Um pesadelo para o PSD, dois para Marcelo
O pesadelo do PSD é um pesadelo, agora, para Marcelo – porque um problema geracional não se resolve de um dia para o outro, provavelmente não até 2019.
Passos fica, Passos sai, pouco importa. O problema em que o PSD está metido é tão profundo que pode não se resolver nos próximos anos.
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Passos fica, Passos sai, pouco importa. O problema em que o PSD está metido é tão profundo que pode não se resolver nos próximos anos.
A primeira imagem é-nos dada pelas autárquicas: em Lisboa e Porto, o partido ficou remetido para o terceiro lugar, com uma percentagem de votos aproximada da da CDU. Das 25 maiores câmaras, o partido preserva apenas três. E nos votos contados, comparados com os de há quatro anos, o partido perde 60 mil votos (nas listas em que corre sozinho), vendo o CDS a subir mais de 40 mil. Estes resultados do PSD têm duas faces. A de Passos Coelho, um líder que não acertou com a sua nova pele de chefe da oposição. E a dos candidatos, que mostram ao que o partido se reduziu.
Agora, na linha de partida, estão Rui Rio e Luís Montenegro. O primeiro tem consigo uma parte do antigo PSD, o segundo tem o apoio do novo. O antigo perdeu o partido e o país há uns anos, o novo perdeu os dois agora. Na sala de espera há bons pensadores sem aparelho (Rangel, Pedro Duarte, Eduardo Martins) e também há tropas sem pensamento.
O PSD falhou sobretudo foi na requalificação. Foi na criação de caras novas. Foi fazer o que Paulo Portas fez no CDS, “criando” Cristas que suplantou o criador; foi fazer o que Costa fez no PS, puxando por Medina, Pedro Nuno Santos ou Duarte Cordeiro. Um dia, o partido será deles.
O pesadelo do PSD é um pesadelo, agora, para Marcelo — porque um problema geracional não se resolve de um dia para o outro, provavelmente não até 2019. E porque, com esta vitória, já deixou de ser impossível ao PS chegar a uma maioria absoluta nas próximas legislativas. Costa teve agora 38%, ganhando 200 mil votos face a 2015. E, pergunto agora: qual é o Presidente que quer ter um governo com maioria, perdendo com isso espaço de influência? Mas esse é o problema para 2019. Para hoje, Marcelo tem um quid pro quo pela frente: como segurar a estabilidade à esquerda depois dos resultados de domingo. O PCP ficou reduzido a 24 câmaras, o seu pior resultado de sempre. O Bloco teve uma pequena vitória (Lisboa) para várias derrotas, ficando apenas com um par de “geringonças” locais para tentar influenciar. Com um Orçamento pela frente, vai ser mais difícil a Jerónimo ceder. Será preciso um prémio — mas mesmo esse será sempre de consolação.
Some, portanto, os factores: o PSD em queda, sem uma liderança unificadora e em tempos de crescimento económico; uma esquerda em desequilíbrio, a olhar para o que será daqui a dois anos. Para Belém, as autárquicas não foram muito amigas. E agora, professor?
david.dinis@publico.pt