Geração perdida

Vicente Alves do Ó quer fazer tanto um filme de geração como um retrato de artista, e acaba por não fazer nem um nem outro.

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Que Vicente Alves do Ó tem um enorme desejo de cinema não é novidade nenhuma – o argumentista e realizador de Al Berto já convocava as suas ambições estéticas e visuais através das referências cinéfilas que afogavam o desastroso Quinze Pontos na Alma (2011) e das convenções melodramáticas que perdiam Florbela (2012). Al Berto, quarta longa e filme que será porventura o mais pessoal do realizador (lidando como lida com assuntos que respeitam directamente à sua família, e à relação do poeta Al Berto com seu meio-irmão João Maria do Ó), insiste nesse desejo. Fá-lo de maneira igualmente romântica mas mais contida, procurando construir um filme-mosaico “de geração” à volta do regresso a Sines do “filho pródigo” depois do 25 de Abril, e da comunidade artística livre que ali o rodeou durante alguns anos.

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Que Vicente Alves do Ó tem um enorme desejo de cinema não é novidade nenhuma – o argumentista e realizador de Al Berto já convocava as suas ambições estéticas e visuais através das referências cinéfilas que afogavam o desastroso Quinze Pontos na Alma (2011) e das convenções melodramáticas que perdiam Florbela (2012). Al Berto, quarta longa e filme que será porventura o mais pessoal do realizador (lidando como lida com assuntos que respeitam directamente à sua família, e à relação do poeta Al Berto com seu meio-irmão João Maria do Ó), insiste nesse desejo. Fá-lo de maneira igualmente romântica mas mais contida, procurando construir um filme-mosaico “de geração” à volta do regresso a Sines do “filho pródigo” depois do 25 de Abril, e da comunidade artística livre que ali o rodeou durante alguns anos.

Ora, o primeiro erro de Al Berto é chamar-se Al Berto. Al Berto a pessoa pode ser o “centro de gravidade” da história, mas o filme não se centra apenas no poeta nem conta apenas a sua história, preferindo antes captar as esperanças de uma geração sôfrega de liberdade numa cidade ainda demasiado conservadora e presa ao antigamente. O segundo erro é que esse filme de geração, onde Alves do Ó assina o que o filme tem de melhor, se dilui demasiadas vezes num simples pano de fundo para o romance gay de Al Berto e João Maria do Ó, contado em tom de Segredo de Brokeback Mountain alentejano. E essa confusão reflecte o conflito estrutural do próprio filme: indeciso entre o individual e o colectivo, entre o romântico e o trágico, entre a utopia e a realidade, Vicente Alves do Ó não quer escolher, continua a querer fazer explodir emocionalmente narrativas a que nunca consegue imprimir verosimilhança, ficando-se sempre por convenções novelescas, artificiais.

Nem a justeza dos actores nem a fotografia precisa de Rui Poças (muito próxima do arrebatamento a que o realizador aspira) compensam essas fraquezas, mesmo que aqui esteja a melhor das longas de Vicente Alves do Ó. Mas quem vier à espera de um filme biográfico de Al Berto, conhecendo-o ou não, sairá certamente desiludido; Al Berto parece ser um filme com um destinatário muito especial – o próprio realizador, que tanto quer contar tudo que acaba por não contar nada que fale àqueles que não viveram o momento que ele conta.

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