Clarice Falcão: “Aquilo que eu mais sei é contar histórias”

Em Lisboa, na Lx Factory, teve lotação esgotada. Agora chega ao palco grande da Casa da Música. Esta quarta-feira, a actriz e cantora brasileira Clarice Falcão vai mostrar no Porto o que vale. Ao vivo.

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Clarice Falcão em Lisboa RUI GAUDÊNCIO

Depois de esgotar a lotação na Lx Factory, num concerto integrado na sétima edição do The Famous Fest, no dia 29 de Setembro, Clarice Falcão apresenta-se agora num palco bem maior: a Sala Suggia da Casa da Música, no Porto. Será esta quarta-feira, às 22h, e com ela estará, tal como em Lisboa, o músico João Erbetta, na guitarra eléctrica. Brasileira, conhecida pelas suas participações no programa de humor Porta dos Fundos, ao lado de humoristas como Gregório Duvivier, Clarice iniciou-se nas artes como actriz, mas foi, com os anos, somando a essa sua faceta várias outras: as de humorista, roteirista, cantora e compositora já com dois álbuns gravados, Monomania (2013) e Problema Meu (2016).

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Depois de esgotar a lotação na Lx Factory, num concerto integrado na sétima edição do The Famous Fest, no dia 29 de Setembro, Clarice Falcão apresenta-se agora num palco bem maior: a Sala Suggia da Casa da Música, no Porto. Será esta quarta-feira, às 22h, e com ela estará, tal como em Lisboa, o músico João Erbetta, na guitarra eléctrica. Brasileira, conhecida pelas suas participações no programa de humor Porta dos Fundos, ao lado de humoristas como Gregório Duvivier, Clarice iniciou-se nas artes como actriz, mas foi, com os anos, somando a essa sua faceta várias outras: as de humorista, roteirista, cantora e compositora já com dois álbuns gravados, Monomania (2013) e Problema Meu (2016).

Nascida Clarice Franco de Abreu Falcão, no Recife, em 23 de Outubro de 1989, é como cantora que ela se estreia agora em Portugal. Mas não por isso ser dominante na sua carreira. “Aquilo que eu mais sei é contar histórias”, diz Clarice ao PÚBLICO. “Cada coisa que eu faço tem uma parte que engloba isso e outra parte que foge. O que foge é o meu desafio, sempre. No caso da música, a parte de contar histórias, da letra, de mexer com a palavra, de escolher o que é que vai rimar com quê, isso é o que eu mais sei fazer. A parte de tocar, a melodia, eu amo fazer mas sei que aí não estou jogando em casa.”

Quem costuma assistir ao Porta dos Fundos sabe que Clarice toca violão (veja-se Essa é pra você, da autoria dela) ou até cavaquinho (O que eu bebi). “Toco violão muito mal mas toco, para me acompanhar. Mesmo cantando, é muito mais fácil para mim a parte de actriz, de comunicar, de interpretar, do que a parte de cantora.” Foi aliás como actriz que Clarice começou, com uma ressalva. “Nessa altura ainda não tinha me encontrado como artista. Fiz a novela, umas coisas, mas não tinha gostado de verdade.”

Um encontro no humor

Filha do cineasta, roteirista e também compositor João Falcão e da escritora Adriana Falcão, Clarice cresceu no meio das artes e das movimentações inerentes. “Foi uma paixão olhando da coxia. Eu era amiga, a mascote, dos actores todos e me apaixonei muito por isso. A minha primeira peça era um musical, eu cantava, e gostei dessa coisa de contar história e vir um mundo de gente assistir. Foi muito bonito de ver.” Mas não tinha chegado ainda o seu momento. Entrou, entretanto, para a Faculdade de Cinema e aí começou a fazer roteiros e a compor. “Quando comecei a compor a juntar as coisas é que eu entendi, Botei as minhas músicas na Internet, foi a primeira coisa autoral que eu fiz, uma coisa minha, mesmo, e aí fui chamada para o Porta [dos Fundos]. Quando me encontrei como artista foi também quando as pessoas me encontraram.”

E esse encontro deu-se no humor, outro palco da actriz. “O humor é muito verdadeiro, na minha opinião. Há gente que diz que o humor é exagero. Mas acho que quanto mais verdade, mais engraçado para mim. O humor é muito ligado com uma coisa espontânea, de improviso, na hora. Isso ajudou muito para o Porta ter virado o que virou.”

Troca de vulnerabilidades

No Porto, como em Lisboa, o espectáculo é sobretudo cantado, com algumas histórias (curtas) pelo meio. “Começa com um bombo, tum, tum, tum, e uma programação. Um surdo de um lado, uma caixa do outro, eu não sei tocar nenhum dos dois mas eu toco.” Isso marca, desde logo, uma descompressão. “Quando se dá essa vulnerabilidade, há maior proximidade com o público. Há uma troca bonita de vulnerabilidades.”

O roteiro assenta nos dois discos gravados por Clarice, com enfoque particular no mais recente, Problema Meu. “Como as músicas já são muito verborrágicas, já contam muita coisa, eu tento não falar tanto. Há músicas que precisam de contexto, tem momentos que eu deixo muito em aberto. Porque o primeiro show que eu fiz, o Monomania, era muito teatral. A luz era de teatro, chovia, eu vinha capa de chuva, e me lembro de mim falando texto e pensando noutra coisa.” Por isso este novo espectáculo seguiu outro rumo. “Eu gosto muito de sentir o público e de falar o que me dá na telha também.”

O ser cantora, a par de tudo o resto, não a confunde, pelo contrário. “Eu tenho tido cada vez mais essa coisa de integrar tudo. Lancei agora no Netflix um especial de comédia mas que também tinha música e narrativa. Comecei a gostar muito de misturar tudo e para mim isso é bom porque também me canso muito rápido das coisas. Tem uma hora que fico enjoada e começo a pensar automaticamente noutra coisa. Quando estou confortável de mais, preciso de dar uma mexida. Tudo o que eu aprendi como performer no palco ajuda-me muito na hora de actriz e tudo o que aprendi como roteirista me ajuda na hora de compor. Isso não me dispersa, mas é preciso saber usar essa energia.”