“Um marco para a humanidade”
Professor e cientista do Centro Multidisciplinar de Astrofísica do Instituto Superior Técnico, em Lisboa, Vítor Cardoso, de 42 anos, investiga os buracos negros e as ondas gravitacionais. Durante oito anos, até 2015, participou no observatório LIGO, nos EUA, que veio a detectar as primeiras ondas gravitacionais. Agora está ligado à Laser Interferometer Space Antenna (LISA), um observatório aprovada pela Agência Espacial Europeia em 2017 e que vai para o espaço por volta de 2030, e é o representante nacional neste consórcio.
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Professor e cientista do Centro Multidisciplinar de Astrofísica do Instituto Superior Técnico, em Lisboa, Vítor Cardoso, de 42 anos, investiga os buracos negros e as ondas gravitacionais. Durante oito anos, até 2015, participou no observatório LIGO, nos EUA, que veio a detectar as primeiras ondas gravitacionais. Agora está ligado à Laser Interferometer Space Antenna (LISA), um observatório aprovada pela Agência Espacial Europeia em 2017 e que vai para o espaço por volta de 2030, e é o representante nacional neste consórcio.
Quando a primeira detecção das ondas gravitacionais foi anunciada em Fevereiro de 2016, disse que esse era o acontecimento do último século em ciência. Este Nobel da Física significa que já não há dúvidas de que existem estas ondas?
Exactamente. Este é o anúncio oficial de que ondas gravitacionais existem e foram vistas, directamente, cá na Terra. Este anúncio é mais um marco para a humanidade. Tal como ver as luas de Júpiter, ou saber que a Terra anda à volta do Sol. Agora deixamos um legado para todos os que vêm depois: existem ondas gravitacionais, e elas propagam-se à velocidade da luz pelo nosso Universo.
O que têm de especial as ondas gravitacionais, conhecidas por “mensageiras de Einstein”? Ou seja, por que são tão importantes?
São importantes porque eram uma previsão não testada de uma teoria magnífica, a teoria de Einstein. Mas sobretudo porque nos vão dar uma nova forma de entender o Universo: estas ondas são emitidas sobretudo por buracos negros e estrelas de neutrões, objectos que praticamente não conhecemos. Os buracos negros existem mesmo? Os buracos negros são mesmo negros? Qual o estado da matéria no coração de estrelas de neutrões (onde uma colher de chá pesa tanto quanto a serra da estrela)? A mecânica quântica tem algum papel nas colisões de buracos negros?
Conseguimos ter pistas da gravitação quântica nestas ondas? Há décadas que procuramos a resposta a estas questões. E agora, finalmente, vamos poder encontrar algumas respostas.
Por que foi tão difícil detectá-las?
Bem, a questão poderia ser posta de outra forma: porque é tão fácil “ver” a luz? A razão, creio eu, é que a vida na Terra se desenvolveu baseada na fonte de energia que é o Sol. Por isso os nossos olhos são boas antenas de luz (ondas electromagnéticas). As ondas gravitacionais são difíceis de detectar porque nunca precisamos realmente delas. A outra face da mesma questão é que uma onda gravitacional tem um efeito diminuto quando passa: tipicamente, quando a onda passa na Terra, o efeito é fazer variar o tamanho das coisas, mas por uma fracção do tamanho do electrão! Foi necessário desenvolver uma quantidade de tecnologia para amplificar este efeito diminuto, e foi também essa tecnologia que foi premiada pelo Nobel, juntamente com toda a teoria e cálculos das últimas décadas, necessários para entender as próprias equações de Einstein. Por isso, parabéns aos laureados e parabéns a todos nós, conseguimos!