Os votos das câmaras perdidas pela CDU foram direitinhos para o PS
Nas nove câmaras que o PS ganhou à CDU houve uma transferência de votos directa da coligação liderada pelo PCP para os socialistas.
Na mais pesada derrota autárquica da CDU, o PS ganhou nove câmaras à coligação PCP-Os Verdes. E ganhou também milhares de votos que, na maioria dos casos, voaram directamente da CDU para os socialistas. Houve ainda outro fenómeno nestas autárquicas: sempre que abstenção diminuiu, o PS ganhou votos dos novos eleitores. A coligação liderada pelos comunistas não.
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Na mais pesada derrota autárquica da CDU, o PS ganhou nove câmaras à coligação PCP-Os Verdes. E ganhou também milhares de votos que, na maioria dos casos, voaram directamente da CDU para os socialistas. Houve ainda outro fenómeno nestas autárquicas: sempre que abstenção diminuiu, o PS ganhou votos dos novos eleitores. A coligação liderada pelos comunistas não.
Comecemos pelas duas câmaras que o PCP detinha desde 1976, com diversas coligações ao longo dos anos e com Os Verdes a partir de 1989: Almada (distrito de Setúbal); e Castro Verde (Beja).
Na autarquia ribeirinha a disputa entre PS e a coligação comandada pelo PCP foi aguerrida, com os socialistas a conseguirem a vitória por apenas 313 votos. Porém, as perdas da CDU foram elevadas, obtendo menos 2969 do que em 2013 (passou de 23.466 para 20.497). Já o PS ganhou 4924 novos eleitores (passou de 15.586 para 20.810). Há uma clara transferência de votos comunistas para os socialistas, que também foram buscar eleitores ao maior número de votantes que foram às urnas no domingo (mais 5933 do que em 2013).
Em Castro Verde (distrito de Beja), a transferência de votos da CDU para os socialistas é ainda mais clara. Os comunistas e os ecologistas passaram de 2151 votos em 2013 para 1618 no domingo. Os comunistas perderam 533 eleitores e o PS ganhou 540 (passou de 1401 para 1941). Está tudo dito.
Na cidade de Beja, a CDU pode ter perdido metade dos votos para o PS. A coligação liderada pelo PCP viu voar 1154 eleitores, passando de 7438 votos em 2013 para 6228 no domingo. Já o PS ganhou 593 eleitores – de 7135 para 7728 votos. Outra parte dos votos dos comunistas pode ter ido para o Bloco de Esquerda, que obteve 573 votos.
Em Barrancos, ainda no distrito de Beja, estavam inscritos 1366 eleitores inscritos, menos 71 do que há quatro anos, quando a CDU obteve a maioria com 611 votos. Agora, com 1105 votantes, ficou-se pelos 455, ou seja, menos 156 votos que há quatro anos. Já o PS subiu de 443 votos em 2013 para 493 no domingo (mais 50 votos). Este é outro dos casos em que os socialistas foram buscar votos à CDU, mas também à abstenção, que diminuiu.
Colado a Barrancos fica Moura. Aqui o eleitorado é mais numeroso. Foram às urnas 6727 eleitores, de um total de 12.646 inscritos. As anteriores autárquicas já tinham sido disputadíssimas, com a CDU a ganhar com apenas mais 22 votos do que os socialistas (3089 contra 3067). No domingo os socialistas deram a volta e ganharam com uma diferença de mais 606 votos (3252 contra 2646).
Continuemos no Alentejo. O Alandroal, que a CDU tinha reconquistado em 2013 ao PS, voltou agora para as mãos dos socialistas. Aqui as perdas de comunistas e ecologistas podem ter-se dividido entre PS e um movimento de cidadãos. Na única câmara a mudar de cor política no distrito de Évora, a CDU perdeu 1162 votos, relativamente a 2013 – passou de 2172 para 1010. O PS ganhou 539 – passou de 698 para 1237 – e o grupo de cidadãos (DITA) obteve 988 votos.
Voltemos ao distrito de Setúbal, onde, além de Almada, a CDU perdeu Barreiro e Alcochete. No Barreiro, a coligação encabeçada pelos comunistas perdeu 2932 votos de 2013 para 2017 (de 14.380 para 11.448). Já o PS ganha 4036 votos, uma parte à CDU, outra ao aumento do número de votantes, mais 2369 do que nas autárquicas anteriores.
Em Alcochete os votos perdidos pela CDU também parecem ter ido direitinhos para o PS. A coligação PCP-PEV perde 1164 votos (3830 em 2013, 2666 neste ano), enquanto o PS ganha 1133 eleitores (passou de 1203 para 2666). Os socialistas também podem ter ido buscar alguns votos à abstenção, que diminuiu.
Por fim, em Constância, no distrito Santarém, repetiu-se o fenómeno da perda directa da CDU para os socialistas, que ganharam também com a redução da abstenção. A CDU passou de 1080 votos em 2013 para apenas 742 no domingo (menos 338 eleitores), enquanto o PS subiu de 900 para 1295 (mais 395 votos).