Catalunha: CaixaBank garante integridade dos depósitos

O dono do BPI veio já transmitir uma mensagem de tranquilidade a clientes e trabalhadores, numa altura em que aumentam os sinais de independência da Catalunha.

Foto
O histórico Isidro Fainé é o "chairman" do CaixaBank. Gustau Nacarino

O CaixaBank, com cerca de 85% do Banco Português de Investimento (BPI), veio esta terça-feira assegurar “a integridade dos depósitos” e a protecção dos interesses dos clientes, dos accionistas e dos trabalhadores. Também o ministro da Economia de Espanha, Luis Guindos, veio dizer que os bancos catalães, que voltaram esta quarta-feira a dar um trambolhão em  bolsa, não têm nada a temer, pois são parte de Espanha e da Europa.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

O CaixaBank, com cerca de 85% do Banco Português de Investimento (BPI), veio esta terça-feira assegurar “a integridade dos depósitos” e a protecção dos interesses dos clientes, dos accionistas e dos trabalhadores. Também o ministro da Economia de Espanha, Luis Guindos, veio dizer que os bancos catalães, que voltaram esta quarta-feira a dar um trambolhão em  bolsa, não têm nada a temer, pois são parte de Espanha e da Europa.

Os responsáveis do CaixaBank aproveitaram a greve geral na Catalunha, convocada pelo governo de Barcelona, para romperem o silêncio. O que fizeram através de uma nota interna enviada esta terça-feira aos trabalhadores e difundida pela comunicação social espanhola. Com o título “Greve, manifestação na Catalunha”, o Caixabank reconhece o direito à greve e à manifestação, mas destaca que o seu “único objectivo” é o de “proteger em todo o momento os interesses dos clientes, dos accionistas e dos empregados, e garantir a integridade dos depósitos.”

De acordo com o site económico Expansión, o CaixaBank reconheceu que muitos trabalhadores de empresas a operarem na Catalunha interromperam a sua actividade laboral para “durante alguns minutos” protestarem “pelos acontecimentos que ocorreram domingo passado [a acção das forças policiais nacionais durante o referendo]”. E o El Confidencial adiantou que muitos quadros do grupo de Jordi Gual não só aderiram à greve geral, como colaboraram nos “cortes da Avenida Diagonal” [para impedir a circulação de viaturas].

O Caixabank defendeu, na sua nota, que “é importante comunicar proactivamente aos nossos clientes o nosso compromisso com a defesa dos seus interesses, compromisso que ao longo da história guiou sempre a nossa actuação e tomada de decisões futuras, caso haja necessidade de as tomar”. Uma declaração que abre a porta a várias interpretações. Uma delas é que o banco com sede em Barcelona tem um plano de contingência para se deslocalizar para outra zona de Espanha.

Jordi Gual dirigiu-se aos trabalhadores num momento crítico: dois dias depois de as autoridades catalãs terem realizado o referendo à independência da Catalunha de Espanha, que Madrid considerou ilegal. E nem a intervenção do rei de Espanha, terça-feira à noite, aliviou o ambiente de crispação entre soberanistas catalães [republicanos] e unionistas espanhóis. Filipe VI acusou o Governo de Carles Puigdemont  de “deslealdade" institucional” e de ter uma "conduta irresponsável”, à margem do direito e da democracia.

Pouco depois, Puigdemont respondia numa entrevista ao canal britânico BBC onde reafirmou a intenção de avançar nos próximos dias com uma declaração de independência unilateral, com intenção de manter a Catalunha na UE e no euro. Um processo que terá de ser validado por todos os Estados membros, incluindo a Espanha. E a UE não prevê que um país possa cindir de outro, que esteja já na UE, sem que a ruptura se dê no quadro da Constituição nacional.

O site El Confidencial alertava que o cenário de secessão da Catalunha, com saída do euro, mesmo que transitória “pode levar a um ‘corralito', ou seja, a bloquear as poupanças dos catalães”. E esta possibilidade que “reaviva o temor de uma fuga de depósitos”, o que “acabaria em nova crise financeira em Espanha”. E dava como exemplo a queda do Banco Popular, que faliu por falta de liquidez, alvo de corrida aos depósitos.

Para além do Caixabank e do Sabadell (ambos da Catalunha), todos os grandes bancos espanhóis operam na região, com o BBVA a ter uma presença muito forte. Qualquer incidente afectaria todos os bancos. E é o que as várias partes em oposição terão de ter em conta.

E assim o nervosismo instalou-se nos mercados. Ontem o IBEX 35 registou a maior queda desde 24 de Junho de 2016, quando os britânicos votaram a saída da União Europeia. E tombou 2,85%, com um recuo de mais de 10 mil pontos. O sector bancário, com maior sensibilidade a cenários políticos e económicos difíceis, está a ser fortemente penalizado, com os olhos dos investidores focados nos dois bancos catalães: o Sabadell caiu 5,69% (nos 1,59 euros, abaixo dos 1,94 euros no final de Julho) e o Caixabank 4,96% (nos 3,90 euros, abaixo dos 4,50 euros que valia em Agosto). Já o Bankia desvalorizou 3,6%, enquanto o BBVA, o Santander e o Bankinter tombaram mais de três por cento.

Tal como o Caixabank, também o Sabadell se pronunciou “com inquietude” pelo ambiente de ruptura política, avisando que “tomará as medidas suficientes” para minorar os riscos. Do mesmo modo o ministro da Economia, Luis de Guindos, também se posicionou com uma mensagem de tranquilidade aos clientes dos bancos catalães que não têm nada a temer, até porque os bancos espanhóis também são europeus.

De acordo com Guindos, para quem o discurso de Filipe VI foi “correcto e muito claro", “o governo não permitirá nenhuma veleidade” e “nenhuma ilegitimidade” que possa afectar “o processo de prosperidade” da economia espanhola e catalã.

Enquanto todos se desdobram em mensagens de tranquilidade, os analistas colocam-se em alerta. Para o Morgan Stanley “a incerteza e o risco potencial de desestabilização do governo central pode levar a uma volatilidade” dos mercados “semelhante há que se verificou nas últimas semanas.” Por seu turno o Citi alerta que “ o risco de maiores confrontações no curto prazo está a aumentar” com “ o custo económico que isso acarreta.”