma viagem ao passado e recua aos anos 80, 90 e inícios de 2000 para tentar recordar-se de um bar semelhante que tenha funcionado e trabalhado nos mesmos moldes que o Cave 45. “Sempre houve e continuam a existir outros bares onde o rock é tocado ao vivo ou onde a música que lá passa segue a mesma linha. Mas nunca existiu um que se centre apenas nisso”, afirma. Lembra-se do La La La, no antigo Centro Comercial Dallas, nos anos 80, mas aí não existia música ao vivo, do Palha d’Aço na Ribeira, nos noventas, e de uma série de outros, como é o caso do Padaria Bar ou o Zum Zum, na rua Mártires da Liberdade. Terá sido o Comix, em Cedofeita, o que considera aproximar-se mais do espírito que ainda se vive na sala do número 45 da rua das Oliveiras.
Responsáveis por esse “espírito” são Óscar Pinho, Iolanda Pereira e Rodas, como é conhecido o também fundador do Comix, que durou entre 1995 e 1999. Foi a experiência dos três sócios que fizeram com que, desde o início, o bar fosse “diferente de todos os outros”. A diferença, para Frágil, reside “logo para começar” no critério de escolha das bandas que por lá passam. O veterano do punk também já lá tocou com outros projectos nos quais participa na actualidade e garante que são poucos os sítios onde se pode dispor de condições técnicas do nível que lá existe. Outro factor diferenciador é “o respeito com que as bandas são recebidas”. Quanto à agenda, ganhou o público com a sensibilidade e os “critérios de selecção” na altura da escolha das bandas, que tanto são de renome internacional “dentro da vanguarda”, como projectos “emergentes” do cenário nacional.
Mas fica o Porto sem um espaço para concertos de bandas rock? Não. Existe o Maus Hábitos, o Plano B, o Passos Manuel ou Hard Club, entre outros, e o mítico Anikibobó que reabre em 2018. No entanto, como diz, estes são espaços com uma programação mais abrangente e que não têm a especificidade de um bar que se dedicava a um género tão vasto, que se desdobra em vários subgéneros e que tinha também como finalidade ser um ponto de encontro para os roqueiros fora dos dias de concerto. “O Cave aproxima-se muito daquilo que era o CBGB, em Nova Iorque”, afirma Frágil, que considera o encerramento no final do ano “uma perda irreparável”, por entender ser quase impossível abrir um bar parecido na Baixa, cada vez mais a sofrer com a especulação imobiliária.
Os primeiros rumores davam conta de que esse teria sido o motivo para o encerramento do bar. Na sequência desse rumor houve quem criasse uma petição online que ao segundo dia já contava com mais de 1200 assinaturas.
Óscar Pinho, um dos fundadores, que no passado fez parte de bandas como os míticos Cães Vadios, que atravessaram os anos 80 e 90, ou os Speedtrack e Motornoise, além de ter sido sócio e proprietário de lojas de música como a Piranha ou a Lost Underground, explica que o encerramento do bar já tinha sido decidido há algum tempo. É um facto que o contrato de arrendamento que têm com o senhorio, que termina em Outubro de 2018, não ia ser renovado pelo proprietário do prédio. Contudo, não foi esse o motivo que levou os sócios a optar pelo encerramento.
Desde o início que os três sócios decidiram que o Cave 45 ia ser um bar com música ao vivo exclusivamente dedicado ao rock. Apesar de em dias de concertos a casa estar na maior parte das vezes bem composta, nos dias sem espectáculos não funciona da mesma maneira. Um dos objectivos era que o bar funcionasse como segunda casa para os roqueiros da cidade mas, “talvez pela própria configuração do espaço”, nunca se conseguiu criar esse hábito em dias sem música ao vivo. Com o objectivo inicial bem definido, nunca lhe passou pela cabeça adulterar o plano gizado na génese do bar. “Um bar tem muitas despesas e apesar de existir um público para isto nem sempre foi fácil articular toda a gestão”, afirma. Certo é que fecham a casa, mantendo o propósito inicial, e com “as contas todas em dia”. Para já, tanto Óscar como Iolanda Pereira, não têm qualquer intenção de embarcar numa aventura parecida. “Talvez no futuro isso aconteça”, diz.
Já Rodas, com mais de 20 anos de experiência no negócio, afirma que se o senhorio equacionasse renovar o contrato talvez continuasse com o bar, mantendo a mesma linha, mas com “ligeiras” alterações. Porém, sublinha que não há qualquer luta contra o senhorio e entende que o mesmo queira rentabilizar um prédio que neste momento não lhe está a ser rentável. “No piso de cima há escritórios e só um é que está ocupado”, afirma, adiantando que é possível que ali abra um hostel.
“Não queremos fazer do encerramento do bar uma luta contra a especulação imobiliária porque não é disso que se trata”, conta. Certo é que até ao final do ano continua com as funções que tem no bar e até lá vai-se preparando: “Mais cedo ou mais tarde vou abrir outro bar noutro sítio”.
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“Vai ficar um grande buraco por preencher para quem como eu gosta dos subgéneros mais vanguardistas do rock”, diz Frágil Lapa, um veterano do punk rock, frequentador do Cave 45 e fundador dos Senisga nos anos 80 e dos Renegados do Boliqueime, em 1992, uma das bandas mais influentes do género na cidade e a nível nacional.
