Passismo à espera de Montenegro. Rio pronto a avançar
Passos Coelho pode revelar esta terça-feira à noite a decisão sobre se volta a ser candidato a presidente do partido
No rescaldo de uma derrota autárquica histórica no PSD, os sociais-democratas começam a pressionar Passos Coelho para sair – e na São Caetano, a sede nacional, já é dado como certo que não se recandidata – ao mesmo tempo que os descontentes com a actual liderança convergem para Rui Rio. Só que, se Passos Coelho já não estiver na próxima corrida, Luís Montenegro pode ficar à espreita.
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No rescaldo de uma derrota autárquica histórica no PSD, os sociais-democratas começam a pressionar Passos Coelho para sair – e na São Caetano, a sede nacional, já é dado como certo que não se recandidata – ao mesmo tempo que os descontentes com a actual liderança convergem para Rui Rio. Só que, se Passos Coelho já não estiver na próxima corrida, Luís Montenegro pode ficar à espreita.
A “reflexão” anunciada pelo líder do PSD, na noite de domingo, sobre se volta a tentar mais um mandato à frente do partido, gerou alguma surpresa entre os que queriam mudar a liderança do partido. Ao abrir a porta à saída – ainda que possa ser só no final do mandato, no próximo ano –, Passos Coelho altera o jogo. Rui Rio já é dado como certo na corrida, mas também já conta com um adversário, pelo menos. Pode ser Passos Coelho, mas também pode ser o ex-líder parlamentar Luís Montenegro, que anteciparia assim o seu calendário.
O social-democrata que liderou a bancada laranja durante seis anos – todo o passismo – sempre disse que não iria disputar o partido contra o actual líder. Mas não recusou que, sem Passos Coelho, avançasse já em 2018.
Na equipa de Rui Rio trabalha-se o cenário de uma disputa com outro social-democrata. O tabu de Pedro Passos Coelho já deverá desfazer-se esta terça-feira, no conselho nacional do partido marcado para a noite. Aliás, o PSD reúne a comissão permanente de manhã (o núcleo mais restrito do líder) e a comissão política à tarde. O eurodeputado Paulo Rangel, que publica um artigo sobre o momento actual do PSD na edição impressa do PÚBLICO desta terça-feira, cancelou toda agenda em Estrasburgo para participar na reunião do conselho nacional. Passos Coelho, que foi o primeiro líder partidário a ser chamado ao Presidente da República no pós-autárquicas e antes do Orçamento do Estado, disse que só haveria uma mensagem política relevante no conselho nacional. E como vai a reflexão, perguntaram os jornalistas. “Vai bem, muito obrigado”, respondeu, lacónico.
Em voz alta e em surdina há vozes no PSD a pressionar Passos Coelho a desistir, depois da hecatombe eleitoral do passado domingo. “Se o partido perdeu o país, como é que vai ganhar as próximas legislativas?”, pergunta um crítico da actual liderança, que vê Rui Rio como a solução para o PSD “neste momento”.
O ex-autarca do Porto é visto como o social-democrata que “tem condições” para avançar para uma disputa interna", afirma ao PÚBLICO Pedro Rodrigues, ex-líder da JSD e fundador da plataforma interna Portugal Não pode Esperar. Pedro Rodrigues defende que “o PSD tem de se repensar profundamente” e que não é um “problema só de pessoas”. O partido tem de abrir um novo ciclo para “liderar o centro político”, defende Pedro Rodrigues. “Esse ciclo não pode ser protagonizado por quem nos levou a este caminho”, argumenta. O domínio do centro político é também a visão de Pedro Duarte, outro crítico de Passos Coelho, que para já se coloca de fora da corrida (e que também publica um artigo no PÚBLICO desta terça-feira).
No partido, há quem assuma que Passos Coelho não se devia recandidatar. "Penso que neste momento Passos Coelho não tem condições para continuar a liderar o partido", defende o líder da distrital de Aveiro, Salvador Malheiro, que é visto como um apoiante de Rui Rio. Apesar de reconhecer em Passos Coelho "um enorme estadista, alguém que irá ficar na história e a quem todos devem muito", o dirigente defendeu que o partido precisa de um “abanão”. Resta saber se dirigentes como Salvador Malheiro vão provocar esse abalo na reunião do conselho nacional desta terça-feira.
Já com trabalho feito no terreno nos últimos tempos, Rui Rio estaria esta segunda-feira a preparar a sua candidatura num jantar em Azeitão – segundo avançou o Expresso e confirmou o PÚBLICO – onde se esperavam figuras do PSD, como a ex-líder do partido Manuela Ferreira Leite mas também José Eduardo Martins, que foi candidato (e eleito) para a Assembleia Municipal de Lisboa, Nuno Morais Sarmento e Feliciano Barreiras Duarte, ex-chefe de gabinete de Passos Coelho.
Rui Rio pode estar pronto a avançar, mas só o fará certamente depois de Passos Coelho revelar a sua decisão sobre se é recandidato à liderança, admitiram ao PÚBLICO fontes sociais-democratas, referindo que não deverá acontecer qualquer anúncio antes da próxima semana.
Com o PSD a viver ondas de choque dos resultados de domingo, há sociais-democratas que são apoiantes de Passos Coelho e que já defendem a mudança. “O PSD não pode deixar de fazer a sua reflexão interna que passa por uma nova liderança. Passos Coelho já não tem golpe de rins para continuar”, afirmou ao PÚBLICO um dirigente e autarca social-democrata. O resultado autárquico "mau demais", nas palavras de alguns sociais-democratas, pode ser o click que pode fazer passar apoiantes de Passos Coelho para Rui Rio ou outra candidatura, apesar de ser conhecida a gratidão que o partido tem perante o actual líder por ter ganho as eleições legislativas. O momento traumático do pós-legislativas vem agora ao de cima e os sociais-democratas parecem não querer perdoar "erros" de estratégia ou de escolha de candidatos. Do lado do líder do PSD, há quem lembre que os maus resultados são também partilhados pelas distritais e que Passos Coelho não foi candidato a nada.
Outro membro do grupo de Azeitão é Ângelo Correia, que foi apoiante de Passos Coelho e que também vê a solução do futuro do PSD em Rui Rio. Mas considera que a “identidade” do partido é um dos principais problemas do PSD. “Temos de perceber o que é a social-democracia à portuguesa, como diria Sá Carneiro”, afirmou ao PÚBLICO o antigo ministro, apelando à união e ao diálogo nesta fase de disputa interna. “É preciso fazer [a mudança] com alguma dor, mas com serenidade”. com David Dinis