Foram mais de 500 concertos e mais de um milhar de bandas nacionais e internacionais dos vários subgéneros do rock a passarem pelo Cave 45, durante os três anos de actividade do bar de concertos situado na Rua das Oliveiras, numa das zonas da Baixa do Porto com cada vez maior afluência de turistas. Até ao final do ano ainda funciona com a mesma regularidade de concertos que todos os meses preenchem a agenda do único bar exclusivamente rock com música ao vivo da cidade. Encerra na última noite de 2017, com um pé num ano novo mais pobre para os roqueiros portuenses.
Frágil faz uma viagem ao passado e recua aos anos 80, 90 e inícios de 2000 para tentar recordar-se de um bar semelhante que tenha funcionado e trabalhado nos mesmos moldes que o Cave 45. “Sempre houve e continuam a existir outros bares onde o rock é tocado ao vivo ou onde a música que lá passa segue a mesma linha. Mas nunca existiu um que se centre apenas nisso”, afirma. Lembra-se do La La La, no antigo Centro Comercial Dallas, nos anos 80, mas aí não existia música ao vivo, do Palha d’Aço na Ribeira, nos noventas, e de uma série de outros, como é o caso do Padaria Bar ou o Zum Zum, na rua Mártires da Liberdade. Terá sido o Comix, em Cedofeita, o que considera aproximar-se mais do espírito que ainda se vive na sala do número 45 da rua das Oliveiras.
Responsáveis por esse “espírito” são Óscar Pinho, Iolanda Pereira e Rodas, como é conhecido o também fundador do Comix, que durou entre 1995 e 1999. Foi a experiência dos três sócios que fizeram com que, desde o início, o bar fosse “diferente de todos os outros”. A diferença, para Frágil, reside “logo para começar” no critério de escolha das bandas que por lá passam. O veterano do punk também já lá tocou com outros projectos nos quais participa na actualidade e garante que são poucos os sítios onde se pode dispor de condições técnicas do nível que lá existe. Outro factor diferenciador é “o respeito com que as bandas são recebidas”. Quanto à agenda, ganhou o público com a sensibilidade e os “critérios de selecção” na altura da escolha das bandas, que tanto são de renome internacional “dentro da vanguarda”, como projectos “emergentes” do cenário nacional.
Mas fica o Porto sem um espaço para concertos de bandas rock? Não. Existe o Maus Hábitos, o Plano B, o Passos Manuel ou Hard Club, entre outros, e o mítico Anikibobó que reabre em 2018. No entanto, como diz, estes são espaços com uma programação mais abrangente e que não têm a especificidade de um bar que se dedicava a um género tão vasto, que se desdobra em vários subgéneros e que tinha também como finalidade ser um ponto de encontro para os roqueiros fora dos dias de concerto. “O Cave aproxima-se muito daquilo que era o CBGB, em Nova Iorque”, afirma Frágil, que considera o encerramento no final do ano “uma perda irreparável”, por entender ser quase impossível abrir um bar parecido na Baixa, cada vez mais a sofrer com a especulação imobiliária.
Os primeiros rumores davam conta de que esse teria sido o motivo para o encerramento do bar. Na sequência desse rumor houve quem criasse uma petição online que ao segundo dia já contava com mais de 1200 assinaturas.
Óscar Pinho, um dos fundadores, que no passado fez parte de bandas como os míticos Cães Vadios, que atravessaram os anos 80 e 90, ou os Speedtrack e Motornoise, além de ter sido sócio e proprietário de lojas de música como a Piranha ou a Lost Underground, explica que o encerramento do bar já tinha sido decidido há algum tempo. É um facto que o contrato de arrendamento que têm com o senhorio, que termina em Outubro de 2018, não ia ser renovado pelo proprietário do prédio. Contudo, não foi esse o motivo que levou os sócios a optar pelo encerramento.
Desde o início que os três sócios decidiram que o Cave 45 ia ser um bar com música ao vivo exclusivamente dedicado ao rock. Apesar de em dias de concertos a casa estar na maior parte das vezes bem composta, nos dias sem espectáculos não funciona da mesma maneira. Um dos objectivos era que o bar funcionasse como segunda casa para os roqueiros da cidade mas, “talvez pela própria configuração do espaço”, nunca se conseguiu criar esse hábito em dias sem música ao vivo. Com o objectivo inicial bem definido, nunca lhe passou pela cabeça adulterar o plano gizado na génese do bar. “Um bar tem muitas despesas e apesar de existir um público para isto nem sempre foi fácil articular toda a gestão”, afirma. Certo é que fecham a casa, mantendo o propósito inicial, e com “as contas todas em dia”. Para já, tanto Óscar como Iolanda Pereira, não têm qualquer intenção de embarcar numa aventura parecida. “Talvez no futuro isso aconteça”, diz.
Já Rodas, com mais de 20 anos de experiência no negócio, afirma que se o senhorio equacionasse renovar o contrato talvez continuasse com o bar, mantendo a mesma linha, mas com “ligeiras” alterações. Porém, sublinha que não há qualquer luta contra o senhorio e entende que o mesmo queira rentabilizar um prédio que neste momento não lhe está a ser rentável. “No piso de cima há escritórios e só um é que está ocupado”, afirma, adiantando que é possível que ali abra um hostel.
“Não queremos fazer do encerramento do bar uma luta contra a especulação imobiliária porque não é disso que se trata”, conta. Certo é que até ao final do ano continua com as funções que tem no bar e até lá vai-se preparando: “Mais cedo ou mais tarde vou abrir outro bar noutro sítio”.